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Vamos ser parceiros?

Tal como no tango, são precisos (pelo menos) dois

Hoje volto a um tema que aqui referi há poucas semanas: os vinhos de parceria. De que se trata afinal? Estes vinhos podem ter muitas matizes mas por norma juntam dois produtores ou dois enólogos que estão em regiões diferentes e que fazem um vinho em conjunto. A forma de chegar a esse vinho final é que pode ter diversos caminhos, daí ter falado em matizes. Lembro-me de um exemplo (cujo modelo sempre me pareceu muito válido) em que um produtor de branco da Bairrada se associou a um produtor de tinto do Douro e estabeleceram a seguinte metodologia: o produtor do Douro é que fazia o lote do branco bairradino e o produtor da Bairrada fazia ele o lote do tinto do Douro. No final os vinhos eram vendidos em conjunto, numa caixa de seis, três tintos e três brancos. Os vinhos eram bem bons. O projecto morreu. Lembro-me de outro, também bem interessante, em que dois produtores de espumante se juntaram para fazer uma marca conjunta, um do Douro e outro da Bairrada; os vinhos eram de grande nível mas…o projecto morreu. Existe depois um outro modelo possível em que se juntam vinhos de duas regiões na mesma cuba e engarrafa-se; a proporção de cada vinho resulta normalmente de vários ensaios para se perceber em que percentagem de cada vinho é que o lote final é melhor do que cada uma das partes. Já se fizeram vários ensaios entre nós – lembro a marca Dado e, mais tarde, Doda – que juntava vinho de Dirk Niepoort (Douro) com vinho de Álvaro Castro (Dão) ou as várias experiências de Laura Regueiro (Quinta Casa Amarela) que fez edições quer com o produtor Paulo Rodrigues (Quinta do Regueiro) juntando brancos do Douro e Alvarinho de Monção e Melgaço, quer com Paulo Laureano (Alentejo). Também no início deste século o produtor Henrique Uva (Herdade da Mingorra) se aventurou a fazer um lote que juntava vinho do Douro e do Alentejo. Não foi há muito tempo que a legislação aceitou estes vinhos que assim puderam deixar a clandestinidade, já que nem a data da colheita podiam indicar. Agora é mais fácil mas… as parcerias é que não são! Entre vaidades e rivalidades, maus feitios e desacertos, é só escolher. É também por isso que trago hoje três vinhos que resultam de parcerias, algumas já com várias edições e outras ainda tenrinhas mas que se espera perdurem no tempo. As duas amigas, Susana e Sandra encontraram nestes vinhos (Crochet e Tricot) um pretexto para trabalharam em conjunto, uma vez que as vidas profissionais as afastaram (uma no Douro e outra no Alentejo); Dirk já fez muitas (com Raul Perez e com Telmo Rodriguez, por exemplo) e chega agora com uma colheita recente da ligação com a Equipo Navazos. Em Monção a produtora Joana Santiago avançou com um trabalho conjunto com Nuno Mira do Ó, um enólogo muito ligado ao Dão, Bairrada e Bucelas, e que aqui se prestou a aprender/perceber o que a casta Alvarinho tem de original lá bem no norte do país. Estes são projectos que merecem aplauso, porque arriscam, porque são inovadores, porque trazem novas ideias e novos conceitos. Muitas vezes correm mal mas, às vezes e ainda bem, têm sucesso. São estes últimos que nos interessam.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Navazos Niepoort blanco 2020
Região: Espanha (Jerez de la Frontera)
Produtor: Niepoort/Equipo Navazos
Casta: Palomino Fino
Enologia: Eduardo Ojeda
PVP: €17 (disponível em Projectos Niepoort, venda online)
Vinhas em solos calcários e o vinho estagia em barrica (bota) sob flor durante 8 meses, na tradição de Jerez. Apenas 12% de álcool.
Dica: aromas típicos dos vinhos de flor, giz e resinas, levemente oxidado mas a demonstrar um fantástico potencial gastronómico. Vamos tapear? É aqui que ele vai brilhar.

Sou branco 2019
Região: Monção e Melgaço
Produtor: Nuno do Ó/Joana Santiago
Casta: Alvarinho
Enologia: Nuno do Ó/Joana Santiago
PVP: €32
Parte do vinho fermentou em barrica e estagiou sobre as borras finas. Reclama-se de intervenção mínima. 3500 garrafas e 170 magnuns.
Dica: fresco e vibrante, é um belíssimo exemplar dos vinhos de Monção, com bom potencial de vida em cave.

Crochet tinto 2019
Região: Douro
Produtor: Esteban & Tavares Vinhos
Castas: Touriga Nacional e Touriga Francesa em partes iguais
Enologia: as produtoras
PVP: €30
Vinhas com 40 anos, no rio Torto, com as castas misturadas. O mosto fermenta em inox e o vinho estagia 18 meses em barrica, 40% novas. Foram feitas 3548 garrafas e 51 magnum.
Dica: um tinto ainda novo mas cheio de energia, boa madeira, polimento geral a merecer aplauso.

 

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