Devagar que tenho pressa Quando assistimos ao arranque de um novo projecto de vinhos, sobretudo…
Produção sofre
E ainda assim surgem projectos novos
1. O país agrícola acaba de atravessar uma canícula severa, daquelas que dão cado de quase tudo. Os produtores de uva estão habituados, com alguma frequência, a este fenómeno, a que chamam escaldão. As uvas, sobretudo as que estivem mais expostas ao sol ficam totalmente queimadas e nada se pode aproveitar. O aspecto é semelhante àquele que a geada provoca e a vindima fica muito prejudicada, para não dizer anulada. Sobretudo nas zonas mais quentes onde este escaldão é previsível, os produtores encontraram formas de contornar a situação, gerindo a folhagem da videira de modo a que se protejam os jovens cachos. Eu próprio observei, na semana passada no Alentejo, a situação de, na mesma cepa, haver cachos secos e engelhados e outros com ar saudável por estarem protegidos pelas folhas. No Douro, e nas cotas baixas, a Touriga Nacional não aguentou tanto calor e a perda é muito significativa. Estamos assim no primeiro grande acidente climático que pode condicionar a próxima vindima. Até aqui, além do problema da seca, estava tudo a correr bem de mais: nascença óptima, pouca ou nenhuma incidência das mais violentas doenças da vinha (míldio e oídio) e aqui e ali os azares do costume (granizo, traça, etc). O que se espera agora é que «para desgraças, já chega» mas é cedo para festejar.
2. Apesar das desgraças e das dificuldades do negócio, a verdade é que estão sempre a surgir novos projectos, de dimensão variada, mas que denotam o entusiasmo que a produção de vinho suscita junto de novos aventureiros. É o caso dos três produtores de que falo esta semana. O projecto LV sem na sequência de outro existente no Alentejo, em Évora (Perescuma) e que já estava ligado à família; já tinha adega, tem muita capacidade de vinificação instalada e muita área de vinha à disposição. Trata-se agora de reconverter, de reposicionar a marca, de criar novos vinhos. A mão segura de Manuel Lobo (Qta. do Crasto e Qta. do Casal Branco) é garantia da qualidade que dali sairá. A Quinta das Murgas, em Bucelas, já fez parte do património de Sérgio Barba, avô do actual proprietário; era um empresário de sucesso (aviários do Freixial e introdutor da Coca Cola em Portugal) que nesta zona tinha mais de 300 ha de terra. Esta quinta das Murgas era uma das quintas (actualmente com 40 ha e 12 de vinha) e outra era a Quinta do Avelar, também produtora de vinho. O projecto tem muitas valências e muito entusiasmo da equipa, condição sine qua non para tudo dar certo. A aposta na Arinto (casta que «nasceu» em Bucelas) é bem justificada e os vinhos têm belíssima definição. Terra Chama é o nome que reflecte o que aconteceu ao produtor: veio de outra área e sentiu o apelo da terra que sempre conheceu. Surge com três vinhos, todos de grande gabarito e a casta Encruzado brilha aqui bem alto, ajudada também por uma apresentação sóbria mas de grande qualidade (pormenor frequentemente esquecido mas de vital importância).
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Murgas branco 2018
Região: Bucelas
Produtor: João França
Casta: Arinto
Enologia: Bernardo Cabral
PVP: €14,80
A vinha também contempla outras castas que no futuro poderão entrar no lote, como Esgana Cão, também ela casta típica da região.
Dica: um branco de grande frescura que nos prepara para grande colheita de 2019 que se avizinha.
Terra Chama Grande Reserva branco 2020
Região: Dão (Silgueiros)
Produtor: Phructuoso Wines
Casta: Encruzado
Enologia: Vines & Wines
PVP: €32
As vinhas ocupam 4,5 ha. Fermentação em inox e barrica de 3ª utilização. Fizeram-se 2900 garrafas. Existe também um rosé e um tinto de Touriga Nacional.
Dica: muito fino, fruta suave, um vinho de rara delicadeza. Um Borgonha à portuguesa, objectivo que esta casta cumpre, bem melhor que outras.
LV Lobo de Vasconcellos tinto 2019
Região: Regional Alentejano
Produtor: Lobo de Vasconcellos
Castas: Syrah, Touriga Nacional e Alicante Bouschet
Enologia: Manuel Lobo Vasconcellos
PVP: €9,90
Deste vinho fizeram-se 28 000 garrafas. Fermentado em inox, teve depois estágio parcial em barrica de 2ª e 3ªutilização. Pleno de fruta jovem, a madeira ajuda a uma boa evolução em cave. Existe em versão branco e Reserva branco e tinto.
Dica: muito bom balanço entre taninos, acidez e corpo, um tinto acessível no estilo e muito atractivo. Um verdadeiro tinto glu-glu.
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