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As bolhas misteriosas

Dos cêntimos aos milhares de euros, há para todos os preços

Pensar na passagem de ano e no programa das festas obriga-nos sempre a pensar em espumante/champanhe. Erradamente alguns consumidores referem-se ao espumante como champanhe mas para sermos correctos só devemos usar o termo champanhe para os vinhos produzidos na região de Champagne (esta é a grafia certa). Os franceses, de resto, muito ciosos dos seus produtos, forçaram a legislação europeia a proteger o termo champagne, impedindo que fosse usado em vinhos feitos pelo mesmo método mas fora da região, ou mesmo outros produtos, como perfumes. Há assim, por exemplo, muitos espumantes franceses que optaram por outras designações como Crémant ou Pétillant; existem na Alsácia, na Borgonha, em Bordéus, no Jura, no Loire. Têm por norma um preço muito mais acessível do que os champanhes e alguns deles vendem-se em Portugal «às paletes» propostos às lojas/garrafeiras e menos de €5, o que deixa imensa margem de manobra para a venda. Alguns consumidores pouco avisados poderão então pensar que por ter um nome francês, o vinho comprado é idêntico a um de Champagne. Não é igual, tal como não é igual um licoroso feito em qualquer lado pelo método do Vinho do Porto. Pode ter outro nome mas não se pode chamar Vinho do Porto, que é uma denominação protegida. Portugal é grande consumidor de champanhe e basta ir a uma loja para nos apercebermo-nos que as diferenças de preços são brutais. Com algumas excepções pode dizer-se que temos de desembolsar pelo menos €35 para comprar um champanhe, enquanto um cava (espanhol) ou um espumante português se compra a partir de €5. Para se perceber a diferença temos de ter presente que, se o produtor optar pela forma mais rápida, mesmo com a segunda fermentação na garrafa (que é a origem do gás) e se chama método clássico, é possível ter um espumante no mercado 3 a 4 meses depois da vindima. Desde esses 3 meses até 10 anos de cave antes de ir para o mercado, há toda uma hierarquia que justifica as diferenças de preço. E, sempre convém lembrar, é do balanço entre oferta e procura que se faz o preço. A região de Champagne, com variações anuais, comercializa cerca de 300 milhões de garrafas/ano mas a procura mundial é imensa e quanto mais sofisticado e raro é o champanhe, mais caro temos de o pagar. Sou apreciador confesso destes vinhos feitos pelo método clássico. É fácil afirmar que temos espumantes portugueses melhores que alguns champanhes mas nada de ilusões: se estivermos a falar de um champanhe de topo não chegamos lá. Voltamos aqui ao exemplo do Porto: num vinho novo feito como o Vinho do Porto, seja no Alentejo, em França ou na África do Sul, até pode passar por melhor que um Porto mas, se falarmos de um grande tawny ou um vintage com idade, não há sequer que pensar em comparar. E ainda bem que assim é. Por cá temos diversificado muito a produção que deixou de estar confinada à Bairrada e Távora-Varosa. Agora temos espumantes em todo o país e ilhas, sendo certo que as regiões mais frescas têm condições naturais mais favoráveis. O movimento parece imparável.

Sugestões da semana:

(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Espumante Vértice Millésime Bruto 2014

Região: Douro

Produtor: Caves Transmontanas

Castas: Gouveio, Viosinho e 15% de castas várias envelhecidas em barrica.

Enologia: Celso Pereira

PVP: €23

Desde a colheita de 2013 o vinho adquiriu um novo perfil, agora mais próximo do champanhe, com aromas mais complexos e ricos.

Dica: grande finura de aroma e corpo. Excelente acidez, um espumante de elevado nível a um preço bem convidativo.

 

Espumante Pai Abel Bruto Natural 2016

Região: Bairrada

Produtor: Quinta das Bágeiras

Castas: Bical (80%), Chardonnay e Cercial

Enologia: Mário Sérgio Nuno

PVP: €61,50

O vinho estagiou sobre borras durante 4 anos, antes de lhe ser aposta a rolha de cortiça.

Dica: este é, de longe, o espumante mais francês feito por este produtor. Conserva, no entanto, uma nota mais resinosa e rústica que são a imagem de marca. Um grande espumante.

 

Champagne Bauget-Jouette Blanc de Blancs Brut 2014

Região: Champagne (França)

Produtor: Bauget-Jouette

Casta: Chardonnay

PVP: €50

Por ser blanc de blancs o vinho apenas inclui Chardonnay. É representado entre nós pela Garrafeira de Campo de Ourique, em Lisboa. O portefólio da marca inclui outros vinhos. Só nos melhores anos o champanhe é datado.

Dica: aroma clássico com notas de brioche, de levedura, de fruta branca. Bolha muito fina. Conjunto muito elegante.

 

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