Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
Aprender com os brancos
As pressas dão mau resultado
Os vinhos que seleccionei esta semana vêm de regiões distintas, têm muito mais diferenças do que parecenças entre si mas têm um ponto em comum: não são da última colheita. Foi de propósito. Existe entre nós o hábito pouco ajuizado de beber apressadamente os vinhos brancos. Isso é visível nas escolhas que os clientes fazem nos supermercados mas é sobretudo na restauração que o tema se agrava. Se pensarmos um pouco, facilmente chegamos à conclusão que a atitude do cliente da restauração – só querer brancos da colheita mais recente – tem fundamento e assenta em hábitos que nos chegaram do passado. De facto, a grande maioria dos restaurantes sempre tratou mal os vinhos e, dessa incúria, eram os brancos que mais se ressentiam. Guardados de qualquer maneira, não raramente em dispensas e armazéns sem condições de temperatura e/ou na sala a apanhar calor ali bem pertinho da máquina do café, dá para perceber que os vinhos não poderiam ter grandes hipóteses de durar mais de um ano. Assim, ou o branco era da última colheita ou o cliente já não queria. Temos de mudar a nossa atitude. O facto de os brancos de hoje serem feitos com mais saber e com muito mais tecnologia, permite que a longevidade seja bem esticada, estendendo-se por vários anos. Sempre houve regiões especialmente vocacionadas para a longevidade dos brancos: Monção e Melgaço com os seus vinhos da casta Alvarinho, a Bairrada com os brancos de Bical ou Arinto acrescida da casta Maria Gomes (Fernão Pires, no Tejo) e o Dão onde a Encruzado, a solo ou associada a outras, sempre permitiu aos brancos sobreviverem à cave. Hoje, além destas, há mais regiões com bom potencial para os brancos. Neste ponto surge a pergunta óbvia: será que ganhamos alguma coisa em guardar os brancos mais tempo ou em deixá-los repousar, para só os beber nos anos seguintes? A resposta não é linear mas há algo que temos por certo: mesmo os brancos mais simples e baratos vivem bem dois, três, quatro anos. Depois há casos em que a espera deveria ser mesmo obrigatória, uma vez que no primeiro ano os vinhos se mostram muito pouco. O caso mais evidente é o Alvarinho de Monção e Melgaço, uma vez que no primeiro ano os aromas se mostram muito espevitados, com uma acidez muito marcada e, por via disso, muito desencontrados ou desengonçados. Com mais um ano de garrafa tudo se harmoniza e o prazer do consumo é maior. Em recente prova alargada nesta sub-região dos Vinhos Verdes, tive o ensejo de provar vinhos com mais de 20 anos que se mostraram autênticas pérolas. Naturalmente que entre 1 e 20 anos medeia muito tempo e restam inúmeras possibilidades de consumo ajuizado e de boa ligação com a comida. A certeza com que podemos ficar é que, ao beber o branco mais cedo do que deveríamos, não estamos a tirar partido do vinho, não estamos a respeitar o método seguido pelo produtor que procurou fazer um vinho que resistisse ao tempo. Quando se começa a provar brancos com alguns anos, dificilmente voltamos atrás. Nos tintos de referência já sabíamos que os 10 anos é o tempo médio de espera aconselhado. Nos grandes brancos, podemos aguardar de 3 a 6 anos para iniciar o consumo. Exagero? Olhe que não…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Quinta das Cerejeiras Grande Reserva branco 2018
Região: Óbidos
Produtor: Comp. Agríc. do Sanguinhal
Castas: Vital, Arinto e Chardonnay
Enologia: Miguel Móteo
PVP: €20
Metade do Chardonnay fermentou em barrica, o resto em inox. Depois todo o vinho estagiou 4 meses em barricas de carvalho. Do trio de castas, a Vital é a mais característica e identitária mas, amada e odiada, é também a mais controversa da região de Óbidos.
Dica: em grande forma agora, com boa fruta madura, encorpado mas de excelente acidez, um branco de gabarito que está aqui para durar.
Herdade Grande Clássico Colh. Selecc. branco 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: António Lança
Castas: Viosinho, Verdelho, Roupeiro e Antão Vaz
Enologia: Diogo Lopes
PVP: €6,50
Produzido na zona da Vidigueira, em solos de xisto. Este produtor há muitos anos que nos presenteia com uma grande consistência de qualidade nos bancos que produz. Tem uma gama alargada, onde os tintos também têm lugar.
Dica: citrino vibrante na cor e aroma, excelente na estrutura, na óptima acidez e na proporção. Prazer puro a preço cordato.
Quinta do Ameal Escolha branco 2017
Região: Vinho Verde (Lima)
Produtor: Quinta do Ameal
Casta: Loureiro
Enologia: José Luis Moreira da Silva
PVP: €25
O vale do Lima é a pátria da casta Loureiro, onde ela melhor se expressa. A quinta do Ameal pertence agora ao Esporão. O mosto foi fermentado parcialmente em barrica usada e o vinho teve posterior estágio em garrafa.
Dica: este é um excelente exemplar da casta, com fruta citrina e notas de louro e casca de limão. Boa presença e boa textura na boca, é um branco gastronómico, muito fino mas cheio de garra.
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