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Os perigos espreitam

A vinha sob fogo cerrado

Esta época do ano é cruel para as vinhas. Após uma nascença prometedora o clima começou a fazer das suas, juntando cumulativamente dias de calor com dias de humidade e chuva. Isso é o maná para doenças como o míldio e o oídio. Muito mais complicadas que o Covid, e sem vacina segura no horizonte (e já lá vão 150 anos que surgiram na Europa, estas doenças podem dar cabo da vinha se não forem devidamente tratadas. Produtos à base de cobre (que é um metal pesado) e de enxofre são largamente utilizados e não há grande forma de fugir a eles. Até podemos ser dos mais amigos do ambiente, até podemos acreditar que a vinha irá produzir sem recurso a estes produtos mas é difícil assegurar uma produção capaz sem se recorrer a eles. Outros males, também característicos desta época têm solução menos penalizante para o ambiente; é o caso da geada que pode ser combatida com calor, acendendo fogueiras na vinha. Já todos vimos as fotos magníficas que já este ano nos chegaram de Chablis, zona francesa a norte da Borgonha, onde o sistema de fogareiros a gás está devidamente pré-instalado na vinha com um enorme depósito de gás colocado na extrema da vinha e que gera centenas de postos acesos. Com esse calor minimiza-se e combate-se eficazmente a geada. Como em Portugal não é sempre a mesma zona que está sujeita a apanhar com geada, é mais difícil criar este tipo de prevenção. Produtores com quem falámos referiram que este ano já vão com quatro tratamentos e, sem “sacudir a água do capote” disseram que é provável que cheguem aos 13, especificamente na região minhota. Naturalmente que zonas mais quentes estão menos sujeitas a míldio e oídio mas, se não forem esses os males da vinha serão outros. A lista é imensa e vai deste a podridão (botrytis), cigarrinha verde, traça, black rot, erinoses e mais um conjunto dramático de males do lenho, sobretudo a esca. É verdade que com as previsões climáticas atempadas que se conseguem na Net é possível fazer tratamentos em antecipação, poupando tratamentos e poupando o ambiente. O problema é que daqui até à vindima são inúmeros os perigos que espreitam, entre granizo, chuva na floração e escaldão nos meses quentes. Fica no ar a pergunta dramática: mas isto é assim agora, sempre foi, ou antigamente havia formas de contornar os males da vinha? Para a maioria deles não havia tratamento eficaz embora o cobre e o enxofre se usem há muito, muito tempo. Por isso as grandes colheitas eram ocasionais. Alguns produtores mais conscientes acabam por perder a classificação de biológico porque preferem perder a certificação do que perder a vindima, como vimos presencialmente na casa Louis Latour, na Borgonha. É que quando estamos a falar de vinhos que se vendem caro, há que tomar decisões pragmáticas. Há também a hipótese de, por não querer usar químicos, dizer adeus à produção toda mas são poucos os que assumem esse risco. A maioria dos que defendem a intervenção minimalista acaba por uma forma ou outra ter de enfrentar estes males como todos os outros. Quando questionados sobre os tratamentos, fazem como o Carlão, na nova música que saiu há pouco: assobiam para o lado.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

DSF Colecção Privada Verdelho branco 2020
Região: Reg. Pen. Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Casta: Verdelho
Enologia: Domingos Soares Franco
PVP: €9,90
A Colecção Privada surgiu nos anos 90 e desde então tem trazido castas e vinhos diferentes todos os anos. Deste branco fizeram-se 10 800 garrafas. A colecção também inclui Moscatel de Setúbal.
Dica: muito citrino, aroma de folha de limoeiro, fruta muito agradável. A beber já enquanto apresenta toda esta juventude. Saladas e marisco.

Quinta dos Aciprestes branco 2019
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Castas: Viosinho, Rabigato e Arinto
Enologia: Jorge Moreira
PVP: €9
Esta é uma das várias quintas da empresa, neste caso bem à beira-rio e onde se pratica uma enologia de precisão com recurso a fotos de infravermelhos e drones para determinar a cadência da vindima.
Dica: aroma tranquilo de fruta branca madura, agora no seu melhor momento. Para peixes delicados será perfeito.

Roquette & Cazes tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Roquette & Cazes
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Francesa
Enologia: Manuel Lobo
PVP: €20
Este projecto junta duas famílias, a da Quinta do Crasto (Roquete) e a do Château Lynch-Bages, em Bordéus. O vinho teve um estágio de 18 meses em barrica. O topo de gama – Xisto – nasceu em 2003 e surge em anos excepcionais.
Dica: com esta fruta madura e as notas da barrica presentes, é tinto para pratos de carne (borrego, porco), de tacho ou forno. Será sempre uma grande aposta.

 

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