E, se recuarmos muito, só paramos na Bíblia Acontece com frequência. Temos tendência a pensar…
Por terras de Luisa
Três projectos, três regiões
Qualquer região portuguesa sai sempre beneficiada quando surgem novos investidores, sobretudo se os projectos a que estão associados tiverem uma lógica e uma sustentabilidade evidentes. Luisa Amorim teve sempre o seu nome ligado à família corticeira e essa continua, de resto, a ser a actividade que mais identifica os descendentes de António Amorim. A ligação ao vinho não era óbvia mas a Amorim adquiriu a empresa do Porto Burmester e, com ela, veio a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, situada no Cima Corgo. Não demorou muito até que se percebesse que o Porto, enquanto negócio, não corria no sangue da família e a Burmester, tal como outras empresas de Vinho do Porto, acabou por ser vendida à Sogevinus. Vendeu-se a firma mas reteve-se a quinta e foi a partir daí que Luisa começou a entrar nos DOC Douro, sem descurar o Vinho do Porto que a quinta também produz. Mas o desejo de novos horizontes e novos projectos levou-a ao plantio de vinhas novas numa propriedade sua na zona da Vidigueira e nasceu assim o projecto da Aldeia de Cima, junto à serra do Mendo. Numa herdade de grandes dimensões – onde naturalmente também se faz a extracção da cortiça – foi possível identificar quer pela exposição, quer pelo solo, algumas parcelas que foram plantadas como se do Douro se tratasse, em socalcos que acompanham as curvas de nível, um trabalho exemplar e cujas vinhas entretanto plantadas não demorarão muito a começar a produzir. Este foi o segundo projecto e o terceiro, agora apresentado à imprensa, teve o Dão como cenário; a família Amorim comprou uma quinta que já tinha vinha instalada, já produzia vinhos com a marca quinta da Taboadella e, desta forma, foi mais fácil surgir de imediato no mercado com vinhos dessa propriedade. Ali, na zona de Penalva do Castelo, falamos de 40 ha de vinha em folha contínua o que só por si, já é algo digno de nota na região. A quinta tem muita história e o lagar romano que está à vista de todos prova a ligação antiga à produção de vinho. Os encepamentos são os habituais no Dão e o que se arrancou foi vinha de Syrah, casta que, como se imagina, não acrescenta nada à região. Foi aqui no Dão que se tornou necessário fazer uma adega de raiz, com um resultado espectacular, pela ousadia da arquitectura e pelas soluções técnicas que foram adoptadas, tudo bem diferente do Alentejo onde se utilizou o casario já ali existente e apenas se fizeram as adaptações necessárias. A jogar em três tabuleiros diferentes, pode dizer-se que o futuro próximo nos irá trazer notícias frescas destes investimentos. E se, no caso do Douro e do Alentejo, já há suficiente visibilidade das duas regiões junto do público consumidor e do mercado externo é claro que, para o Dão, projectos com este são do maior interesse, para se acabar de vez com a ideia de que o Dão é “the next big thing” mas que afinal o next nunca chega. Os projectos são melhores quando são pessoas que amam realmente o vinho que lhes estão na base e não fundos de investimento que ora compram quintas como amanhã vendem hotéis ou sabonetes.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)
Quinta Nova rosé 2019
Região: Douro
Produtor: Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo (Família Amorim)
Casta: Tinta Roriz, Touriga Nacional e Tinta Francisca
Enologia: Jorge Alves /Sónia Pereira
PVP: €12,90
Foram produzidas 22 500 garrafas. Parte do vinho estagia no inox por 4 meses e 25% em barrica por igual período. Deixou de se produzir na versão Reserva.
Dica: perfeito para aperitivo, fino e muito delicado, será sempre um grande companheiro de acepipes de sabor suave. Sirva bem frio.
Quinta da Taboadella Alfrocheiro tinto 2018
Região: Dão
Produtor: Taboadella (Família Amorim)
Casta: Alfrocheiro
Enologia: Jorge Alves/Rodrigo Costa
PVP: €15,90
A primeira vindima foi em 2018. Metade do vinho estagiou em madeira. Esta é uma das quatro clássicas variedades do Dão, também presente no Alentejo.
Dica: muito expressivo, muito elegante fino de carácter, uma casta pela qual é fácil apaixonarmo-nos.
Herdade Aldeia de Cima Reserva tinto 2018
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Herdade Aldeia de Cima do Mendro (Luisa Amorim)
Castas: Trincadeira, Alfrocheiro, Alicante Bouschet e Aragonez
Enologia: Jorge Alves/António Cavalheiro
PVP: €18
Este tinto estagiou em depósitos de vários tipos, desde ânforas, barricas e túlipas de cimento.
Dica: este tinto dá muito gozo a beber, pela finesse, pela frescura surpreendente que apresenta. Polivalência à mesa é a palavra de ordem.
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