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O São Martinho, as castanhas e o verão dele

O vinho novo a chegar, da talha e da cuba

Há mais de um mês que se desespera pela chuva a sério mas nada. Este ano estamos em modo verão de São Martinho desde Setembro. É verdade que os dias estão lindos, a luminosidade faz inveja a muitos, a temperatura diurna amena é uma bênção mas o pior é que, lá nos subterrâneos, começa a haver falta de água e já se ouve nas notícias que o sul do país está a entrar em seca severa. O São Martinho é que não quer saber disso para nada, só lhe interessa o vinho que é agora provado e as castanhas, que este ano há boas e em quantidade. Do vinho relembramos a saudosa água-pé, saudosa não pela qualidade mas como memória antiga ligada à vida no campo, e saudamos o vinho de talha cuja abertura oficial ocorre no dia do santo. Em boa hora renascido no Alentejo e em lista para património da Unesco, o vinho de talha entrou nas preferências de muitos consumidores, o que ajuda à preservação do modelo. É sempre um vinho difícil mas merece ser reconhecido e apreciado. O facto de ter deixado de ser apenas vinho de pequeno lavrador é também muito bom sinal; hoje há empresas de grande dimensão como o Esporão, a Fundação Eugénio de Almeida, José Maria da Fonseca e, mais recentemente, a Sogrape, que se interessaram pelos vinhos de talha. Também por esta época, e desde há 50 anos, surge o Beaujolais Nouveau (BN), sempre lançado na 3ª quinta-feira de Novembro. Nascido numa zona que fica a sul da Borgonha e feito com a casta local Gamay, o Beaujolais ficou conhecido pelo vinho que sai muito novo para o mercado, fresco e para beber até ao Natal. Esta fama do «Nouveau» acabou por deixar na penumbra os 10 Crus de Beaujolais, vinhos feitos com a mesma casta mas em sub-regiões específicas. São bem mais interessantes e complexos que o Nouveau mas mais raros, sobretudo no nosso mercado. Este modelo BN encontrou depois paralelo noutras regiões e países. Por cá existiu o Dão Novo na Quinta dos Carvalhais mas extinguiu-se. O renascimento está agora a ser tentado na empresa Caminhos Cruzados. A melhor correspondência que temos no Dão para a Gamay é a casta Jaen, uma variedade muito aberta na cor e com aromas vivos de fruta vermelha e notas de rebuçado. O método usado em Beaujolais é o da maceração carbónica e os vinhos resultam sempre muito vivos e frescos. São a versão moderna da água-pé de antigamente, com mais álcool mas, pede-se, moderados na graduação até para poderem ser companheiros das castanhas assadas. Em França, onde o Beaujolais se bebe aos milhões litros, «avia-se» a produção até ao Natal e exporta-se para muito país que, com orgulho, coloca à porta dos botecos o cartaz a dizer Le Beaujolais Nouveau est arrivé! Quer o Beaujolais quer o Dão Novo (ou outro feito no mesmo espírito noutras regiões) devem ser consumidos frescos. Mesmo nesta altura do ano e porque a temperatura do dia ainda vai quente, não há que hesitar em colocar a garrafa no frio. E o vinho de talha, se bem feito, não tem de ser consumido a correr, como o Esporão que seleccionei hoje tão bem ilustra.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Georges Duboeuf Beaujolais Nouveau tinto 2021
Região: Beaujolais (França)
Produtor: Georges Dubouef
Casta: Gamay
PVP: €10
Importador: Ivin
Fermenta em inox pelo processo da maceração carbónica e é colocado à venda sempre na 3ª quinta feira de Novembro.
Dica: tem de ser servido mais fresco que os outros tintos, a cerca de 14 ou 15º. Um vinho de convívio, de festa, muito agradável e de fácil prova.

Titular Dão Novo tinto 2021
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Casta: Jaen
PVP: €7
Enologia: Carlos Magalhães/Manuel Vieira
Fermenta inicialmente em inox pelo processo da maceração carbónica (com cachos inteiros em atmosfera saturada de anidrido carbónico). Depois então é prensado e fermenta em inox. Engarrafado dia 8 de Novembro.
Dica: muita personalidade, grande aroma, muita frescura, todo ele a revelar-se um tinto prazenteiro do qual é difícil fugir. Perfeito para castanhas mas atenção à graduação (13%).

Esporão Vinho de Talha tinto 2018
Região: Alentejo
Produtor: Esporão
Casta: Moreto
Enologia: Sandra Alves/David Baverstock
PVP: €25
A casta sempre foi das mais usadas para os vinhos de talha. A certificação como Vinho de Talha obriga ao cumprimento de vários procedimentos.
Dica: aberto na cor, ainda cheio de saúde com prova muito bem conseguida na boca. Não é radical (excessivo aroma de pez) como alguns que existem mas está muito bem.

 

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