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A informação que precisamos

Rever o paleio dos contra-rótulos seria útil

Para que serve um conta-rótulo? Se se perguntar a um francês, sobretudo da região de Bordéus, ele irá dizer que não serve para nada, exactamente porque a esmagadora maioria dos vinhos não os utiliza nas garrafas. Há menções obrigatórias que têm de vir nas garrafas, como a indicações geográfica, a graduação, a capacidade da garrafa e, se se indicar castas, estas têm de ser enunciadas por ordem, começando pela que está em maior percentagem no lote. Qual é o rótulo e o contra-rótulo? A pergunta parece descabida mas, há uns anos, um produtor alentejano «deu a volta» ao texto de forma curiosa: perante a regra de incluir no rótulo as informações legais obrigatórias, o produtor colocou tudo isso naquilo a que chamou «rótulo» e chamou contra-rótulo a um pequeno quadrado de papel onde vinha apenas o nome do vinho e o ano. Para qualquer consumidor «aquele» é que era o rótulo. Não havia contestação possível pela Comissão Vitivinícola! Queremos informação mas queremos que seja útil e interessante, sem rodriguinhos. Relembro um produtor que indicava as percentagens das castas até às centésimas, 37,25% de Touriga Nacional e 24,12% de Aragonez e por aí fora. Útil? Duvido. Ficarmos a saber que as barricas são de carvalho húngaro com os tampos em acácia também não nos alegra muito, se tal não é perceptível no vinho. Felizmente estão em desuso os textos que entravam em delírios poéticos de matriz rural, ou mesmo os mais inusitados, do tipo «sente-se que vai provar um dos melhores VQPRD do mundo», ou o mais original que alguma vez li e que pertencia a um produtor do Douro que, do seu vinho, escrevia no contra-rótulo: «caso já existisse, seria com certeza o vinho escolhido para a última ceia!». Palavras para quê?
Há algumas indicações básicas que, se forem fornecidas com critério e seriedade, podem ser úteis ao comprador/consumidor: uma é o perfil do vinho – se é mais ligeiro ou encorpado – e a partir daí dar uma indicação de consumo, se ligará melhor com pratos mais leves ou mais temperados; isso pode facilitar a compra em função da ideia que o consumidor tem na cabeça. Outra ideia fundamental é dar a quem compra uma sugestão sobre o que esperar do vinho em termos de longevidade, se ele deverá ser consumido desde já ou guardado ainda uns anos, em função dos taninos e da acidez. A área e idade da vinha e o número de garrafas produzidas também podem ser úteis, tal como a temperatura de serviço. Outras indicações, que começamos a ver com frequência, são difíceis de detectar na prova. Dizer que o vinho é Bio, ou que usou leveduras indígenas, ou que não foi colado, ou que é vegan, ou que respeita o terroir, nada o consumidor pode confirmar ao beber o vinho. Este registo obriga quem compra a acreditar, se quiser, naquela informação, já que as uvas, como que subordinadas a uma omertà, teimam em não falar, por muito que sejam sujeitas a tortura. É que nem com uma prensa em cima a esmagá-las se resolvem a revelar tudo o que sabem.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Espumante Herdade do Rocim Grande Reserva rosé 2017
Região: IG Alentejano
Produtor: Rocim
Castas: Touriga Nacional e 2% de Arinto
Enologia: Catarina Vieira/Pedro Ribeiro
PVP: €31,50
Produzidas 2347 garrafas. A tonalidade rosé é muito suave, quase a lembrar um branco muito maduro.
Dica: é claramente um espumante para a mesa. Acompanhou muito bem uma refeição de inspiração japonesa, fresco, encorpado mas com bom equilíbrio.

Colecção Privada DSF roxo rosé 2021
Região: Reg. Pen. Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Casta: Moscatel Roxo
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
PVP: €9,90
Depois de ultrapassado o perigo de extinção, esta casta conhece hoje um bom momento na região, com a área de vinha aumentar significativamente. Edição limitada a 15 885 garrafas.
Dica: muito fiel à casta, temos um rosé muito agradável, quer para aperitivo quer para pratos leves. Acompanhou muito bem uma tarde de frango.

Vallado Touriga Nacional tinto 2019
Região: Douro
Produtor: Quinta do Vallado
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Francisco Ferreira/Francisco Olazabal
PVP: €20,60
A quinta fica situada perto da Régua e, no séc. XIX, pertenceu a Dona Antónia, estando hoje na posse dos herdeiros.
Dica: bom equilíbrio entre concentração, fruta, madeira e um lado mais químico e floral. Dá muito boa prova à mesa mas, com o tempo quente, tem de passar pelo frigorífico.

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