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A Máfia chegou ao Dão

E está a fazer grandes vinhos…

Estamos a falar de três enólogos do Douro, gente que desde há 20 anos tem estado ligada à renovação da produção sobretudo dos DOC Douro. Eles são técnicos formados em Vila Real e que tinham, uns mais que outros, ligações familiares ao Douro e à produção de uvas para Vinho do Porto. Quando o Douro despertou para a necessidade de dar bom uso às excelentes uvas excedentárias que o benefício do Vinho do Porto não absorvia (e estamos a falar nos anos 90), surgiram então um conjunto de jovens com formação académica que vieram ajudar a fazer vinhos tintos e brancos com outros cuidados e saber. Falamos então de Jorge Moreira (Poeira, Quinta de la Rosa e Real Companhia Velha), Jorge Borges (Wine & Soul e Maritávora) e Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão e Quinta do Vallado), três amigos da mesma geração que resolveram encetar um projecto no Dão e deram aos vinhos o nome das iniciais dos apelidos cada um, ou seja, MOB. O termo em inglês usa-se como sinónimo de Máfia (crime organizado) ou gentalha, ralé. Foi um achado mas mais importante que o nome era o projecto. Começaram por alugar uma vinha de 10 hectares – a Quinta do Corujão – que além da vinha tinha uma velha adega. Por força da necessidade de investir quer na vinha quer na adega, acabaram por há poucos meses adquirir a propriedade. Entretanto conseguiram também arrendar uma vinha centenária de 5 ha onde as uvas brancas e tintas estão misturadas na vinha e daí estão agora a sair os primeiros vinhos Gauvé (zona de Gouveia) para já os topos de gama. O portefólio inclui os MOB 3 (vinhos de lote de 3 castas), MOB varietais e MOB Vinha Senna (zona de Seia). A produção global varia entre 40 e 50 000 garrafas mas (ainda) vendem muito vinho a granel. A ideia inicial que moveu este trio foi fazer vinhos que expressassem as características diferenciadoras da região; nada de tentar fazer vinhos iguais ao Douro, nada de apostas em muita extracção ou muita madeira. Os primeiros anos foram de descoberta e de aprendizagem e estão agora num patamar onde já se revêem nos vinhos que estão a produzir. Vendem-se sobretudo no mercado interno (distribuição Decante), fora das grandes superfícies e uma parte vai para a exportação, aí tirando partido dos canais que cada um deles já tinha para os seus próprios vinhos. Tudo a correr bem mas o lamento segue dentro de momentos: se no Douro é um drama encontrar pessoal para trabalhar, no Dão é ainda mais difícil, nomeadamente gente que associe alguma competência técnica com empenho, dedicação e gosto pelo trabalho. Desemprego? Ora, ora…! O Dão só tem a ganhar com novos projectos (Taboadella, Caminhos Cruzados, MOB, Niepoort) deixando espaço para pequenos produtores que encetam vias alternativas (António Madeira, Carlos Raposo, Pedro Pimentel Pereira). O renascer do Dão pode fazer-se tão mais depressa quanto todos perceberem que existe uma identidade que pode e dever ser aprimorada mas mantendo o estilo e o perfil que terão justificado a demarcação da região, no longínquo ano de 1908.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)

MOB Vinha Senna branco 2019
Região: Dão
Produtor: MOB
Castas: Encruzado e Bical
Enologia: MOB
PVP: €22
Produção de 2500 garrafas. A grande austeridade que o Encruzado mostrava obrigou a adicionar uma casta que lhe desse arredondamento. Resultou bem.
Dica: muito fino e polido, mineral, com grande delicadeza aromática. Excelente representante da região.

MOB Gauvé branco 2015
Região: Dão
Produtor: MOB
Castas: misturadas na vinha
Enologia: MOB
PVP: €54
Apenas se produziram 750 garrafas. Será sempre para vender com alguma idade. Estagiou 2 anos em barrica de 500 litros usada. Há já um ambiente resinoso e com evolução mas é mesmo essa a intenção. A chegar agora ao mercado.
Dica: beneficia com decantação para abrir os aromas. A elevada acidez permite augurar muito boa evolução em garrafa. Um branco diferente, sério, sisudo.

MOB Gauvé tinto 2015
Região: Dão
Produtor: MOB
Castas: misturadas na vinha
Enologia: MOB
PVP: €54
O vinho incorpora muito Jaen e mostra-se para já muito fechado e pouco falador. A componente vegetal seca dá-lhe muito carácter. Enorme potencial.
Dica: deverá ser provado agora mas há que guardar algumas garrafas em cave porque está em fase de crescimento. Um Dão original e com classe.

 

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