skip to Main Content

O retorno às ilhas

Que mais surpresas elas nos reservam?

Durante muito tempo falar de vinhos das ilhas era igual a Vinho da Madeira e licoroso do Pico (Açores). O que por lá se produzia de outro tipo não era assunto de conversa; eram vinhos de circulação local, alguns mesmo sem certificação, como era o caso do vinho morangueiro ou vinho americano como era conhecido. Nos últimos anos tudo mudou: a Madeira passou também a produzir brancos secos, sobretudo de Verdelho e os Açores despertaram para o mundo. Sobretudo no Pico mas também na Terceira (vinho dos Biscoitos), em S. Miguel, na Graciosa, um pouco no Faial e, diz-se nos mentideros, qualquer dia em Santa Maria. Uma das mais recentes e interessantes descobertas é o vinho do Porto Santo (a ilha terá não mais de 14 ha de vinhas) que nos chegou via António Maçanita, um enólogo que tem sido o responsável pela colocação destes vinhos no mapa; começou no Pico, depois São Migeuel, Graciosa e, pelo que se vê, o céu é o limite. Fossem mais as ilhas e lá teríamos o enólogo a descobrir, apoiar, incentivar, fazer e comercializar vinhos. Notável. Estes vinhos brancos do Porto Santo têm um perfil totalmente distinto dos vinhos do Pico e o (ainda que pequeno) alargamento da área de vinha nesta ilha (a mais antiga das nossas ilhas) pode trazer mais surpresas. Ainda da Madeira trago um tinto cuja marca já não é uma novidade mas que merece prova atenta. Resultado da resiliência e teimosia da sua autora, Diana Silva, estes vinhos usam a casta tinta que actualmente domina os encepamentos da ilha e que tem sido usada quer para fazer generosos quer tintos e brancos de uvas tintas. O crescimento da área de vinha nos Açores tem sido espectacular; é verdade que com muitos apoios comunitários mas haver apoios e não haver iniciativa não serve para nada. Ali a Azores Wine Company (com enologia de Maçanita) tem puxado pela região, há cada mais produtores (pequenos e muito jovens) e a área de vinha aproxima-se dos 1000 ha, ou seja, mais do dobro da ilha da Madeira. Impressionante. Só quem já visitou o Pico pode perceber o quão difícil é ali o granjeio da vinha e quão pouco cada cepa produz. São caros? Nem a brincar se pode dizer isso. Dos novos projectos trago hoje um especialmente original, nascido no âmbito de um turismo de habitação no Pico (Pocinho Bay) e que, enquanto não tem adega, faz vinho no Curral Atlantis. O projecto turístico (de grande qualidade) é também um «projecto artístico» por via do interesse dos proprietários nas artes plásticas. O vinho é um Colheita Tardia que em 2020 não teve condições de ser feito mas que voltará a ser editado em 2021. Cada ano será convidado um enólogo e um artista para desenhar o rótulo. Para já o vinho está disponível na restauração local e à porta da adega. Esta edição de 2019 é muito surpreendente e em nada se assemelha aos outros vinhos do Pico que conhecemos. O entusiasmo que estes vinhos têm vindo a conhecer junto dos apreciadores é totalmente justificado. As ilhas estiveram durante séculos como que adormecidas em relação aos vinhos não fortificados mas descobrimos agora que têm imensos segredos e múltiplas virtudes. Daqui sairemos todos mais ricos, de certeza.

Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)

Listrão dos Profetas branco 2020
Região: DO Madeirense (Porto Santo)
Produtor: Comp. de Vinhos dos Profetas e dos Vilões
Casta: Listrão (Palomino, em Espanha)
Enologia: António Maçanita
PVP: €50
Fizeram-se 1300 garrafas. Excelente na definição da fruta, do carácter pedregoso, levemente reduzido mas com grande equilíbrio, uma harmonia surpreendente.
Dica: elegante e polido, temos um branco cheio de classe, a merecer prova atenta.

Ilha tinto 2019
Região: DOP Madeirense
Produtor: Diana Silva Wines
Casta: Tinta Negra
Enologia: Diana Silva
PVP: €19,90
Fermenta em inox e estagia sobre borras finas. As vinhas – distribuídas pela margem norte e sul – são em latada e implantadas em solos de basalto.
Dica: aberto na cor, leve no corpo e com boa expressão ácida, um tinto ligeiro e muito gastronómico.

A Mar by Pocinho Bay branco 2019
Região: IG Açores
Produtor: Pocinho Bay
Castas: Verdelho, Arinto dos Açores e Terrantez do Pico
PVP: €25
A fermentação não foi até ao fim e o vinho ficou com alguma doçura residual. Resultou com notas apetroladas, fumados e uma acidez de grande gabarito.
Dica: com este perfil será perfeito com sobremesas pouco doces ou entradas com compota de beterraba e queijo chèvre, por exemplo.

 

This Post Has 0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Back To Top
Search