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Vindima 2021 – primeiras impressões

Temos um novo 2007 no horizonte?

O país é pequeno mas a diversidade é muita e por isso, neste momento, temos situações que, de tão antagónicas, quase parecem inverosímeis: em algumas regiões ainda não se começou a vindimar, caso de vários produtores da Bairrada e Vinho Verde por exemplo, enquanto noutras zonas há já muito tempo que os cestos estão lavados, com os vinhos a fermentar nas cubas ou barricas. Daquilo que ouvimos a produtores e enólogos, sente-se no ar a pergunta a que todos gostariam de responder afirmativamente: será que vamos ter outro 2007? Naquele ano «mágico» aconteceu algo pouco habitual: um estio ameno sem grandes escaldões, o que permitiu às uvas manterem-se a trabalhar e fazendo com que o resultado final acabasse por ser o sonho de qualquer enólogo: uvas maduras, acidez elevada, bons compostos aromáticos e grande equilíbrio dos mostos. É a temperatura do Verão que vai determinar o grau de acidez; não há anos de boa e má acidez, ela nasce sempre igual. Quanto mais calor houver de verão mais ela se degrada e, se o verão for ameno, ela degrada-se menos e acaba por originar vinhos de óptima acidez. É o paraíso para os vinhos brancos e, por arrastamento, para os tintos e os generosos. Não esqueçamos de 2007 foi ano clássico de Porto Vintage e gerou vinhos de altíssima classe. Do que ouvimos, há clara noção da quebra das quantidades, da acidez excelente dos vinhos da costa alentejana, dos lagares de Castelão em Palmela que são de cortar a respiração (pela qualidade potencial) e de um ano nos Açores que vai ficar na memória (Bernardo Cabral). No Ribatejo, António Ventura – prolixo enólogo que trabalhar em várias regiões – diz-nos que a vindima vai a 1/3 mas também aqui as noites frias (chega a haver 15º de diferença do dia para a noite) estão a ajudar a conservar a acidez e a Fernão Pires, Sauvignon Blanc e Arinto estão em grande nível. Para Ventura «tudo leva a crer que teremos, pelo menos, um grande ano de brancos; para já tudo a correr bem!» Algumas regiões mais frescas tendem a começar mais tarde – António Braga, Sogrape, só começou nos Verdes na passada 2ª feira – e Lisboa está também no início. As zonas mais altas, por natureza mais frescas, ainda não tinham maturação necessária e por isso é preciso aguardar (como Portalegre, no alto da serra de São Mamede); também o Dão apenas está a começar mas é já notória uma quebra nas quantidades, como é o caso da Quinta dos Carvalhais. Como nos disse António Braga, também na Bairrada se espera uma quebra na produção mas a qualidade dos brancos poderá ser memorável. Quem tratou das uvas, quem se precaveu contra míldios e oídios, quem percebeu que a vinha precisa de muita atenção e que as grandes uvas não nascem por obra do acaso, esses vão ter o trabalho recompensado. Falo da qualidade, já que o preço, a ver pelo escândalo que se passa no Douro com as uvas DOC Douro a serem pagas a preços que nem a vindima pagam, o preço, dizia, vai de novo ser baixo e ofensivo para quem trabalha a terra.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Cabo da Roca Arinto Reserva branco 2017
Região: Bucelas
Produtor: Casca Wines
Castas: Arinto
Enologia: Hélder Cunha
PVP: €8
O projecto Casca Wines estende-se a várias zonas do país, com vinhos das castas mais emblemáticas de cada região. Este Arinto teve estágio em barrica.
Dica: maduro na fruta, com excelentes notas apetroladas, uma bela evolução a sugerir que está agora no seu melhor momento.

Dona Maria tinto 2017
Região: Alentejo
Produtor: Júlio Bastos
Castas: Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Syrah e Cabernet Sauvignon
Enologia: Sandra Gonçalves
PVP: €8,30
Este é o vinho deste produtor que mais presente nos mercados. Com esta marca Júlio Bastos tem também um rosé que é um estrondoso caso de sucesso. Vinhas na zona de Estremoz.
Dica: belo exemplar do novo Alentejo, vibrante na fruta, fresco, levemente químico e mineral, tudo muito atractivo. Deste é difícil fugir já que é polivalente à mesa.

Adega de Penalva Encruzado branco 2019
Região: Dão
Produtor: Adega Coop. de Penalva do Castelo
Casta: Encruzado
Enologia: Virgílio Loureiro/António Pina
PVP: €7,80
Vinhas velhas em solos graníticos. O vinho fermentou em inox e teve estágio parcial em barrica. O Dão produz brancos com uma acidez de raro equilíbrio.
Dica: muito gastronómico, com alguma evolução que lhe dá um toque mais mineral e que acaba por funcionar muito bem à mesa.

 

 

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