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Brancos invernosos e tintos de aconchego

Melhor ainda se o Natal for friorento

Com a aproximação das festividades natalícias é bom pensar nos vinhos a servir, com alguma antecedência. O facto dos menus estarem de há muito escolhidos – somos muito conservadores nesta matéria – permite ao apreciador tomar decisões com tempo e sem stress. Já sabemos que não andará muito longe de pratos de bacalhau, polvo (sobretudo no Norte), cabritos, perus e borregos ou outros assados de forno, um pouco pelo país todo. As dúvidas podem colocar-se na escolha de vinhos que possam servir tanto os pratos de peixe como as carnes. Desde há muito que os consumidores se habituaram a designações como «brancos de inverno» e/ou «tintos de conforto». Nos temas da mesa, a actual «comida de conforto» substitui a antiga designação de «comida caseira», algo difuso que nos remetia para as receitas familiares, muitas vezes passadas de geração em geração. São as receitas onde não entram toda a parafernália de produtos que agora nos são familiares no supermercado e onde os temperos são simples: algumas ervas aromáticas, algumas especiarias, tudo simples que brilha pela qualidade do produto que era, lembremo-nos, sempre sazonal. Nesta época parece que queremos mesmo, e só, o que a memória de infância nos traz. Já no caso dos vinhos, a designação «caseiro» ou «do lavrador» não gera um consenso tão amplo. Como sabemos, os vinhos do lavrador, pouco protegidos e feitos com pouco apuro técnico, tendem sempre a ter vida curta. É claro que continuam a ser «do lavrador», mas daí não vem qualquer mais-valia. Já só alguns idealistas continuam a achar que o vinho do lavrador é o puro. Passemos adiante. Regressando às escolhas, os brancos que podem acompanhar carnes e peixes são sempre vinhos mais encorpados, alguns feitos com curtimenta (fermentados com as películas), com estágio em madeira ou que resultam de um lote de várias colheitas. Para esta semana escolhi uma novidade da empresa Caminhos Cruzados. Trata-se de um branco sem data porque resulta de um lote de várias colheitas, no caso, 2016, 17 e 18. Na enologia pontifica Manuel Vieira, enólogo que criou este modelo na quinta dos Carvalhais com o Branco Especial, modelo que aqui é reproduzido. O conceito é tão válido e tão interessante que tem sido replicado por muitos produtores, quase sempre com muito bons resultados. É claramente um branco invernoso. Outra modalidade de branco é o estagiado em madeira. Para que não se transforme num «destilado de carvalho», o vinho a estagiar tem de ser já de si bem encorpado e cheio para que, depois, resulte com bom equilíbrio final. É o caso do Garrafeira da Aldeia de Cima, um alentejano da Vidigueira, cheio de carácter. Ambos são vinhos que devem ser bebidos a uma temperatura de cerca de 12º. Há muitos vinhos com este perfil, alguns sem madeira nova mas estagiados em balseiro (como na quinta das Bágeiras) e, desta forma, o conselho junto do vendedor pode ajudar-nos nas escolhas. O tinto é um grande vinho, a mostrar que, com mestria, se podem usar uvas de vinhas velhas para criar um vinho que não desdenharíamos em colocar à compita com outros tintos do mundo. É provável que ainda se encontrem no mercado colheitas anteriores e o 2012, por exemplo, mostrou-se grandioso há apenas uma semana.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Vinhas da Teixuga branco s/ data
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Castas: Encruzado salpicado com outras
Enologia: Manuel Vieira e Carlos Magalhães
PVP: €30
Desta vinha sai também o topo de gama da empresa. A fermentação inicia-se em inox e termina na barrica. Produção limitada a 3500 garrafas.
Dica: grande branco a lembrar um Borgonha Grand Cru pela concentração, pela robustez e pela riqueza. Uma surpresa e tanto.

Herdade Aldeia de Cima Garrafeira branco 2020
Região: Alentejo – Vidigueira
Produtor: Herdade Aldeia de Cima
Castas: Antão Vaz (70%), Arinto (15%), Perrum e Alvarinho
Enologia: Jorge Alves e António Cavalheiro
PVP: €42
Produção de 5644 garrafas e 115 magnuns. Estagia 9 meses em balseiros e 16 em garrafa. Da fermentação em madeira resulta um branco bem carregado na cor, volumoso e a sugerir já evolução.
Dica: muito surpreendente na boca, fruta bem madura, acidez notável a equilibrar o conjunto. Se há brancos de inverno, este é um deles.

Villa Oliveira Vinha das Pedras Altas tinto 2015

Região: Dão
Produtor: Casa da Passarella
Castas: misturadas na vinha
Enologia: Paulo Nunes
PVP: €55
Belo exemplar dos tintos do Dão que junta castas antigas em vinhas velhas, resultando um tinto que é, realmente, de conforto, cheio mas aveludado, com nervo e muitos anos pela frente. Feito em cuba de cimento, 18 meses em barrica.
Dica: complexo e rico, um tinto que nos alegra a alma. Seja ela natalícia ou não. Melhor apreciado, se for em petit comité.

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