Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
Velhices e modernices
O que as vinhas nos contam
Na semana passada aqui na Revista do EXPRESSO, Luis Francisco escreveu sobre as vinhas velhas, fez um passeio de norte a sul e enalteceu as virtudes das velhas cepas que, em algumas condições, podem sobreviver por mais de 150 anos. A datação nem sempre é fácil por falta dos registos de plantio mas é verdade que a cepa é uma planta incrivelmente resistente. Sobre o resultado que as velhas cepas podem dar é que já vale a pena reflectir. Não existe uma relação directa entre vinha velha e vinho excepcional. Quando Portugal entrou para a CEE, nos idos de 86, e passou a haver subsídios para arranque e plantio de novas vinhas, já tínhamos então os melhores vinhos do mundo se a tal relação directa fosse válida; o país tinha sobretudo vinhas velhas ou mesmo muito velhas mas a maioria dos vinhos não tinham fama, brilho e/ou qualidade. Então em que ficamos? Assim como nos humanos, há velhos com sabedoria, experiência e algo para transmitir, enquanto outros não passam de uns tolos. Nas vinhas passa-se o mesmo: para chegar a velha com qualidade e originalidade, a vinha, logo de início, tem de ser boa, ser de uma casta rica, estar plantada no local certo (solo, clima, exposição) e ter sido bem tratada ao longo da vida. A não ser assim o facto de ser velha é um empecilho em vez de um benefício, já que as vinhas velhas produzem muito pouco, não estão preparadas para a mecanização e são, por isso, economicamente inviáveis. Tudo isso parece chocar com uma afirmação, que subscrevo: os mais famosos vinhos do mundo, brancos ou tintos, têm origem em vinhas velhas. Cepas velhas têm por norma um sistema radicular longo e disperso o que enriquece o vinho e ajuda a planta a enfrentar as adversidades climáticas. As cepas velhas são mais resistentes às ondas de calor (veja-se o que se passa no Douro) e, como produzem muito pouco por pé, originam mostos de grande concentração e riqueza. O tema é suficientemente controverso para ser interessante, uma vez que o que não falta são produtores que não querem nem ouvir falar em vinhas velhas porque não dão lucro e porque o seu negócio são vinhos baratos e as vinhas velhas não ajudam. Há também um outro factor controverso; a vinha nova, no primeiro ano que produz em pleno – cerca de 4 anos de vida – origina vinhos de equilíbrio perfeito, como que a dizer que, apesar de adolescente, já é capaz de mostrar resultados de grande nível. Tudo então depende do patamar onde nos inserimos: o nosso negócio é vender vinho nas grandes superfícies, onde a esmagadora maioria dos consumidores se abastece? Então não queremos e vamos arrancar as vinhas velhas. Temos outra ambição, temos algumas parcelas que são velhas e que podem produzir um vinho que não dá lucro mas traz prestígio? Ok, então há que manter e tratar bem a vinha velha. Já agora, se se dispuser a arrancar uma vinha velha não deixe de contactar, com alguma antecedência, os técnicos da PORVID (ver página no Facebook) porque as velhas varas da vinha são essenciais para a conservação do nosso património genético. E se Portugal é tão rico em variedades de uva, temos de ser capazes de conservar estirpes e clones das nossas castas. Para memória futura.
Sugestões declaração do da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)
Espumante Colinas Cuvée Brut Reserve Blanc de Blancs 2015
Região: Bairrada
Produtor: Ideal Drinks
Casta: Chardonnay
Enologia: Pascal Chatonnet
PVP: €26,95
A designação Blanc de Blancs – herdada da região de Champagne – significa que é feito apenas com Chardonnay.
Dica: este é um grande, grande espumante, do melhor que se faz no país e a um preço muito convidativo. Fino, elegante, com muito carácter. Uma óptima surpresa.
Saltimbancos branco 2019
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Quinta do Gradil
Casta: Sauvignon Blanc
Enologia: Tiago Correia
PVP: €35
Vinho experimental, apenas 650 garrafas produzidas. A marca poderá contemplar outras castas, dependendo do ano. Fermentação em carvalho novo com tampos de acácia.
Dica: conserva o carácter da casta, notas apimentadas, um branco de boa estrutura e óptima acidez. A conhecer.
Trufa Vinha do Olival tinto 2017
Região: Douro
Produtor: Quinta do Olival Velho
Castas: várias de uma parcela com 70 anos
Enologia: Francisco Ferreira
PVP: €45
Projecto pessoal do enólogo (também ligado à quinta do Vallado). Pisa a pé em lagares, 18 meses de estágio em barrica. Produzidas 2760 garrafas.
Dica: excelente de aroma, fruta densa e barrica de luxo, ainda com taninos bem firmes a assegurarem o futuro do vinho. Boa elegância de conjunto.
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