Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Ver para crer
O que o clima nos anda a fazer
Soube há dias que no passado dia 20 de Julho se estava a vindimar uvas da casta Chardonnay no sul do Alentejo, mais propriamente na herdade de Santa Vitória. À chegada à adega e vistas as análises concluiu-se que as uvas apresentavam um álcool provável de 12,8%, graduação mais do que suficiente para um branco, sobretudo de uma zona quente. Não foi há muitos anos que me lembro também de ouvir que o Sauvignon Blanc se vindimava no Ribatejo ainda em Julho. Estamos assim conversados sobre o que o clima nos vai reservar nos próximos anos. Estas vindimas precoces trazem, em algumas regiões como o Douro, problemas adicionais que têm a ver com tradições e hábitos das comunidades rurais. Foi assim que uma empresa que queria começar as vindimas antes de 15 de Agosto (porque as uvas estavam prontas a vindimar…) não conseguiu a roga porque “antes do 15 de Agosto e das festas da terra, nem pensar”; é nessa altura que, para a procissão, para o bailarico e para as festas com os familiares que vieram de fora, as senhoras vão ao cabeleireiro, se aperaltam todas e isso são razões bastantes para que as vindimas tenham de esperar. O ano foi quente e as uvas estão prontas? Azar… o andor, as fogaças, os foguetes e as colchas nas janelas estão primeiro. Os enólogos bem que podem estudar e estar a par das últimas conclusões da ciência sobre o momento exacto da apanha das uvas, o equilíbrio dos ácidos e dos açúcares, da acidez perfeita e dos compostos fenólicos, que tudo isso cai por terra quando a procissão sai do adro para percorrer as ruas da terra, com a banda a tocar. Nas zonas mais planas do país e onde a dimensão das propriedades o permite, os produtores optaram pelo uso de máquinas de vindimar. São gigantes de tamanho e fazem também um trabalho gigante: vindimam num dia a mesma quantidade que 60 pessoas, não param para almoço nem dormem a sesta e não vão à missa ao domingo. Pelo menos no plano teórico, podem trabalhar 24 horas por dia. As primeiras reacções a estes “monstros” foram muito cautelosas e pensava-se que apenas teriam futuro assegurado para as vinhas quer sustentavam vinho a granel. Mas a ciência não dormiu e o aperfeiçoamento que as máquinas de vindimar tiveram nos últimos anos tiraram as dúvidas aos mais cépticos e hoje, onde conseguem chegar, as máquinas fazem todo o trabalho. Mesmo nos patamares estreitos do Douro estão ser ensaiados, com aparente sucesso, novos métodos de vindima com máquinas especialmente pensadas para esta viticultura de montanha. As rogas vão desaparecer? O folclore da vindima, do acordeão dentro do lagar vai morrer? Acho que não e espero que não. Mas o acto mecânico de vindimar e o carregar das caixas às costas nada tem de folclórico e são essas tarefas que todos temos a ganhar se forem feitas mecanicamente. E os cestos às costas é tema interessante para a fotografia mas a caixa de plástico, que é higienizada depois de despejar as uvas e voltar à vinha, é muito mais importante para um bom vinho do que a tradição. Not very typical? Azarzinho, diríamos nós, ou, bad luck, ó caramelo…!
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)
QM Espumante Velha Reserva Alvarinho 2016
Região: Monção e Melgaço
Produtor: Quintas de Melgaço
Casta: Alvarinho
Enologia: Jorge Sousa Pinto
PVP: €34,90
A indicação da tonalidade (branco, rosé ou tinto) deixou de ser obrigatória. A empresa Quintas de Melgaço é um dos maiores vinificadores da região.
Dica: um espumante amadurecido pelo tempo, com belíssima acidez e perfeito para acompanhar marisco nobre, à mesa.
Dorina Lindemann Reserva branco 2018
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Quinta da Plansel (Montemor-o-Novo)
Castas: Viosinho e Gouveio
Enologia: Dorina Lindemann/Carlos Ramos
PVP: €9,80
A família Lindemann, alemã de origem e há 40 anos no Alentejo, está muito ligada ao estudo das castas portuguesas, com obra publicada. O vinho fermentou e estagiou 6 meses em barricas de carvalho. Produção limitada a 3500 garrafas.
Dica: branco com volume, estrutura, untuoso na boca. Acompanhará peixes gordos com molho de natas por exemplo. Sempre para pratos com bom tempero.
Torre de Palma rosé 2019
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Torre de Palma
Castas: Touriga Nacional, Aragonez e Tinta Miúda
Enologia: Duarte de Deus
PVP: €16
Produzido na zona de Monforte. Fermentou em cimento e teve um estágio de 6 meses em cuba de inox antes do engarrafamento. Produção limitada a 1600 garrafas.
Dica: seco na boca, um rosé muito gastronómico, muito polivalente. Um vinho estival, sem dúvida.
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