Devagar que tenho pressa Quando assistimos ao arranque de um novo projecto de vinhos, sobretudo…
As dúvidas para 2021 (I)
Nalguns casos só com muita fezada…
Era inevitável. Estamos no início do ano e são tantas as interrogações que não resisti a colocar aqui algumas delas. Vamos a isto:
– Os brancos portugueses vão atingir o nível dos tintos?
Vão, se é que não estão já ao mesmo nível. E, só por preconceito, os consumidores acham que o branco tem de ser mais barato.
– A casta Touriga Nacional vai continuar a ser a coqueluche dos vinhos portugueses?
Vai mas tendencialmente irá perder algum protagonismo, sendo mais parceira do que solista.
– O interesse pelos vinhos dos Açores vai continuar?
Sim, até porque são muito originais mas, como são vinhos difíceis e diferentes, têm de ser mais comunicados. Só aumentar a produção não é suficiente; o consumo também tem de crescer.
– Vai haver, em 2021, declaração do Porto vintage 2019?
É nos primeiros meses do ano que se decide. Seguramente sim, o que não se sabe é se será considerado clássico, ou seja, todos declararem com a primeira marca. Agora já não há razões que justifiquem não declarar como clássico, depois das declarações seguidas de 16, 17 e 18 que quebraram a tradição. É esperar para ver.
– O prestígio angariado pela região de Monção e Melgaço vai estender-se a outras zonas do Vinho Verde?
Seria desejável mas é pouco credível. Zonas como Lima ou Basto têm quase tudo para se notabilizarem. Falta reconhecimento público, associativismo e investimento em comunicação. A qualidade, essa, já lá está.
– A TAP vai continuar a apostar nos vinhos portugueses?
Sim, mas é provável que o mesmo não aconteça em relação aos Chefes e às ementas temáticas que estavam previstas. Futuro incerto…
– Os vinhos em pacote com a marca Pias vão continuar a crescer?
Este é um fenómeno inexplicável. O limite do crescimento de marcas é a imaginação. Estranha-se é que os consumidores nem reparem que muitos desses vinhos nem portugueses são. Bastaria ler a informação que vem no pacote.
– Grandes quintas do Douro vão mudar de mãos?
Tudo indica que sim e muito provavelmente ainda em 2021. Por enquanto os negócios ainda estão envoltos em secretismo.
– A família Symington vai comprar uma quinta por mês em 2021?
Não é seguro mas é provável, dada a frequência com que aumentam o seu património. Melhor exemplo de ligação à terra era difícil.
– O interesse pelos vinhos de talha vai continuar?
Sim e provavelmente irá expandir-se. Entre talhas, ânforas, ovos de cimento e outras técnicas menos habituais, os vinhos de nicho irão continuar a ter o seu lugar, um pouco por todo o país.
– O vinho de Carcavelos está a renascer?
Aqui temos um sim pequenino até porque a área de vinha não cresce. É no entanto verdade que há agora uma visibilidade que até há pouco não existia. E o vinho, que está a ser bem comunicado, merece o esforço.
– Portugal vai continuar a ser o nº 1 mundial em consumo de vinho?
Depende do regresso massivo dos turistas. Se voltarem, é provável que continuemos. É por isso difícil fazer prognósticos.
– O interesse pelas vinhas velhas e castas antigas vai continuar?
Vai. Felizmente hoje temos consumidores mais interessados nestas originalidades e disponíveis para pagar o preço justo por esses vinhos. As grandes empresas estarem também a apostar neste movimento mostra que o tema tem tudo para continuar e ser aprofundado.
– A febre dos vinhos excessivamente caros está a tomar conta dos produtores?
Parece que sim, a ver pelos muitos vinhos que já existem a mais de €100 a garrafa. Para a febre (normal) há comprimidos, para esta estirpe cabe ao mercado indicar o tratamento: se os vinhos se venderem então a doença não é grave. Se ficarem por vender há que pensar em terapias de choque.
– As associações de produtores continuarão a ser difíceis em Portugal?
Infelizmente sim. Parece que não gostamos de estar juntos com objectivos comuns e, mesmo quando se consegue, logo surgem as dificuldades, atritos e mesmo conflitos. É a vida…
– Portugal vai continuar na linha da frente da investigação sobre património vitícola?
Vai, e o trabalho desenvolvido neste campo é pioneiro a nível mundial. Significa também que somos melhores a falar com as uvas do que uns com os outros.
(Continua)
Caro João Paulo Martins,
É com alegria, e alguma gratidão, que leio a sua “profecia” sobre o Carcavelos e a sua Região demarcada.
De facto, hoje, ainda só restam 25ha de vinhas e nem todas a produzir!
No entanto a perspetiva para alargar a área de vinha de toda a região é factual!
Já em Março deste ano, a CMO, na Quinta do Marquês de Pombal vai alargar a sua área de vinha em mais 6ha, de 13 para 19ha, contemplando as castas Arinto, Galego Dourado e Castelão, na nova área de plantação.
Tal só foi possível pela abertura do próprio IVV em abrir um regime de exceção para Colares e Carcavelos na atribuição de novas autorizações de plantação!
Também as áreas de vinha mais velhas (dos anos 80) ainda plantadas pelo Eng. Carneiro, já com densidades reduzidas, estão a ter os cuidados de renovação, com práticas culturais e ensaios de renovação em curso.
O interesse inicial demonstrado nesta região pelo trabalho da Estação Agronómica Nacional (atual INIAV), e da CMO posteriormente (iniciando investimento desde o ano 2000 e assumindo todo o processo produtivo desde 2006) tem vindo a dar uma nova dinâmica à região, demonstrando que a mesma produz vinhos únicos e de elevada qualidade.
Outros parceiros têm aparecido com novos projetos vínicos (CMC por exemplo), sabendo-se que em breve, não só o Villa Oeiras será a única marca a produzir vinho de Carcavelos na região.
Os objetivos estratégicos deste projeto público, redigidos em 2006, estão a ser cumpridos, sendo que podemos já afirmar que a certeza da extinção de um vinho histórico e único no panorama nacional e mundial, não é já uma realidade como o era há poucas décadas atrás!
O Carcavelos, neste caso o Villa Oeiras, está saudável e a crescer, devagar mas com certezas.
Obrigado pelo seu apoio.
Com os melhores cumprimentos
Alexandre Eurico Lisboa
Arquitecto Paisagista
Coordenador Técnico do Projeto da Vinha e do Vinho de Carcavelos Villa Oeiras.