Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Generosos que os queremos doces
Grandes vinhos, preços moderados
O tema de hoje são os vinhos generosos. Sabemos deles em várias zonas do país, desde os clássicos que foram objecto de demarcação até outros, que chamamos frequentemente licorosos, e que se produzem em todo o território. A originalidade dos nossos generosos não deriva do método de fabrico; a técnica de interrupção da fermentação com adição de aguardente é usada em todo o mundo. O momento dessa adição é que pode ditar o maior ou menor grau de doçura. Só isso. A originalidade vem então da combinação entre castas, clima e solo, a que se acrescenta a intervenção do homem, que tanto pode reproduzir técnicas ancestrais como pode inovar e criar novos produtos. Todos os vinhos que selecciono hoje têm, em maior ou menor grau, este carácter inovador. Comecemos pelo Porto 10 anos. É uma categoria relativamente nova, criada em 2010, e foi nesse ano que a Kopke lançou os primeiros 10, 20, 30 e 40 anos brancos. A legislação não autoriza que se utilize nestes vinhos o termo «Tawny», designação reservada a vinhos tintos. Deverão apenas chamar-se Vinho do Porto Branco, com a respectiva indicação de idade. Os elevados stocks de brancos que as empresas e produtores tinham fizeram com que, de um dia para o outro, surgissem marcas com indicações de 10 a 40 anos. São vinhos muitíssimos interessantes e em boa hora a legislação contemplou este novo tipo. O Porto Late Bottled Vintage (LBV) é também uma criação com apenas 50 anos. Foi em 1970 que a Taylor’s lançou no mercado inglês o primeiro LBV, de 1965. De então para cá a «moda» pegou e hoje todos os produtores têm LBV no portefólio. A razão é simples: como apenas uma pequena percentagem é utilizada para fazer o topo de gama – Vintage – havia sempre muito que não era usado e que tinha que ser envelhecido para tawny. Como o LBV é engarrafado entre o 4º e o 6º anos após a vindima, consegue-se um vinho mais macio, mais bebível mas cheio de carácter, a lembrar um vintage. É hoje uma categoria de sucesso que os números não escondem: a Taylor’s, por exemplo, faz por ano cerca de um milhão de garrafas de LBV. Em outras casas contam-se por dezenas de milhar as garrafas produzidas anualmente. É uma história de sucesso e os vinhos duram muito bem 20 anos em garrafa, como pude comprovar em prova de LBV velhos. Preço moderado para uma qualidade geral notável. O Moscatel de Setúbal tem também uma novidade, neste caso na aguardente utilizada. Sabemos que a legislação permite que cada operador compre a aguardente onde entender, desde que seja aprovada pelo organismo certificador (válido também para Porto e Madeira). A empresa de Azeitão há vários anos que passou a usar no seu Moscatel da Colecção Privada, aguardente adquirida na região francesa de Armagnac. Num outro (apenas para exportação) usava aguardente de Cognac. Neste ora apresentado juntou as duas aguardentes e o vinho resultante, que beneficiou deste longo estágio em casco, mostra-se agora na sua incrível complexidade e elegância. É caso para perguntar: poder-se-ia ter utilizado outra aguardente? Podia…mas não era a mesma coisa!
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Taylor’s Late Bottled Vintage 2017
Região: Douro
Produtor: Quinta and Vineyard Bottlers
Castas: várias da região
Enologia: equipa dirigida por David Guimaraens
PVP: €15,90
O LBV é o Porto mais vendido na empresa Taylor’s. É filtrado e por isso não obriga a decantação prévia. Depois de aberto durará cerca de 2 meses.
Dica: esta é uma excelente edição e é um Porto para todas as ocasiões. Sobretudo sobremesas.
Colecção Privada DSF Moscatel de Setúbal Superior 1999
Região: Moscatel de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Casta: Moscatel de Alexandria
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
PVP: €39,90
Como manda a tradição, o vinho, após o final da fermentação, fica em contacto com as películas durante mais de seis meses. Só então vai para o estágio em madeira usada.
Dica: notável pela concentração, muito glicerinado, a aguardente dá-lhe carácter de nobreza. Vale cada cêntimo, bebido após refrescamento.
Vasques de Carvalho Porto branco 10 anos
Região: Douro
Produtor: Vasques de Carvalho
Castas: várias da região
Enologia: Jaime Costa
PVP: €30
Este produtor tem-se notabilizado pelos tawnies com indicação de idade, tirando partido do enorme acervo de que dispõe. Tem também vintage e vinhos DOC Douro.
Dica: cor topázio, notas de laranja e caramelo, muito fresco e elegante na boca. Um prazer. A beber refrescado para se sentir a elegância que tem.
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