Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
Quer vinhos para guardar?
Neste tema os brancos podem ser uma surpresa
Por norma, quando pensamos em vinhos para guardar em cave apostamos quase sempre nos tintos. Há algum fundamente nisso porque, durante décadas, os tintos foram sempre mais valorizados que os brancos, o gosto estava muito «colado» aos tintos e, dizia-se, «como não havia vinho, bebemos branco!» É verdade que sempre houve excepções e chegaram até aos nossos dias vinhos brancos fabulosos, por vezes de produtores tão inusitados e inesperados como Caves Dom Teodósio (Garrafeira 1955), Quinta da Aguieira (1945), Caves Aliança (1949, 63) e mesmo vinhos não pensados para a longa vida em cave, como o Planalto 1960. A ideia que os tintos vivem mais tempo em cave decorre da tradição e da própria estrutura dos vinhos. Se tivessem uma acidez elevada – e quando não tinham a suficiente juntava-se ácido tartárico – e taninos rijos (daqueles que se percebia logo que não se conseguia beber o vinho enquanto novo), os vinhos, com essas duas características já podiam enfrentar a cave. Os brancos, sobretudo das regiões que geram mostos com boa acidez (Dão, Bairrada e, actualmente, os Verdes) têm boas condições para a vida em cave e isso ficou bem demonstrado numa prova de vinhos velhos que organizei: 10 brancos e 10 tintos, tudo com 10 ou mais anos de vida. Diga-se, antes de mais, que para se provar vinhos com idade é preciso ter alguma calma na apreciação: frases como «este já foi», «estava à espera de melhor», «tirem-me daqui», podem ser sempre precipitadas. O que temos de apreciar é a qualidade que o vinho ainda apresenta em função dos anos que leva de vida. Exemplo: Pêra Manca branco 2000: notável na saúde que ainda apresenta, evoluído mas gordo e com acidez muito boa. Para um alentejano com 21 anos é caso para tirar o chapéu. Dá um prazer fantástico a provar? Não, mas se apenas é isso que procuramos nas provas dos vinhos velhos só vamos ter desilusões. Feitas as contas portaram-se muito bem o Luis Pato Vinha Formal 08, da Qta. dos Carvalhais o Encruzado 08 e Colh. Selecc. 09 e um surpreendente Dão Cova do Frade 09. Todos os vinhos deram prova, nada de problemas de rolha. Há que ter sempre presente a velha e sábia máxima: não há bons vinhos velhos, há boas garrafas de vinhos velhos! Assim, é sempre abusivo tirar grandes conclusões (sobretudo as negativas) quando só temos uma garrafa para prova. Nos tintos a situação não foi tão positiva, uma vez que os vinhos muito velhos estavam já sem vida: Borlido Garrafeira 1970, Francisco Ribeiro 63, Porta Cavaleiros Dão Res. Selecc. 63 e Vinha Grande 62. Com saúde, mas sem brilhar, o Dado (1ª edição) e o Oiro de Óbidos 85. Lá no alto a proporcionarem bons momentos os dois Tapada do Chaves (2002 e 1970), Dão Casa Santar Alfrocheiro Preto 1997 e lá bem em cima o Qta. dos Roques Tinto Cão 1996. Tudo sem problemas de rolha. A conclusão óbvia é que pode não adiantar muito estarmos a guardar os vinhos demasiado tempo, sobretudo se apenas temos uma garrafa. Se adquiriu os vinhos em leilão a preço de saldo, então não há que hesitar, é abrir e partilhar. Mas, neste duelo, ganharam os brancos. Os vinhos mortos foram para a vinagreira. Nada se perde…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
São Luiz Reserva tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Sogevinus
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz
Enologia: Ricardo Macedo
PVP: €16
Esta é a quinta emblemática da Kopke, no coração do Cima Corgo. A empresa dispõe de várias outras quintas dispersas pela região. Aqui nascem vinhos do Porto e DOC Douro.
Dica: muito polido no aroma, com boa integração da madeira, um tinto muito bem desenhado e que gera muitos consensos, o que é bom sinal.
Dona Sancha branco 2020
Região: Dão
Produtor: Quinta Dona Sancha
Castas: várias
Enologia: Paulo Nunes
PVP: €11,50
Novo projecto na região. O nome invoca a fundadora de Silgueiros no séc. XII. As várias castas (4) foram vinificadas em separado e o vinho estagiou no inox, sobre borras.
Dica: com perfil citrino e uma acidez notável, é um exemplo muito bom da qualidade dos brancos da região. Gastronómico e absolutamente consensual.
O Syrah da Discórdia tinto 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Herdade Vale d’Évora (Mértola)
Casta: Syrah
Enologia: Filipe Sevinate Pinto
PVP: €16
As vinhas estão em solos de xisto e o vinho, após a fermentação, estagia em barricas de 300 litros. Foram produzidas 1700 garrafas.
Dica: cheio, estruturado, macio e longo. Um tinto para pratos fortes. A beber e a guardar.
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