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A fuga (a tempo) para Londres

Bordéus de 2016 em prova

Estive há pouco mais de uma semana em Londres para provar vinhos de Bordéus da colheita de 2016. A prova foi organizada pelo Instituto dos Masters of Wine e fui a convite de dois enólogos do Douro. Foi a minha segunda experiência, após a primeira prova em Novembro de 2019, na altura para provar os 2015. De então para cá a prova foi suspensa e agora retomada, ainda que com imensas cautelas. As cautelas foram tantas que, quem quis chegar no próprio dia acabou por ficar em Portugal, face a ameaças de quarentenas. Os dois felizardos que tinham resolvido ir de véspera acabaram por ser, assim, os únicos representantes lusos. A prova é rápida porque há 103 vinhos na mesa e o tempo disponível são cerca de 2 horas. Só seis vinhos podiam ser provados apenas uma vez: os châteaux Haut-Brion, Cheval Blanc, Angelus, Mouton Rothschild, Margaux e Yquem (branco de Sauternes). Como sempre (e para não variar…) o Haut-Brion confirmou que é o rei dos tintos de Bordéus. Ausências de peso também houve, como Latour, Lafite, Palmer, Ausone e Pavie, só para citar alguns. O ano de 2016 correu muito bem na região, com uma vindima sem chuva e boa maturação das uvas. Os vinhos mostram-se agora muito finos, com aposta evidente na elegância, com madeiras muito bem trabalhadas, alguns deles a mostrarem que vão beneficiar com a guarda em cave. Por comparação com os 2015, em que era evidente o melhor equilíbrio dos vinhos do Médoc e um teor alcoólico excessivo nos vinhos de Pomerol e Saint-Émilion, neste 2016 essa diferença esbateu-se e a elegância domina em toda a região. Assim, dos 72 vinhos que provei, a grande maioria tinha 13,5% de graduação alcoólica e os exageros eram poucos: apenas um vinho com 15º e outro com 15,5º; mesmo com 14,5% de álcool apenas três amostras. Este tipo de provas tem imenso interesse, uma vez que nos ajuda a perceber quais as tendências que o vinho está a seguir, quais os erros que foram emendados e, mesmo sem ser essa a ideia, permite comparar o que uma região tão famosa como Bordéus produz com aquilo que por cá se vai fazendo. Recentemente um enólogo português dizia-me que aqui há 25 anos as provas de vinhos de Bordéus eram um sonho e um deslumbramento porque as diferenças para melhor eram enormes e tínhamos muito a aprender. Parece que aprendemos porque agora são poucos os que nos deixam sem voz. Mas eles também aprenderam: livraram-se do karma Parker e baixaram significativamente a graduação e o «peso» da madeira; os vinhos ganharam em elegância sem perderem a longevidade. O trabalho de barricas é agora extraordinário e muitos dos nossos produtores teriam muito a aprender neste capítulo. Como se sabe é a fama que justifica, então, a enorme diferença de preço que nalguns casos existe. Como se diz, «difíceis são os primeiros 200 anos!». Alguns produtores, nomeadamente do Douro, bem que podiam reler esta frase 100 vezes por dia, antes de colocarem os vinhos a preços disparatados. Dos Sauternes apenas havia uma dúzia em prova e por isso é difícil tirar conclusões.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Provezaide tinto 2019
Região: Douro (Cima Corgo)
Produtor: Cândido Tojal/Pedro Sequeira
Castas: Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta Roriz
Enologia: Pedro Sequeira
PVP: €29
Uvas nascem numa vinha de 25 ha em Provesende. Feito cuba, esteve 20 meses em barrica de 4ª utilização. Produção de 2345 garrafas.
Dica: muito equilíbrio entre o aroma e o sabor, com a fruta a comandar a prova e a madeira a sustentar o conjunto, sem o marcar. Muito expressivo.

Murganheira Espumante Millésime 2011
Região: Távora-Varosa
Produtor: Caves da Murganheira
Castas: Pinot Noir e Chardonnay
Enologia: Marta Lourenço/Orlando Lourenço
PVP: €24
Este é um dos mais emblemáticos espumantes da Murganheira, juntando aqui as duas clássicas castas da região francesa. Extraordinária relação qualidade/preço.
Dica: grande finura de aroma, mousse muito delicada, tudo aquilo que um longo estágio em cave (como é o caso) pode fazer. Notável a todos os títulos.

Terrenus Vinha da Serra branco 2019
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Rui Reguinga
Castas: vinha com 100 anos onde predominam Arinto, Fernão Pires, Bical, Roupeiro, Malvasia e Tamarez.
Enologia: Rui Reguinga
PVP: €30
Castas vindimadas em simultâneo. Fermentação do mosto em cimento e estágio de 6 meses em barricas. Produção de 2 000 garrafas.
Dica: a fruta é delicada, aqui há especiarias, há um ambiente quase floral. Branco de incrível precisão. Classe pura e grande expressão da serra.

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