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A acabar o ano dos perigos todos

Os vinhos que salvem a crise, é o que se pede

É muito complicado falar sobre o ano de 2022 sem ter sempre presente o que nos caiu em cima sem que ninguém esperasse. De repente ficámos todos super informados sobre a geografia da Ucrânia, sabemos quase tudo sobre mísseis e andamos todos a roer as unhas à conta da inflação, fenómeno que muitos já tinham esquecido. Estou no contingente geral: não sabia onde era Mariupol, pensava que os Patriot eram brinquedos (perigosos) do tempo da guerra do Iraque e que agora a conversa seria outra. Parece que não. No caso dos vinhos, dizer que o ano de 22 foi atípico é elementar: tudo correu mal até que as vinhas nos vieram recordar que têm mais capacidade de resistência do que nós poderíamos imaginar. Foi assim que, sem chuva, com calor a mais e com todas as condições possíveis para que a vindima fosse um desastre, eis senão quando afinal vai ser possível encontrar coisas boas (alguns brancos já os provei) e, quem sabe, se não será ano de Porto vintage. As vinhas, sobretudo as velhas, sabem muito mais do que nós imaginamos, andam «nisto» há milhares de anos e nós só há 60 descobrimos que há uns bichos que são leveduras e outros que são bactérias. Temos muito ainda que penar…
Como é evidente, o final do ano e o começo de um novo deve ser devidamente assinalado com umas bolhas. Para quem as tiver em casa, as garrafas de Champagne são chamadas à boca do palco. É nesta noite que «voam» grande parte dos 300 milhões de garrafas que a região francesa coloca por ano no mercado. Já o disse várias vezes, é caso para tirar o chapéu aos franceses que conseguiram elevar o Champagne à bebida de celebração por excelência. Mas, bebidas com bolhas produzem-se no mundo todo (e na Crimeia também, já agora…), e em Portugal foi nos finais do século XIX que se fizeram as primeiras experiências de espumantização. O espumante que sugiro hoje é especial: feito com Pinot Noir e Chardonnay, a dupla clássica de Champagne, é um vinho de excepcional qualidade que pode rivalizar com muito champanhe. Já leva uns bons anos de vida, o que significa que «dormiu» longamente nas caves antes de levar a rolha de cortiça e essa dormência foi condição sine qua non para que se conseguisse obter um vinho com esta finesse. Claramente vocacionado para ser consumido a solo, pode também ser perfeito parceiro para umas ostras ou para peixes fumados servidos em canapés. O tinto tem origem na Gricha, uma bela propriedade situada na margem sul do Douro, um pouco acima do Pinhão. Ali, e de uma única parcela, fez-se um vinho de Touriga Nacional com quantidades que variam todos os anos uma vez que «a vinha é que nos diz quanto quer produzir e a variação vai desde as 2 000 até às 4 000 garrafas», diz-nos Johnny Graham, o CEO da empresa. Tratando-se de vinhas com muita personalidade não podemos exigir mais, é o que elas quiserem. O branco nasceu em Mértola, terra de calores abrasadores mas onde se conseguiu fazer este branco, invernoso mas com muita personalidade.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Murganheira Millésime 2011
Região: Távora-Varosa
Produtor: Caves da Murganheira
Castas: Pinot Noir e Chardonnay
Enologia: Marta Lourenço/Orlando Lourenço
PVP: €26
O vinho apresenta numa forma magnífica, com muito delicadeza de fruta, com elegância de conjunto, com a acidez perfeita. O trabalho de espumantização foi, aqui, notável.
Dica: não é vinho de guarda, é agora que ele está no melhor momento e, com o preço ajuizado que tem, não há razão para não celebrar com ele a chegado de 2023.

Quinta da Gricha Talhão 8 tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Churchill Graham
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Ricardo Nunes
PVP: €45
Este é o talhão de Touriga Nacional da quinta. Nesta colheita originou 1700 garrafas. É um tinto de rara delicadeza, sério e ainda austero mas que mostra muito boa aptidão para brilhar à mesa.
Dica: deixe-se tentar com as carnes vermelhas malpassadas ou com estufados de borrego. Se for apreciador, a caça será uma boa sugestão.

Grande Discórdia Grande Reserva branco 2020
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Edual
Casta: Arinto
Enologia: Filipe Sevinate Pinto
PVP: €34
Tem origem no Alentejo profundo numa propriedade que aposta na caça e no plantio de medronheiros em larga escala. Este fermentou e estagiou em barrica. Produção limitada a 820 garrafas.
Dica: volumoso, cheio, com bom diálogo entre fruta e madeira. Austero, de recorte mineral com fundo cítrico, bom para queijos de pasta mole, por exemplo.

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