Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Haja alguém que explique
Damos dois passos e ficamos sem palavras
Basta uma pequena olhadela nas cartas de vinhos dos restaurantes de Lisboa ou Porto para percebermos que alguma coisa está mal, sobretudo se compararmos com as dos nossos vizinhos espanhóis. De tão altos os preços até achamos normal que se cobre 20 ou 25€ por uma garrafa que o consumidor pode adquirir no supermercado por 5 € ou menos. É verdade que não há nem uma lógica própria para se estabelecerem os preços na carta, nem regras obrigatórias que todos tenham de seguir. Sabe-se que num restaurante é provável que se esteja a perder dinheiro se não se colocarem os preços em dobro por comparação com o preço de custo; esses 100% vão ajudar nos gastos gerais que uma casa tem e, sabemos ou imaginamos, são muitos. Essas despesas sobem em flecha se se quiser abrir um restaurante numa zona nobre onde se cobram rendas altíssimas que dificultam muito a prática de preços acessíveis nas cartas que se entregam aos clientes. Por esta razão é muito mais provável que se encontrem vinhos baratos nos restaurantes abertos há já muitos anos, seguramente com rendas acessíveis e que há muito pagaram os investimentos iniciais. Temos assim uma situação díspar entre grandes e novos centros urbanos – com restaurantes a abrirem em zonas históricas – e outros em zonas menos turísticas e onde se pratica sobretudo uma culinária de recorte regional que, por norma, propicia margens bem mais interessantes ao restaurador. As dúvidas assaltam-nos quando atravessamos a fronteira e, olhando para a carta de vinhos num restaurante, nos ocorre de imediato uma pergunta: como é que os preços dos vinhos em Espanha são tão mais acessíveis do que entre nós? Será que existe algum segredo? Será que por lá todos fogem ao fisco e são mais espertos que os portugueses? Será que a restauração se abastece directamente no produtor em vez de comprar ao distribuidor? Numa recente visita à Galiza onde estive em alguns dos principais centros urbanos, confirmei esta prática antiga: ali é possível beber uma boa garrafa no restaurante sem nos sentirmos “depenados”. Apenas alguns exemplos: da Rioja, Ysios Reserva tinto 2011, da Ribera del Duero, Viña Sastre Roble tinto 2018, Protos Roble tinto 2016 e Cillar de Silos Crianza, das Rias Baixas um Albariño Corisca 2017 e, por último, um tinto sem D.O., Terra Brava Xastre. Preços? Dos €11 aos €26, sempre em restaurante, em alguns deles com menu degustação. Uma razão possível para estes preços módicos poderá encontrar-se na enorme rotação que os vinhos têm na restauração em consequência da muito maior frequência com que os espanhóis comem (principalmente jantam) fora, do muito generalizado consumo de vinho “a copa” e da enorme disponibilidade de vinho no país (um dos maiores produtores do mundo…) e as diferenças do IVA não podem explicar tudo. Por muito pequeno que fosse o boteco, os vinhos tintos foram sempre servidos em copos muito aceitáveis, à temperatura correcta, como que a dizer-nos que, por lá, a “treta” da temperatura ambiente já é passado, enterrado. Agora que eles têm um segredo, lá isso…
Sugestões da semana:
(Os preços referem-se à Loja Gourmet da Tasca do Joel, em Peniche)
Monte da Peceguina branco 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Herdade da Malhadinha Nova
Castas: Antão Vaz, Arinto e Verdelho
Enologia: Luis Duarte/Nuno Gonzalez
PVP: €12
O vinho mostra toda a expressão da fruta citrina, típica de um branco muito jovem, o que torna a prova especialmente fácil e agradável.
Dica: perfeito para peixes pouco temperados ou marisco cozido.
Quinta de Lemos Pica Pica branco 2019
Região: Dão
Produtor: Quinta de Lemos
Castas: Malvasia-Fina, Encruzado
Enologia: Hugo Chaves
PVP: €12
A Malvasia Fina, ainda que pouco falada, tem forte presença no Dão. A partir de uma vinha nova, foi feito em inox. Só se produziram 4000 garrafas.
Dica: muito aromático e fino de aromas, abundante na fruta branca. Claramente vocacionado para a mesa desde já mas pode guardar algumas garrafas em cave.
Kompassus Baga Vinhas Velhas Reserva tinto 2016
Região: Bairrada
Produtor: Kompassus Vinhos
Casta: Baga
Enologia: Anselmo Mendes
PVP: €14,30
O vinho estagiou 18 meses em cascos de 700 litros o que faz diminuir muito o “peso” da barrica na prova do vinho, permitindo que a fruta se saliente.
Dica: médio corpo, muito expressivo na fruta, notas de ginja e cereja preta, tudo a contribuir para uma grande aptidão gastronómica. Não requer guarda.
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