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Crasto e Lynch-Bages

Um dos tintos que sugiro esta semana, o Roquette & Cazes, é um vinho da parceria, iniciada em 2002, entre a família Roquete da Quinta do Crasto e a família Cazes, de Bordéus. Naquela famosa zona francesa os Cazes têm os châteaux Lynch-Bages e Haut-Batailley (em Pauillac) e Ormes de Pez (em Saint-Estèphe). A ligação das famílias é mais fácil porque o patriarca, Jean-Michel, é casado com uma portuguesa de Moçambique. Assim toda a conversa decorre em português com os filhos também a ajudarem à festa. O topo de gama da Roquette & Cazes é o tinto Xisto. Ambos nascem em vinhas do Douro Superior, resultado do investimento conjunto. As novas colheitas foram agora apresentadas em Bordéus e o momento foi também aproveitado não só para dar a conhecer a nova adega de Lynch-Bages – um projecto extraordinário, caro mas muito bem pensado – como também para apresentar a última aquisição da família, o Ch. Haut-Batailley, ali mesmo ao lado. Lynch-Bages, na classificação de 1855 (que cheira bastante a mofo…) e que contemplava 5 níveis, ficou no último nível mas isso não obsta a que tenha actualmente um preço de mercado bem alto, normalmente acima dos €150 a garrafa, ou seja, o nível 5 não conta hoje para nada. É claro que se pode adiantar que a esse preço também temos por cá vinhos mas há um pequeno pormenor que faz toda a diferença: desta marca, que é o topo de gama do château, os Cazes fazem… 240 000 garrafas! E seguindo a tradição de todos os outros châteaux ali à volta, é sempre a primeira marca que faz mais volume, a segunda marca poderá fazer 1/3 daquela quantidade. Como já aqui escrevi várias vezes, vender 1000 garrafas caro até pode ser fácil, difícil mesmo é vender muito e caro. A marca tem que se ir construindo; eu, em tempos idos, também comprei Lynch-Bages a 30 e 40 euros (e não foi com desconto…) mas agora a coisa está mais difícil. É um caminho que demora, sendo também certo que a entrada de compradores milionários, orientais ou africanos, fez disparar os preços, que deixaram de caminhar em progressão aritmética e passaram a geométrica, para tristeza dos enófilos pobres! Neste ambiente quase extravagante, os tintos do Douro são como que um plus, um extra que enriquece o portefólio sem aleijar a folha Excel dos Cazes. Provados lado a lado é quase uma tentação dizer que, ao preço do Roquette & Cazes que sugiro hoje, é um abismo de estilo, um Douro de concentração, de estrutura que se afasta da nova tendência bordalesa que aposta muito mais na elegância, não perdendo a longevidade. Face às loucuras que se estão a praticar no Douro, o Xisto tem um preço (€80) muito ajustado porque, diga-se, é um monumento; contempla, na edição de 2018 agora apresentada, 200 magnuns e 7000 garrafas de 0,75l. Os pobres, esses podem sempre ter um cheirinho bordalês com o château Ormes de Pez que os Cazes têm em Saint-Estèphe; uma casa rústica, rural e sem luxos mas onde se está muito bem a provar um vinho que poderá custar entre 20 e 30 € e que é óptimo parceiro da refeição. Das minhas 6 é que já só restam 2…

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Taboadella Reserva branco 2020
Região: Dão
Produtor: Taboadella
Casta: Encruzado
Enologia: Jorge Alves/Rodrigo Costa
PVP: €15,99
Projecto da família Amorim na região. A quinta é muito antiga e tem agora nova adega e enoturismo. Solos graníticos, vinhas as 530 m altitude. 17 000 garrafas produzidas.
Dica: belo representante da casta, é por aqui que se podem descobrir os Borgonhas portugueses, complexos, ricos, misteriosos mas de enorme classe.

Vale da Mata tinto 2018
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Rocim
Castas: Tinta Roriz e Touriga Nacional
Enologia: Catarina Vieira/Pedro Ribeiro
PVP: €8,70
O vinho estagiou um ano em madeira. Vinhas na zona de Leiria, de onde a família Vieira é originária. Produção de 22 000 garrafas.
Dica: um tinto muito polido, aqui a combinar bem as notas vegetais e a fruta, resultando gastronómico e sem requerer mais tempo de guarda.

Roquette & Cazes tinto 2019
Região: Douro
Produtor: Roquette & Cazes
Castas: Touriga Nacional (60%), Touriga Francesa e Tinta Roriz
Enologia: Manuel Lobo/Daniel Llose
PVP: €21,50
As uvas têm origem em vinhas próprias no Douro Superior com uma idade média de 25 anos. O estágio (65% madeira nova) decorreu durante 18 meses.
Dica: vigoroso, cheio, maduro, fruta negra muito atraente. Ambiente balsâmico, todo ele a dar grande prova. Preço altamente convidativo.

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