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Mesmo em cima da hora

Algumas indicações finais para que tudo corra bem

É já amanhã a noite da consoada e, no dia logo a seguir, é provável que de reproduza La Grande Bouffe, ainda que em versão caseira. O facto de se comer em excesso e de se beber uns copos a mais, não significa que os mais elementares procedimentos de serviço não sejam cumpridos. Refiro-me, naturalmente aos vinhos, a parte verdadeiramente intelectual da refeição. O mais provável é que o enófilo, no desejo de tudo servir como é suposto, coloque com antecedência os brancos e os espumantes no frigorífico, deixando que, para os tintos, o frio exterior seja o suficiente para termos os tintos à temperatura certa. Isto, claro, porque o tempo dos tintos à lareira já lá vai há muito. No tema específico dos brancos há um erro frequentemente cometido, ainda que a intenção tenha sido boa. Explico-me: os bancos só devem ir para o frigorífico depois de terem sido previamente abertos e provados. A razão é prosaica mas verdadeira: o frio do frigorífico tende a tapar alguns defeitos, nomeadamente o famigerado «cheiro a rolha». Esse defeito, que inexoravelmente condena o vinho à ruína, é muito mais fácil de detectar se o vinho estiver a uma temperatura mais elevada, digamos, à temperatura ambiente. O procedimento correcto é então deitar um pouco de vinho num copo, agitar e cheirar e, se for necessário, provar o vinho para termos a certeza que tudo está ok. Devo confessar que aprendi esta regra depois de muita asneira, quando só provava o vinho quando o tirava do frio. Acontece que se o teor de cheiro a rolha for incipiente, só se dá por ele quando a temperatura sobe com o vinho no copo. Aí é tarde de mais e depois fica tudo mais atrapalhado. A regra é também válida para os tintos, sejam eles decantados para um jarro bonito, sejam depois colocados de novo na garrafa, após a decantação e lavagem da garrafa. É bom nunca ir para a mesa com dúvidas por esclarecer sobre a saúde dos vinhos. Recordemos que os tintos novos podem não necessitar de decantação mas com 7 ou mais anos, é normal que se comece a criar depósito na garrafa (no fundo ou nas paredes) e por isso a decantação é obrigatória. Para estas tarefas é fundamental ter, além do saca-rolhas normal, o outro já por vezes aqui referido, o chamado saca-rolhas de lâminas, indispensável sempre que sentimos que, com o «normal» a rolha não quer sair por estar colada ao gargalo. Neste caso o modelo das duas lâminas é absolutamente imprescindível. É óbvio que poderá tratar deste assunto de véspera porque o vinho branco não será decantado e, a pequena quantidade que usou para fazer o teste, volta para dentro da garrafa, põe-se a rolha e temos assunto encerrado. Já no caso dos tintos é melhor só tratar deles no próprio dia. É que a decantação, com o arejamento a ela associado, pode não trazer grande saúde ao vinho. Este é um tema muito controverso porque alguns vinhos beneficiam com a decantação mas outros perdem qualidades. Não há regra que se possa enunciar, é mesmo caso a caso e por isso é melhor não arriscar. Se ao abrir a garrafa e provar e sentir o vinho «no ponto», não decante. Se encontrar um aroma menos limpo, algo «preso» e que não corresponde à ideia que tinha do vinho, então nesse caso pode decantar com antecedência. Boas provas e grande convívio são os meus votos.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Poças Branco da Ribeira branco 2021
Região: Douro
Produtor: Manoel Poças Júnior
Castas: Arinto (75%) e Códega
Enologia: André Barbosa
PVP: €55
As uvas vêm da ribeira da Teja (Douro Superior). A vinha tem 20 anos de idade e é uma parcela da quinta Vale de Cavalos. O vinho fermenta e estagia em madeira nova.
Dica: leve nota de cheiro a pólvora dá-lhe um carácter austero que fica bem. Muito bom o diálogo entre a fruta citrina e a barrica, com belíssima acidez.

José de Sousa Reserva tinto 2018
Região: Reg. Alentejano
Produtor: José Maria da Fonseca
Castas: Grand Noir (50%), Aragonez e Syrah
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
PVP: €19
A variedade Grand Noir tem muita tradição nesta casa e também na região de Portalegre. O vinho estagia por 8 meses em barricas de carvalho.
Dica: muito bom o desenho de conjunto, com bom diálogo entre a fruta e a barrica, um todo que se mostra com clara vocação gastronómica, sobretudo para a culinária regional.

Porto Sandeman LBV Unfiltered 2017
Região: Douro
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: várias, dominando a Touriga Francesa
Enologia: equipa dirigida por Luis Sottomayor
PVP: €18
Feito na Quinta do Seixo (Pinhão) com uvas próprias e compradas a lavradores. Fermentação em lagar com pisa. Estágio de 4 anos em balseiro. Engarrafado sem filtração gera por isso, com a idade, depósito na garrafa. Pode beber-se durante um mês após abertura.
Dica: apresenta-se austero e fechado mas depois mostra-se generoso, macio e muito envolvente na prova de boca. A desfrutar desde já.

 

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