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Anselmo Mendes – 25 anos a promover os Verdes
O verdadeiro Senhor Alvarinho mostra serviço
A região dos Vinhos Verdes contempla várias sub-regiões, algumas delas logo identificadas aquando da demarcação da região em 1908. Uma delas foi a de Monção e Melgaço, então famosa pelos vinhos tintos que produzia. Não eram os tintos escuros e adstringentes que hoje referimos com a designação «Verde tinto», antes eram vinhos abertos de cor, onde dominavam castas pouco tintureiras como Alvarelhão, Pedral e Verdelho Feijão, por exemplo. A descoberta do Alvarinho como casta com muito potencial na região apenas começou já na primeira metade do séc. XX. Foi a partir dos anos 80, quando até aí apenas quatro marcas marcavam presença no mercado, que vários produtores se interessaram por ela, com a marca Soalheiro a destacar-se. A partir daí o movimento foi imparável. Anselmo Mendes cedo se deixou cativar pela Alvarinho e tem sido um verdadeiro embaixador, semeando o interesse por ela um pouco por todo o mundo. Não deixou de ser com alguma surpresa que num restaurante de 3 estrelas Michelin, na Bélgica, vi várias mesas a consumirem vinho de Anselmo Mendes. Hoje poderá ser ainda mais fácil que isto aconteça, uma vez que já exporta para 42 países, absorvendo assim uma boa parte das 850 000 garrafas que produz. Nem tudo é Alvarinho já que o gosto pela casta Loureiro – que tem no Vale do Lima a sua pátria – o levou também para aquela zona. Está assim, no fundo, a trabalhar com as duas castas mais emblemáticas de toda a região. Actualmente já tem a maior folha de vinha contínua de Alvarinho em Monção – a quinta da Torre – e o portefólio inclui várias marcas, algumas delas nascidas em finais do século passado. Uma das marcas mais conhecidas – Muros Antigos – comemora este ano 20 anos. A propósito, Anselmo Mendes promoveu uma prova vertical da marca, não com 20 mas com 10 anos da marca. Com um preço ligeiramente abaixo dos €10, é um vinho que encerra todas as boas características da casta: enorme longevidade, de que foram testemunha as colheitas de 2005, 2009, 2011 e 2016, uma surpreendente resistência à oxidação com as cores a mostrarem que não tencionam tão cedo dar sinais de cansaço, uma frescura que permanece em virtude da excelente acidez que estes vinhos têm e um traço que, infelizmente, não se cumpre e que o produtor diz que «o culpado é o mercado»: estes vinhos de Alvarinho não deveriam nunca ser consumidos no ano a seguir à colheita. A casta requer tempo para gerar um todo harmonioso. O lamento é óbvio: «deveríamos estar agora a consumir o 2018», diz o enólogo mas já se sabe que na mente dos consumidores ainda perdura a regra antiga do «Verde só se for da última colheita». Não será difícil descobrir a razão de tal atitude e o culpado não é o consumidor, como se imagina. O interesse pela viticultura e pelos segredos que cada região e cada casta podem exigir, levaram Anselmo até à ilha Terceira onde se interessou pelos vinhos de Verdelho dos Biscoitos. Mas não só aí, a sua experiência e exigência enológica tem-se revelado em várias frentes, desde a Adega Mãe até aos vinhos de João Póvoa na Bairrada (marca Kompassus) e o Douro continua a ser tributário do seu saber, ainda hoje apoiando a quinta dos Frades entre outros. A casta Alvarinho, entretanto, não parou de se expandir por todo o país. A região de eleição – Monção e Melgaço – continua a ser, creio, a menina dos olhos de Anselmo e o que o futuro próximo nos vai trazer pode vir a ser muito surpreendente, com mais tintos – já tem um, chamado Pardusco – que vão procurar manter o prestígio que a região alcançou com os tintos. Há mais de 500 anos, é bom lembrar…
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