Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
O vinho da maioria rosé
A ganhar espaço em todo o lado
Quando fechou o pano dos resultados eleitorais todo o país ficou incrédulo ao ver que todo o território (com a excepção da Madeira) se vestiu de cor rosada. Algo nunca visto, surpresa geral, desânimo de uns, alegria de outros. É apenas por graça que se liga a cor do partido ao vinho rosado mas a verdade é que o crescimento rosa tem, no capítulo vínico, uma inusitada semelhança com o que aconteceu nas eleições. Não falamos em maioria mas a verdade é que, se recuarmos uns anos no tempo, verificamos que os consumidores passaram a olhar o rosé de maneira nova. Já abordámos nestas crónicas este assunto várias vezes e o crescimento, sobretudo na produção, justifica que se continue a falar neles. O rosé pode ser um vinho simples e barato de fazer ou ser um produto de produção cara e que depois justifica o preço elevado que tem no mercado. Longe vão os tempos dos rosés doces, com gás e com pouca história para contar. Desses, acabaram por ficar os pais fundadores – Mateus e Lancers – e outros que lhe seguiram as pegadas, como Gatão, Três Marias ou Lagosta, isto só para citar os mais conhecidos. O rosé tem uma enorme vantagem sobre outros vinhos: pode produzir-se em todo o lado e não é muito exigente no que respeita a castas ou clima. Encontramo-los assim em todo o país e o número de produtores interessados não cessa de crescer: no Alentejo, e apenas com resultados provisórios relativos às certificações de 2021, temos 46 produtores e 73 amostras; em Setúbal temos 58 aprovações relativas a 2020 e 45 da colheita de 2021; no Douro, 199 empresas certificaram vinhos rosés em 2021 e no Tejo são 51 os produtores de rosé. Uma enorme produção mesmo não estando a considerar as restantes regiões. Estamos em meados de Fevereiro e deve ser nesta época que se devem finalizar os rosés da última vindima. Se se assumir que se trata de um vinho estival, que se quer de baixa graduação e boa acidez e que, por via disso, seja companheiro perfeito para saladas, peixes ligeiros e marisco, então o vinho tem de estar nos pontos de venda, o mais tardar, em Maio/Junho. Esta ideia que, dir-se-ia, deveria ser regra, choca depois com os departamentos de vendas que só querem colocar a nova colheita quando a anterior esgotar. Ora isso pode acontecer apenas no final do Verão e, nessa altura, a oportunidade de beber um vinho jovem, fresco, fino e elegante, vai-se esbatendo até porque a grande maioria destes vinhos não foi pensada para grande duração em garrafa. Isto não é uma regra fixa e os casos raros – como os Rioja Lopez Heredia ou mesmo o Niepoort Redoma – em que o vinho pode durar muitos anos, não nos devem desviar da ideia inicial: o rosé é para ser vendido rápido e bebido novo. Se claramente não se vendeu tudo da colheita anterior é aconselhável fazer menos (ou muito menos) quantidade da nova colheita. Andar sempre atrasado é que não faz sentido. O país vínico está também rosa e há muito por onde escolher. E sem medo, uma vez que a qualidade média é bastante boa.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Ameal Loureiro branco 2020
Região: Vinho Verde
Produtor: Quinta do Ameal
Casta: Loureiro
Enologia: José Luis Moreira da Silva
PVP: €9
A quinta foi adquirida pelo Esporão e as vinhas ficam no vale do Lima, considerada a pátria da casta Loureiro que é, a par da Alvarinho, a casta mais emblemática da região.
Dica: muito limonado no aroma, com notas de folha de louro e delicada expressão de fruta; na boca temos notas de tangerina e limão. Fino, elegante, perfeito para peixe pouco temperado e, sobretudo, marisco cozido.
Monte Branco tinto 2017
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Luis Louro/Adega Monte Branco
Castas: Alicante Bouschet e Aragonez (30%)
Enologia: Luis Louro/Inês Capão
PVP: €39
O vinho teve estágio de um ano em barricas de 300 litros (80% novas). Fizeram-se 3000 garrafas. Vinhas na zona de Estremoz.
Dica: robusto, com boa complexidade de aroma e corpo, um alentejano moderno, bem cuidado no perfil e que tem imenso potencial de vida em cave.
Porto Vintage Quinta da Gricha 2019
Região: Douro
Produtor: Churchill Graham
Castas: várias
Enologia: John Graham/Ricardo Nunes
PVP: €75
A quinta situa-se no Cima Corgo acima do Pinhão. As uvas vêm de vinhas velhas com 60 anos e a vinificação é em lagares de granito com pisa a pé. Depois tem 2 anos de estágio em tonel antes de ser engarrafado.
Dica: concentrado, rico na fruta negra, poderoso nos taninos firmes, é um vintage de grande arquitectura, com imenso futuro. A provar, e a guardar mais 40 anos.
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