Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
Apontamentos de Setembro
A coisa aqui tá preta, como dia Chico Buarque
Quando escrevo este texto anuncia-se tempestade da grossa para a semana que entra. Depois de tantos meses sem água, qualquer enxurrada traz mais prejuízos que vantagens. Como falei em anteriores crónicas, a necessidade de água nas adegas é enorme e vital na altura da vindima. Mas não é uma água qualquer porque não se devem lavar cubas e lagares com água da rede, cheia de cloro, ou mesmo qualquer água de rio (onde tal for possível) porque é indispensável que a água usada seja limpa, mas o mais neutra possível. Uma empresa do Douro estava, quando visitámos a quinta, a trazer água de Vila Nova de Gaia em camiões cisterna de 18 000 litros cada. Esta quantidade será uma gota se pensarmos, como já dissemos também, que se gasta três vezes mais água do que o vinho que no final se produz. As uvas, essas, coitadas, estão raquíticas, com pouco sumo e muito, mas mesmo muito desequilibradas, com acidez baixíssima. Um conjunto alarmante de factores negativos que condicionarão, naturalmente, o resultado final da vindima. É também verdade que quem lida com centenas de hectares de vinha, encontrará sempre, aqui e ali, uma ou outra parcela que dará origem as boas uvas mas a fraca qualidade é geral. Haverá com certeza alguns produtores a afinar já o discurso final para o «ah e tal, afinal correu bem» mas 2022 não vai seguramente ficar na memória por boas razões.
Nas provas que tenho feito recentemente ressalta, nomeadamente em relação a vinhos do Douro de gama média/alta, a necessidade de dar tempo ao vinho, uma vez que ele precisa desesperadamente de descansar em cave. Não só este Carvalhas de que hoje falo mas também um Poeira 2009 bebido há poucas semanas e um Maritávora Grande Reserva branco 2010. Três exemplos com um denominador comum; foram bebidos passados pelo menos 10 anos sobre a data da colheita. À força de os beberem em novos, por terem receio que não evoluam bem, muitos consumidores acabarão por «despachar» o stock antes ainda dos vinhos atingirem o seu melhor patamar. É verdade que as rolhas nem sempre nos permitem ter a segurança que o vinho esteja em boas condições (e o problema persiste, por muito que se diga e fale na solução do mesmo) mas é também verdade que são os vinhos conservados em boas condições térmicas que melhor se mostram passados vários anos. Se não dispomos de uma cave térmica é mesmo aconselhável não guardar vinhos durante muito anos. Eles até ainda podem estar vivos mas apresentar-se-ão sem brilho e energia. O Maritávora – oriundo da zona de Freixo de Espada à Cinta – é um dos grandes brancos do Douro, ainda que pouco falado e afastado das luzes da ribalta mas é um belíssimo branco de vinhas velhas. Bem mais novo mas também nascido em velhas parcelas da serra de São Mamede, trazemos o Quartzo, um dos brancos do portefólio de João Afonso. Quando chegar a hora do lavar dos cestos (espera-se que haja água para isso) faremos então um balanço mais detalhado. Seguramente a colheita exigirá muito dos enólogos. Os que tiveram boa nota na cadeira de malabarismo estarão, seguramente, mais à vontade. Os outros…
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Quartzo branco 2018
Região: Alentejo – Portalegre
Produtor: Cabeças do Reguengo
Castas: misturadas na vinha velha
Enologia: João Afonso
PVP: €26
Vinho de uma única parcela a 700 m de altitude, com idade superior a 40 anos. Fermenta em tonel e estagia sobre borras. Engarrafado sem filtração.
Dica: no seu melhor momento, temos um branco de acidez bem integrada, de recorte mineral e com elevado sentido gastronómico. A conhecer.
Valados de Melgaço Reserva branco 2021
Região: Monção e Melgaço
Produtor: Artur Meleiro
Casta: Alvarinho
Enologia: Fernando Moura/José António Gonçalves
PVP: €18
Este produtor surgiu em 2013 e a produção varia actualmente entre 30 e 50 000 garrafas. Tem também a marca Quinta do Golães.
Dica: com a frescura ácida que tem, temos vinho para vários anos e merece ser conservado em cave. Prove e aprecie agora o lado de pedra molhada e de fruta citrina.
Carvalhas tinto 2010
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Castas: misturadas em vinha velha
Enologia: Jorge Moreira
PVP: €60
A quinta das Carvalhas fica junto ao Pinhão e estende-se por uma área muito grande com muitas orientações e altitude das vinhas. É esta variedade que permite depois escolher as melhores parcelas.
Dica: um grande, grande tinto, ainda em fase ascendente, mas já a dar uma óptima prova. Merece ser consumido com atenção, é um vinho requintado e de rara complexidade.
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