Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Que Porto compramos nas grandes superfícies?
Fomos averiguar e provámos 12
Todas as grandes superfícies têm marcas próprias. É um fenómeno que não é específico de Portugal. As grandes cadeias têm, de há muito tempo, marcas de produtos que adquirem, mudando então o nome. Chamam-lhe os ingleses os BOB (Buyers Own Brand) e entre nós são conhecidas como marcas brancas. Isso acontece com uma infinidade de produtos, vinhos incluídos. Não são só as grandes superfícies que querem/exigem marca própria; com muita frequência os importadores querem ter um vinho com uma marca que se diferencie da mais conhecida que o produtor vende nesse país. O Vinho do Porto não foge a esta lógica. Só para se ter uma ideia, o grupo Taylor’s tem uma relação de 70 anos com a inglesa Marks & Spencer e para lá vende o Porto com a marca Spencer. Numa pesquisa nas nossas grandes superfícies verificámos que por norma existem, com marca própria, vinhos do Porto Tawny, Ruby, White e 10 anos. Menos frequentes são os LBV e 20 anos. Dos grandes grupos ligados ao Vinho do Porto só a Sogrape não está envolvida neste negócio. E é de negócio que estamos a falar porque, como nos disse Jorge Dias (Porto Cruz), os BOB representam 33% do mercado mundial de Vinho do Porto e 16% do que se vende no mercado interno. Seleccionámos para prova apenas dois tipos: Ruby e tawny 10 anos. A categoria que mais vende é de longe o tawny corrente, como nos confirmou a Sogevinus, para quem o tawny corresponde a 71% do negócio. O 10 anos representa apenas 7%. O grupo Taylor’s vende por ano (sob o nome Contemporal) 20 000 garrafas de Ruby e apenas 2000 de 10 anos; a marca Valadão (Intermarché) comercializa 12 000 garrafas de Ruby e 6000 de 10 anos. A pergunta que carece de resposta é: que vantagem tem o consumidor em comprar um tawny 10 anos com uma marca que não associa a qualquer empresa de Vinho do Porto, em vez de comprar da própria casa, que tantos pergaminhos tem? Todas as grandes empresas com quem falámos nos confirmaram que aqui o tema é, apenas e só, o preço. Os vinhos, dizem-nos, são feitos com as especificidades pedidas pela cadeia compradora e, pelo facto de terem uma marca diferente, a empresa de Porto fica liberta de gastos em promoção, acção que fica do lado do comprador. Os nomes das marcas brancas são meras criações comerciais, Vascos’s, Valadão ou Monteiro são disso exemplo. A marca Monteiro (Aldi) será em breve substituída pela marca Cortez. As marcas Pingo Doce e Valadão são fornecidas pela Symington mas, no caso da Valadão é indicada a Quarles Harris que é uma marca subsidiária da Symington. Os lotes mostraram-se claramente diferentes.
O Ruby é, por excelência, o Porto jovem, sem estágio em madeira, pensado para ser consumido rapidamente; nada de guardas, portanto. Não requer cuidados de manuseamento ou decantação. Bebe-se ligeiramente refrescado. Da prova feita ressalta a boa qualidade gral, com destaque para o grande equilíbrio aroma/sabor do Contemporal (Continente), do Armilar (Lidl) e Valadão (Intermarché); menos expressivo o Vasco’s (Auchan), simples mas com pouca alma; nesta categoria esteve também bem o Monteiro e o curioso Pingo Doce, mais ligeiro mas com aromas e sabores mais químicos e especiados.
Nos vinhos do Porto 10 anos entram lotes de diferentes idades, estagiados em tonel, o que gera uma progressiva oxidação e alteração da cor. Uns poderão surgir com mais tonalidades avermelhadas e outros mais mogno. É uma categoria de transição, de compromisso entre juventude e maturidade. Na prova, os 10 anos mostraram semelhanças de estilo entre as várias marcas mas foi evidente uma hierarquia; por um lado um vinho mais carregado na cor mas com aromas mais torrados (Monteiro), alguns razoavelmente neutros de aromas, como o Pingo Doce e Vasco’s, e outros com muito boa frescura aromática, leves mas bem atractivos, como Contemporal, Armilar e Valadão. A prova de boca confirmou a finura do Contemporal, logo seguido pelo Armilar, menos concentrado mas muito elegante; num patamar semelhante as marcas Vasco’s, Valadão e Pingo Doce, este mais interessante na prova de boca do que se tinha mostrado no aroma. Os preços dos 10 anos vão dos €7,30 aos €9,99.
Conclusão: os Ruby e 10 anos são opções a ter em conta na hora da compra nas grandes superfícies. O 10 anos também beneficia com ligeiro refresco antes do serviço. Os preços indicados são anteriores à época inflacionária que vivemos. Poderá por isso haver ajustes em breve.
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