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Castas e suas maleitas

Ainda o tema da semana passada

Volto hoje a um assunto que referi na anterior crónica e que continua, naturalmente, a ter actualidade. Referi-me então às nossas castas, à tradição ancestral de juntar várias delas num mesmo vinho e, por oposição, a tendência mais moderna de fazer vinhos de uma casta só. Buscando nas informações históricas é verdade que aqui e ali se faziam vinhos varietais mas não davam defesa ao lavrador. Se o clima não corria de feição lá se ia a produção toda. Pensemos só que, enquanto para o Coronavirus chegámos a uma vacina num ano, para o míldio e o oídio que andam cá há 150 anos, não há maneira de debelarmos o problema. Estas doenças da vinha, que se desenvolvem sobretudo em zonas onde se juntam calor e humidade, são muito difíceis de combater. É mais fácil no Douro Superior porque o clima é seco, é mais difícil no Minho porque é zona muito chuvosa e húmida. Os tratamentos são assim obrigatórios e quem faz agricultura alternativa, e não quer mentir, vê-se na contingência de perder toda a produção. É bom ficarmos sempre de pé atrás quando ouvimos dizer que “tive sorte, na minha vinha não aconteceu nada, foi na do vizinho” e outras frases bonitas que só convencem os ingénuos. Posso acreditar é num produtor que, na zona centro do país, por não querer fazer tratamentos com químicos, deixou que toda a produção se perdesse. Ao menos foi honesto! Era por estas e por outras que os antigos defendiam a mistura de castas na vinha, também porque a chuva do equinócio de Setembro era uma dor de cabeça. Assim, ter castas mais precoces e outras mais tardias dava o equilíbrio pretendido. Ainda hoje, no Douro, de onde vem um tinto que seleccionei de um novo produtor, o escalonamento da vindima se faz pelos graus diferentes de maturação das uvas. Imagine-se o caos que seria se todas as castas estivessem prontas ao mesmo tempo…Mas, voltando ao tema anterior (e em jeito de provocação) são mesmo dois vinhos com Touriga Nacional que escolhi. No caso do Dão, a Touriga tem-se revelado como um ex-libris, expressando aí toda a sua complexidade. Mas não esqueçamos que nesta região a Jaen representa mais de 25% dos encepamentos, contra um pouco mais de 15% da Touriga Nacional, com a (surpreendente para alguns) Baga a ultrapassar os 20%. No entanto, tal como acontece com a Encruzado que também não é a mais plantada, a Touriga ganhou um estatuto de nobreza que os produtores não estão a deixar passar em claro. Temos assim que, ainda que eu seja (tal como referi na anterior crónica), contra a touriguização do país, o Dão tem aqui direitos adquiridos. E como a casta é muito versátil, entra no lote do rosé Valle Pradinhos, um vinho que consistentemente nos alegra a mesa na primavera. Felizmente, aos poucos, os preconceitos contra os rosés estão a dissipar-se na mesma proporção que esses mesmo rosés estão a subir de qualidade. Convém é que o produtor tenha juízo na hora de marcar o preço de venda. Há casos especiais mas a grande maioria deverá ficar sempre abaixo dos €10.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)

Teixuga tinto 2015
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Carlos Magalhães/Manuel Vieira
PVP: €59
Esta é uma versão menos floral do que por vezes surge com esta casta, aqui mais madura e encorpada mas com um equilíbrio notável e perfeita integração da barrica.
Dica: um tinto guloso que precisa de carnes bem temperadas. Viverá muitos anos em cave (se conseguir resistir a beber tudo nesta fase…)

Provezaide tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Cândido Lima Tojal
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz.
Enologia: Pedro Sequeira
PVP: €29
Foram feitas 2000 garrafas. A localização da vinha é bem no centro do Cima Corgo, a mais emblemática zona vinícola de toda a região do Douro. Muito expressivo na fruta, muito fiel à região de origem.
Dica: com este notável equilíbrio o vinho tem sucesso garantido e brilhará à mesa com carnes no forno. Já merece prova ainda que viva bem em cave.

Valle Pradinhos rosé 2020
Região: Trás-os-Montes
Produtor: Maria Antónia Pinto Azevedo
Casta: Tinta Roriz (65%) e Touriga Nacional
Enologia: Rui Cunha
PVP: €8
Tem 12% de álcool. A cor salmonada que apresenta corresponde também à tendência actual. Um rosé seco, feito e estagiado em inox. 16 632 garrafas.
Dica: deverá beber bem fresco e usá-lo para acompanhar saladas, marisco pouco cozido ou pratos de massas, como piza ou tagliatelli.

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