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2020 – um exemplo de vindima esquisita

O clima e as pragas a fazerem das suas

Não vou fazer ainda um balanço das vindimas uma vez que elas ainda não acabaram. Pelo menos para alguns, enquanto outros já desde finais de Agosto que estão a limpar os cestos e a arrumar a adega. Este ano arruma-se depressa que a vindima foi curta e a quantidade pequena. Pelo que ouvi em conversa solta, algumas regiões poderão ter vinhos de grande gabarito, como na Bairrada, região que bem precisada está de ter razões para sorrir; ali, conseguir ter as uvas sãs e maduras dentro da adega antes do equinócio é quase uma quimera, é mesmo só quando Deus quer, como diz o povo. No Douro também se estão já a lavar cestos, com uma vindima precoce, desigual, terrível para algumas castas, como a Touriga Franca (que agora voltou ao nome original de Touriga Francesa) que este ano se deu muito mal com os calores do S. João. É verdade que num ano de pandemia, com as vendas a caírem a pique, o mercado interno estagnado e a afluência turística reduzida a nada, ninguém queria uma vindima de abundância, algo que iria fazer aumentar muito os stocks, num período de baixa de vendas e previsível quedas dos preços. Acontece que não há produtor que não goste de ver as suas uvas chegarem sãs à vindima, sobretudo quando teve de gastar o que tinha e não tinha para combater as pragas da vinha, este ano especialmente gravosas. Os habituais e antigos inimigos da vinha – míldio e oídio – não deram tréguas este ano e foram precisos muitos tratamentos para se conseguir ter uvas sobreviventes à moléstia. Noutras zonas, como o Alentejo, houve praga séria – cicadela – cujo combate está cada vez mais dificultado pela proibição de uso de alguns químicos eficazes mas muito inimigos do ambiente. Se juntarmos a estes problemas da vinha um clima violento que fez do mês de Julho o mais quente de que há memoria, com as uvas a perderem muita acidez, ou seja, a ficarem em desequilíbrio, vemos que mais complicado era difícil. A seguir às chuvas de final de Agosto foi um sufoco para apanhar tudo à pressa porque os teores de açúcar dispararam e houve quem apanhasse uvas com mais de 18º de álcool provável. Nessa circunstância há quem junte água ao mosto para baixar o grau (mas dilui os compostos e não ajuda ao vinho final) ou quem procure adicionar um vinho de graduação mais baixa. Mas o resultado nunca é idêntico a um vinho são e naturalmente equilibrado. Assistiu-se assim a uma vindima complicadíssima, com limitações nos lagares (a que já anteriormente me referi) e com resultados finais que ainda estão por apurar. No caso dos vinhos do Porto costuma dizer-se que os anos fracos dão origem a bons tawnies e os grandes anos originam bons vintages. Este 2020 vai com certeza gerar vinhos que irão repousar em casco. Ali, com o acompanhamento a que são sujeitos e a protecção que lhes é dispensada, até vinhos de anos fracos podem produzir bons vinhos velhos. Depois de quatro anos de bons vintages – 2015, 16, 17 e 18 – estava na altura de repor stocks de vinhos para o futuro. Ficamos assim a saber que até nos anos fracos é possível ter uma réstia de esperança.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)

Quinta de Santa Teresa Avesso branco 2019
Região: Vinho Verde
Produtor: A & D Wines
Castas: Avesso
Enologia: Fernando Moura
PVP: €10
Vinificado em inox, com intervenção mínima e não filtrado. Como não incorpora qualquer produto de origem animal é tolerado por vegans.
Dica: muito bem no aroma, fresco, notas de vegetal seco e fruta branca. Bom equilíbrio na boca, bela acidez muito bem inserida no conjunto. Muito gastronómico.

Esporão Colheita branco 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Esporão
Castas: Antão Vaz, Viosinho e Alvarinho entre outras
Enologia: Sandra Alves /David Baverstock
PVP: €10
Uvas cultivadas em modo biológico. Fermentação parcial em cubas de cimento onde o vinho estagiou 4 meses
Dica: citrino esverdeado na cor, fresco na fruta, delicado na boca, com bela acidez. Tem alma e corpo suficientes para ser muito consensual.

Manoella tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Wine & Soul
Castas: quatro castas com a Touriga Nacional em 60%
Enologia: Wine & Soul
PVP: €12,50
Uvas pisadas em lagar com pisa a pé (12h), fermentação em cuba (8 dias) e estágio em barrica usada (16 meses).
Dica: este é um grande tinto a um preço muito convidativo, muito gastronómico e que dá muito prazer a beber. Um grande Douro por um pequeno gasto.

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