Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
Soberbos 2018 chegam ao mercado
Hoje Douro, amanhã outras regiões
A região do Douro não se pode queixar. A segunda década deste século foi especialmente generosa e permitiu uma sucessão nunca vista de bons anos e boas colheitas. Aconteceu assim com os DOC Douro e com os vinhos do Porto. Poder-se-ia, por exemplo, ter declarado vintage todos os anos, não fora o lado comercial do negócio a falar mais alto. Mesmo assim, foi nesta década que se quebraram tabus que tinham um século, como seja a declaração de três anos seguidos de Porto Vintage clássico, algo nunca visto. Isso já dá uma ideia da qualidade dos vinhos. No caso dos DOC Douro – e dada a extensão da região, as variações de altitude e exposição solar – foi possível concluir a década sempre com grandes vinhos. Porque é que isso aconteceu agora e não antes? A razão é técnica ou, dizendo por outras palavras, o trabalho que se faz na vinha e na adega é muito mais profissional, mais técnico e, também em função das novas tendências do gosto, não é preciso “mascarar” o vinho, nem com madeira a mais nem com álcool desgarrado do corpo. Estão agora a chegar ao mercado os tintos de topo da colheita de 2018. É agora que vão surgir os vinhos mais caros, mais raros e também mais cobiçados da região. Em Portugal não se usa a prática bordalesa de fazer variar o preço em função da qualidade da colheita; por cá, quando não é suficientemente bom para ser um topo de gama, não se produz; em França o vinho sai todos os anos. É essa quelidade que explica que muitas marcas, como a Quinta da Manoella que hoje sugerimos, tenha tido edição anual. Trata-se de um vinho com origem numa propriedade imensa, onde além dos 20 ha de vinha também existem 30 ha de floresta cerrada, magnífica. O número de castas é brutal, algumas delas difíceis de identificar, várias cepas terão 150 anos (provavelmente mais…). É um mundo hoje preservado religiosamente e que nos anos 80 e 90 desprezado. Foram décadas de atentado ao património e hoje tenta-se a todo o custo replicar as vinhas velhas para que as velhas variedades não se percam. No caso do tinto da Ervamoira, temos um bom exemplo do dueto que hoje comanda os vinhos de topo de Douro: Nacional e Francesa (ex-Franca), num diálogo que ajuda a perceber as virtudes do Douro Superior para gerar vinhos com fruta exuberante mas densa, com acidez muito atrevida que ajuda à prova e, algo que é de hoje e não de há duas décadas, com taninos de luxo que nos asseguram a longevidade do vinho mas autorizam a prova desde já. Esse era o fascínio dos grandes vinhos de Bordéus: mesmo novos e ainda taninosos, já davam prova e eram muito agradáveis de beber. O Douro está nesse campeonato e o consumidor agradece. Já quanto aos preços o que está a acontecer é uma inevitabilidade: os grandes vinhos são sempre caros. Aqui e em qualquer grande região de mundo. Mas é um caminho a fazer, não é um dado adquirido. Na região há, infelizmente, produtores que não perceberam isso. Os 2018 aí estão. Com inspiração no ditado, há que afirmar: não deixe para amanhã o que deve comprar hoje!
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Quinta da Ervamoira tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Ramos Pinto
Castas: Touriga Nacional e Touriga Francesa
Enologia: João Luis Batista
PVP: €95
Deste vinho foram feitas 4375 garrafas. É uma estreia desta marca, junta aqui o par de castas mais habitual no Douro, sobretudo nos vinhos de topo.
Dica: fruta perfeita, elegância aliada a um equilíbrio notável de taninos, corpo e acidez.
Quinta da Manoella Vinhas Velhas tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Wine & Soul
Castas: cerca de 30 castas misturadas na vinha velha
Enologia: Sandra Tavares/Jorge Borges
PVP: €80
Vinhas em Vale Mendiz. Uvas pisadas a pé em lagares, estágio 20 meses em barricas. A produção foi de 3950 garrafas e 200 magnuns.
Dica: um vinho raro, as garrafas voam num instante! O equilíbrio entre as várias componentes sugere quase um trabalho de ourivesaria. Prazer total.
Vallado Vinha do Orgal tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Quinta do Vallado
Castas: Touriga Francesa, Touriga Nacional e Sousão
Enologia: Francisco Ferreira/Francisco Olazabal
PVP: €15
A vinha situa-se no Douro Superior. As uvas são de produção biológica e estagiou 16 meses em barricas de carvalho. 37 500 garrafas e 2000 magnuns.
Dica: um tinto do novo Douro: mais aberto de cor e aroma, pouca barrica, acidez perfeita a permitir prova muito agradável. Um prazer à mesa.
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