Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
O Douro a mostrar (alguns) dos seus luxos
Grandes tintos, altos preços
Os vinhos que seleccionei esta semana têm duas características em comum: são do Douro e são caros. Se comparados com o preço médio a que o português compra os vinhos na grande superfície, então, não são caros, são produtos de ourivesaria. A discussão sobre os preços tem sempre um lado académico: se se vende, o preço está certo! Esta é a primeira fase; na segunda, a coisa pode complicar-se um pouco porque se a quantidade em venda era muito pequena, o facto de se ter vendido tudo não significa nada; a terceira fase é a mais complicada: quem comprou, voltou a comprar ou foi uma vez sem exemplo, por graça ou vaidade? É então que se começam a separar as águas: há quem venda caro mas todos os anos vende, esgota e o preço mantém-se alto e há quem diz que vende mas depois coloca os vinhos à consignação nuns restaurantes dos amigos e recebe (se receber…) sabe-se lá quando. Há muito que defendo que são os preços altos que dignificam e fazem uma região ganhar prestígio internacional. A caminhada para se chegar a esse altar onde quem paga tem de desembolsar muitos euros, essa caminhada não só não é rápida de fazer como não é acessível a todos. Ao consumidor assiste sempre a razão quando pergunta: mas que culpa tenho eu que só tenha feito 500 garrafas e que, por via disso esteja a vender o vinho caríssimo? Como diria o saudoso António Silva, «quem não tem condições, não se estabelece». Há que ter consciência de um facto simples: não é difícil vender 500 ou 600 garrafas a 80 ou 100 euros; difícil é vender 35 000 a €65 como acontece com o Chryseia que hoje sugiro; não só não é fácil como é muito difícil conseguir uma alta qualidade naquelas quantidades. Naturalmente que é no Douro que estes vinhos mais caros estão a nascer, onde a qualidade dos solos, das castas e da tradição, tudo relacionado com o prestígio do Vinho do Porto ajudam os produtores. Também há vinhos muito caros noutras zonas do país, ora na Bairrada, no Alentejo e mais recentemente em Colares e Açores. Estas duas últimas regiões têm por si o argumento da originalidade, ainda que lhes falte passado de preços em crescendo que possam justificar o que agora se pede. Nem Colares nem os Açores algumas vez foram terra de vinhos caros. Só podemos desejar que estas apostas vinguem mas, e voltamos atrás, as limitadíssimas quantidades iludem a realidade. Fica ainda outra questão por responder: estes vinhos em prova cega, aí algures no mundo, fariam boa figura com «tubarões» de créditos firmados? Os do Douro sem qualquer dúvida; quanto aos outros há um enorme «talvez» porque a originalidade que lhes reconhecemos não é necessariamente factor diferenciador em prova cega. São vinhos que requerem explicação e enquadramento. E, depois, há a tal prova radical que ninguém quer fazer: em prova cega dizer quanto estou disposto a pagar por este vinho? Para mim quanto é que ele vale? Que não haja ilusões, um grande, grande vinho, é aquele que nos dispomos a abrir os cordões à bolsa. As três sugestões de hoje estão nesse grupo. Depois há folclore, o Ó ai ó linda e o Malhão, malhão mas isso são alegrias para principiantes.
Nota: se começássemos a sugerir por semana 3 vinhos do Douro a mais de €50, tínhamos assunto até final do ano…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Quinta da Ervamoira tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Ramos Pinto
Castas: Touriga Nacional (86%) e Touriga Francesa
Enologia: João Luis Baptista
PVP: €96,50
Este é o primeiro super tinto da empresa, juntando-se assim ao clube dos vinhos mais caros da região. A quinta fica no Douro Superior, bem perto das gravuras do Côa.
Dica: grande definição de fruta, perfeito equilíbrio de taninos e acidez, um vinho arrasador que nos enche a alma. Um grande tinto, um enorme Douro.
Chryseia tinto 2019
Região: Douro
Produtor: Prats & Symington
Castas: Touriga Francesa (75%) e Touriga Nacional
Enologia: equipa de enologia da Quinta de Roriz
PVP: €65
As uvas vêm sobretudo da Quinta de Roriz e Quinta da Perdiz. Roriz é uma das mais belas propriedades do Douro, como uma localização privilegiada, um pouco acima do Pinhão. 35 000 garrafas produzidas.
Dica: um enorme prazer, conjugação perfeita de textura, sabor, longevidade, elegância e potência. Seguramente estará ainda melhor dentro de 8 a 10 anos.
Tecedeiras XX tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Lima & Smith
Castas: lote de seis castas
Enologia: Rui Cunha
PVP: €80
Quinta no Cima Corgo, perto do rio. Além de uvas próprias também se compram uvas a produtores. A produção total da quinta chega às 100 000 garrafas mas há intenção de crescer. Este tinto é de edição única comemorativa dos 20 anos da produção. Fizeram-se 1500 garrafas.
Dica: rico, balsâmico, maduro mas em perfeito equilíbrio sem ficar pesado, estagiado em barrica nova e usada. Um clássico Douro da nova geração.
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