Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
As dúvidas para 2021 (Parte II)
Concluímos aqui as preocupações para o ano que entra. Lá para Dezembro faremos as contas…
– Portugal já tem os melhores vinhos do mundo?
Mau trabalho das agências de comunicação e jornalismo preguiçoso são responsáveis pelas notícias que periodicamente nos garantem que afinal temos o que de melhor há no mundo. Provar pouco, ler ainda menos e não viajar ajudam a esta doença. Confundir o melhor de uma prova ou de um concurso com o melhor do mundo dá nisto.
– O vinho em pacote vai continuar a ser a preferência dos que compram vinho em grandes superfícies?
Vai. Baixo preço e qualidade mínima (aceitável) são as razões. A origem não interessa desde que se tenha o desconto em cartão.
– A “questão do Douro” terá solução em 2021?
Este assunto tem 200 anos e já fez correr rios de tinta. A velha oposição lavoura/comércio vai manter-se e o facto de não haver organizações credíveis do lado da lavoura também não ajuda ao ambiente. A resposta é, por isso, um não!
– Há bons rosés em Portugal?
Sem hesitações a resposta é sim. E há muitos, uma vez que cada vez mais o rosé é assumido por parte dos produtores como complemento de portefólio. Há em todas as regiões, secos, frescos, elegantes e gastronómicos.
–Em época de avanços científicos constantes faz sentido continuar a fazer vinho em lagar com pisa a pé?
Faz sim e se alguns produtores abandonaram os lagares foi devido à escassez de mão-de-obra mas, para vinhos de entrada de gama, é economicamente inviável.
– Vai falar-se do Algarve como região produtora de vinhos?
À conta do consumo local assegurado pelos turistas, o Algarve tem vinhos que o resto do país desconhece. Existem de todos os tipos. Com as alterações originadas pela pandemia, é provável que ganhem mais visibilidade.
– Continuará a haver diferenças entre o moscatel de Setúbal e o de Favaios?
Sim. São feitos com estirpes diferentes da mesma casta. Internacionalmente o de Setúbal é mais conhecido, tem mais história e um passado glorioso mas, outra face da moeda, tem preços ofensivos (de baixos) nas grandes superfícies.
– A casta Encruzado vai continuar limitada ao Dão?
É um dos mistérios que falta explicar; enquanto outras viajam por todo o país, esta grande casta teima em (quase) não sair do Dão. Sendo uma das melhores do país vinhateiro, ainda menos se percebe.
– Já temos espumantes de grande qualidade?
Sim e em várias regiões, ilhas incluídas. A Bairrada é a zona que mais produz (havendo muita escolha), de Távora Varosa saem os mais famosos e do Douro alguns dos melhores.
– “Como não havia vinho, bebemos branco”. Este dito popular tem razão de ser?
Actualmente é sinal de ignorância. Se não se conhece é melhor estar calado. Alguns dos melhores vinhos portugueses são brancos.
– “Vinho e amigo, o mais antigo”. E este, continua válido?
No tempo dos nossos pais os melhores vinhos tintos eram todos envelhecidos. Hoje já os temos óptimos enquanto jovens. Quanto aos amigos… a resposta é nim!
– O vinho é afrodisíaco?
Se se estiver para aí virado, só de pensar nele pode ter esse efeito. O problema é que, em excesso, pode dar sono…
– Afinal pode-se fazer vinho com uvas podres? Temos de acreditar em tudo?
-É verdade que pode mas para isso nem toda a podridão serve e não é qualquer um que sabe fazer vinhos assim. O resultado é um vinho doce, de múltiplas usanças culinárias, no início ou no final da refeição.
– A região de Lisboa vai ser the next big thing das regiões portuguesas?
Não é seguro. Climas e solos muito variados permitem múltiplas abordagens. A região continua, como de resto a região do Tejo, a ser produtora de muito vinho a granel. A agricultura é nova (em termos de castas) e é preciso dar tempo às cepas para mostrarem todas as suas particularidades. Já existem vinhos de grande classe mas são poucos.
– Irão continuar a existir zonas vinícolas desconhecidas da maioria?
Portugal é um país pequeno e em todo o território se pode fazer vinho. Apesar disso não conhecemos tudo e regiões demarcadas como Terras de Sicó e Lafões continuam a ser ilustres desconhecidas.
– Existem vinhos naturais?
Não. Existem, sim, vinhos pouco intervencionados. O vinho é uma criação do homem, com séculos de história a ele associada. Neste sentido, o conceito de vinho natural é uma ofensa à humanidade do vinho. Seria por isso conveniente encontrar outra designação, até porque esta sugere que “os outros” são artificiais, o que não é de todo verdade. E, religiões à parte, cada um acredita no que quer. Por outro lado, fazer vinhos intencionalmente defeituosos não é sinónimo de modernismo, é burrice.
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