Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Quando o vinho é mais do que prazer…
E nunca se sabe tudo sobre ele
Completamos hoje o que começámos na semana passada. O jargão do vinho está repleto de ideias feitas, manias e tendências. Muitas delas são exibidas em público à laia de conhecimento profundo do tema «vinho». Quase nunca é assim e por isso aqui ficam mais algumas tontices que é melhor evitar.
Não bebo vinhos doces!…Pois faz muito mal porque isso significa que lhe vão passar ao lado alguns dos grandes vinhos do Mundo, como Porto, Madeira, Moscatel, Tokai ou Sauternes, só para citar alguns. O grau de doçura pode variar imenso, desde o muito ligeiro até ao superdoce. O que é preciso é que haja equilíbrio no vinho e, sobretudo, que se consiga uma boa ligação com o prato, seja ele de entrada, de sobremesa ou outro.
Este vinho cheira a TSF… Dizia, com ar entendido, um comensal num restaurante, quando queria dizer TCA (tricloroanisol), o composto responsável pelo famigerado cheiro a rolha. A gradação deste defeito pode variar desde o quase imperceptível até ao detestável. Há pessoas mais sensíveis que outras e a única solução (se for possível) é abrir outra garrafa igual e depois comparar os aromas dos dois copos. Assim aprende-se mais facilmente a diferença entre um vinho limpo e outro contaminado. E o problema, infelizmente, ainda não está tecnicamente resolvido. E a TSF não tem culpas no cartório!
Vinhos Verdes com gás? Nem pensar!… A região é muito extensa, tem muitas castas e tem muitos perfis de vinho. O Vinho Verde com algum gás é muito tradicional e ajuda imenso os vinhos cujas castas são menos ricas e aromáticas. O gás (na medida certa) não altera o vinho e pode alegrar a prova. O mesmo acontece com alguns rosés que, ainda que secos, não saem prejudicados por terem algum gás que é, nos dois casos, sempre adicionado.
Prefiro a salinidade… Até há pouco tempo o descritor que estava mais em voga era a mineralidade e todos descobriam este e aquele mineral no vinho; agora é a salinidade. Se entendermos o conceito como estando relacionado com alguma influência marítima, então talvez seja aplicável nos Açores e Madeira. Quer na salinidade quer na mineralidade, o que marca esse tipo de vinhos é a acidez pronunciada que pode influenciar a prova em maior ou menor grau. Mas fica sempre bem ouvir o conceito numa roda de amigos.
Só quero vinhos sem sulfitos… Provavelmente quem afirma isto é capaz de estar com uma cerveja na mão e a comer amendoins que, no conjunto, têm muito mais sulfitos que o vinho. Os sulfitos protegem o vinho e permitem-lhe viver bem em garrafa. Usado com parcimónia é um conservante indispensável e que não afecta a prova. Não o usar pode alegrar alguns grupos de consumidores ditos «radicais» mas, uma vez que os substitutos estão ainda à espera de provarem serem válidos, é mais seguro não arriscar. Só quer fazer 500 garrafas? Ok, então não há qualquer problema, a perda também não é grande.
Além do bacalhau os tintos não são para peixe… A produção actual contempla imensos tintos que apresentam pouca cor, pouca concentração e que resultam melhor ligeiramente refrescados, ou seja, muito próximos do perfil de muitos brancos. Ainda que seja uma ideia muito arreigada, vale a pena arriscar e descobrir que, afinal, os tintos também se ligam bem ao peixe. No fim de tudo o vinho deve ser uma fonte de prazer, convívio e amizade. Essa é a nossa aposta.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Espumante Monge Reserva Bruto 2015
Região: DOC do Tejo
Produtor: Quinta do Casal Branco
Casta: Castelão
Enologia: Manuel Lobo e Joana Silva Lopes
PVP: €30
Esta foi a primeira marca certificada de um espumante da região. A vinha tem 60 anos e o vinho, feito pelo método clássico da segunda fermentação em garrafa, esteve 60 meses a estagiar em cave. 1000 garrafas produzidas
Dica: é um branco de uvas tintas (também chamado Blanc de Noirs). Perfil a lembrar Champagne com boas notas de brioche, uma óptima acidez que permite uma prova quer como aperitivo quer à mesa.
Pessegueiro Vinha da Afurada Reserva branco 2019
Região: Douro
Produtor: Quinta do Pessegueiro
Castas: Rabigato e Viosinho
Enologia: João Nicolau de Almeida
PVP: €19,50
A vinha foi plantada em 2011 e está a cerca de 550 metros de altitude. O vinho teve 32 meses de estágio, dos quais 16 em barrica sobre as borras finas
Dica: requer decantação para ultrapassar as notas de fósforo queimado que apresentava, mais forte numa das duas garrafas provadas. A fruta é de boa qualidade e há um perfeito balanço entre corpo, acidez e madeira. Bem arejado será um sucesso.
Encontro 1 tinto 2014
Região: Bairrada
Produtor: Quinta do Encontro
Castas: Baga e Touriga Nacional
Enologia: Osvaldo Amado
PVP: €50
Após a fermentação ficou dois meses em contacto com as películas (cuvaison) e teve posterior estágio de 18 meses em barricas novas e usadas.
Dica: a ligação das duas castas funciona muito bem, num registo denso, concentrado, assente nas frutas negras e na tosta da madeira. Tinto invernoso.
Concordo em peso, conta e medida!