Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
À procura do verdadeiro artista
Conversetas de Facebook para entreter no confinamento
Na semana passada deparei-me no Facebook com uma discussão que envolveu produtores, enólogos, consumidores e um ou outro fazedor de opinião. O tema era: quem pode e quem não pode usar o termo vigneron (que em português tem uma tradução enorme – vitivinicultor-engarrafador) e que identifica o produtor que apenas trabalha as suas próprias uvas, sem outras aquisições. Pondo a questão de outra maneira: quem é o verdadeiro artista (vigneron)? A ideia é que o termo produtor-engarrafador, mais familiar aos consumidores mas inexistente na lei, não é suficientemente explícito. Vamos por partes. Para ter a sua própria vinha há duas vias: recebê-la de herança (caso de alguns dos intervenientes na discussão) ou adquiri-la (apenas ao alcance de poucos). Só nestes casos o termo vigneron (usamos o termo francês, que o nosso é muito comprido…) se poderia aplicar. Fica então a ideia que só estes são as verdadeiras almas sofredoras que labutam no dia a dia na vinha e que nem sempre vêem o seu esforço recompensado porque o consumidor não está disponível para pagar mais caro este esforço. Ora, espreitando para trás dos panos, o que encontramos? Em primeiro lugar as uvas não falam e bem que o produtor pode afiançar que são apenas suas, que não temos maneira de o comprovar; depois, o consumidor até pode pagar os vinhos mais caros mas tem de perceber a qualidade do vinho e, para isso, o produtor tem muito que palmilhar e viajar para dar os seus vinhos a conhecer. Aqui torna-se muito marketeer e pouco vigneron, gastando, tudo somado, muitas e muitas semanas por ano a viajar pelo mundo. Afinal o tal vigneron abnegado não está sempre na vinha a olhar pelas uvas e a cuidar delas, antes tem de recorrer a outras armas para vender mais caro. Atenção que não falei ainda de qualidade: o tal produtor pode passar o tempo que quiser na vinha a fazer festas às uvas que o vinho final pode não ter a qualidade que justifica o preço. O terceiro grupo são uns coitados, que não são vignerons porque não herdaram nada e que se vêem na obrigação de adquirir uvas ou, na melhor das hipóteses, arrendar uma vinha de que poderão depois cuidar. Por muito bem que trabalhem ficam sempre na sombra do tal vigneron que era suposto andar na vinha mas que, afinal, “desculpe lá, não está cá, teve de ir a Macau vender vinho!” Este problema é semelhante a todos os produtores que querem fazer diferente, seja carne biológica ou galinhas do campo, todos dificilmente vêem o seu esforço recompensado. Os produtos originais, para serem caros têm de ser bem explicados e integrados numa história, num ambiente, numa tradição. Para isso é preciso viajar, largar a vinha e abandonar também a ideia romântica do produtor-sofredor. Antes de mais o consumidor premeia bons vinhos e paga mais caro pelos melhores, mesmo imaginando que, atrás dos panos, muita coisa se passa que nem é bom saber. Comprou uvas e fez um vinho excelente? Óptimo, compro! Fez vinho com as suas uvas e o vinho está óptimo? Compro! Andou na vinha a podar com tesoura de unhas e a lavrar à enxada e os vinhos saíram mal? Esqueceu-se de sulfatar e imaginou que o vinho se fazia por si? Azar, tente para o ano!
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)
Quinta de Chocapalha Arinto branco 2018
Região: Lisboa
Produtor: Casa Agríc. das Mimosas
Casta: Arinto
Enologia: Sandra Tavares da Silva
PVP: €7
Vinhas com cerca de 30 anos implantadas em terrenos argilo-calcários. Fermentação em inox e estágio sobre borras finas durante 5 meses.
Dica: o vinho mostra-se muito fresco, delicado na fruta, com acidez crocante, resultando num vinho de Verão, bom companheiro da mesa.
Vicentino tinto 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Frupor
Casta: Pinot Noir
Enologia: Bernardo Cabral
PVP: €9,75
As vinhas situam-se perto da Zambujeira do Mar, na costa vicentina. 30% das uvas não foram intencionalmente desengaçadas. O conjunto fermentou em inox.
Dica: fino e elegante, muito aberto na cor, ligeiro no corpo e na graduação, um tinto muito gastronómico que tem de ser bebido fresco.
João Portugal Ramos Alvarinho branco 2019
Região: Monção e Melgaço
Produtor: João Portugal Ramos
Casta: Alvarinho
Enologia: Antonina Barbosa
PVP: €9,99
Nesta zona dominam os solos graníticos e os vinhos têm sempre uma boa expressão mineral. Fermentação em inox.
Dica: muito rico de aromas florais e de fruta fresca, elegante e fino na boca com óptima acidez. Perfeito para marisco ou peixes nobres pouco cozinhados.
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