Devagar que tenho pressa Quando assistimos ao arranque de um novo projecto de vinhos, sobretudo…
Variações no Império de Meio
A China arrefece e a gente agradece
O consumo de vinho a nível mundial está sujeito a flutuações, ou se se quiser, a modas. São inúmeros os exemplos que no elucidam sobre as alterações do perfil dos vinhos consumidos, das regiões que estão mais em foco, além das mudanças dos próprios consumos. Nos estilos podemos citar um, que agora nos diz também respeito, e que está a ser seguido por todos os produtores; refiro-me ao perfil dos vinhos rosés que, actualmente cumprem normalmente quatro regras em simultâneo: têm pouca cor, têm menos grau, têm pouco ou nenhum açúcar e pouco ou nenhum gás. Não eram assim há 20/25 anos e, creio, o modelo actual tem tudo para se manter por muito tempo. Apenas um outro exemplo: nos anos 90 estiveram em moda os chamados tintos Parker, com muito álcool, muita extracção e muita barrica nova; tudo isso foi deixado de lado e o perfil actual é bem mais expressivo quanto à casta e à região, pelo facto de ter menos madeira e ser moderadamente extraído. Uma boa vitória. Como terceiro exemplo, podemos citar as regiões produtoras: há 30 anos a Austrália estava apenas a começar a mostrar os seus vinhos e a Nova Zelândia ainda não se tinha afirmado como produtora de grande nível, quer de Sauvignon Blanc quer de Pinot Noir. Os países da América do Sul e da África do Sul despontaram então para desafiar o Velho Mundo.
No meio disto tudo surgiram novos mercados, sobretudo a Oriente: a China passou não só a produtora como a grande consumidora e importadora. Sempre achei um pouco estranho este «fenómeno chinês», uma vez que a gastronomia local não pede vinho e a sua miscelânea à mesa – prato de peixe, de marisco, de assados de carne, de porco doce, tudo ao mesmo tempo -, dificulta tremendamente o trabalho de ligação vinho/comida. Os chineses ricos entretiveram-se a comprar os grandes vinhos do Velho Mundo e os grandes Borgonhas, vendidos a preço de ourivesaria, foram parar às caves de quem não sabe o que fazer com eles, a não ser dizer que os tem, como índice de status social. Ficam lá os vinhos e por cá fica a lamentação dos enófilos que vêem agora vinhos do ano a serem vendidos a mais de €1000 e muitos a preços acima disso. Mas há nuvens no horizonte e algo parece estar a mudar. O consumo de vinho na China baixou 50% desde 2018 e a própria produção de vinho baixou ao ponto do país deixar de integrar o Top Ten dos países produtores. Desconheço as razões em pormenor mas, quem sabe, os armazéns estão por lá cheios de vinho que não encontrou comprador porque…os caldos e as «sopas de fitas» não ligam com vinho. Durante alguns anos, muitos foram os produtores que exportaram para a China, sobretudo vinho barato, a preços que considero ofensivos e que em nada prestigiam o vinho português. Como diria RAP «isto é gozar com quem trabalha» e eu presenciei um negócio desses em que o valor por unidade era abaixo de €1(!). Pode ser que os chineses passem a comprar menos e deixem os grandes vinhos em paz, para que tenhamos direito a vinhos com preços mais convidativos.
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Patriam branco nº 1 – 1ª edição
Região: Monção e Melgaço
Produtor: Quintas de Melgaço
Casta: Alvarinho
Enologia: Jorge Sousa Pinto
PVP: €55
Este branco resulta de um lote de quatro colheitas: 2017, 18, 19 e 20, em partes quase idênticas; o 2019 foi feito apenas em inox, os outros combinam vinhos de inox com vinhos de madeira usada. A prática de ir guardando lotes de cada colheita é agora política da empresa, visando novas edições no futuro. Esta corresponde a 3276 garrafas.
Dica: notável na cor citrina, muito fresco no aroma, com excelente fruta e com uma boca madura mas sustentada por óptima acidez. Um branco de grande nível.
Maçanita Touriga Nacional em Rosé 2021
Região: Douro
Produtor: Maçanita Vinhos
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Joana e António Maçanita
PVP: €8,95
Produção de 15 000 garrafas. As uvas têm origem em vinhas situadas a altitudes diferentes na zona do Cima Corgo que é o coração da região do Douro.
Dica: floral no aroma, fino e delicado na boca mas expressivo nos aromas de fruta vermelha. Seco, bom para canapés e saladas de verão.
Termanthia tinto 2014
Região: Toro (Espanha)
Produtor: Bodega Numanthia
Casta: Tinta de Toro
PVP: €245 (exclusivo Clube Gourmet El Corte Inglés)
Tem origem em vinhas com idades que variam entre os 30 e os 200 anos, muitas delas em pé-franco e pré-filoxéricas. Tem 15% de álcool, quase inevitável em região tão quente.
Dica: um tinto enorme, concentrado, mas onde a elegância também marca presença. Barrica na justa medida, um daqueles vinhos que impressiona os sentidos e nos fica na memória.
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