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Meter o nariz em casta alheia

Uma branca que conhecemos mal

A casta a que me refiro hoje é a Riesling, uma das grandes castas do mundo, quando o assunto são vinhos brancos. O seu foco, o seu terroir de eleição, distribui-se em três regiões: duas na Alemanha e outra em França. Na Alemanha é a casta rainha no Mosela, uma região que tomou o nome dos três rios que a percorrem; Mosel-Saar-Ruwer; a outra zona é o Reno (Rheingau, dirão eles…) onde é também a principal variedade. Mesmo na Alemanha gera vinhos diferentes, com o Mosela a apresentar vinhos de muito baixa graduação (alguns passam pouco dos 7 graus) e onde os vinhos com doçura residual são campeões; o Reno mostra-nos vinhos mais pensados para a mesa, com mais álcool e menos açúcar. A terceira região é a Alsácia e aqui a Riesling gera vinhos que com frequência chegam aos 13 graus, mais gordos, cheios e muito gastronómicos. É sobretudo nas zonas mais frias que a casta se mostra melhor e é sobretudo com os anos em garrafa que as suas superiores qualidades se revelam. Por isso escolhi para hoje 3 vinhos de idades que muitos consumidores considerariam “brancos velhos”. Não são. Dois deles só agora foram colocados à venda e o Casal Sta. Maria está qui em última edição, uma vez que não voltou a ser editado como varietal e integra agora, com outras variedades, um branco da casa. Poderemos não ser o país ideal para a Riesling e também por isso poucas experiências foram feitas, algumas no Douro (Niepoort, Muxagat) e por vezes usada também em lote com no branco de Valle Pradinhos. Em Lisboa e Tejo situam-se as poucas experiências. O que ela tem de especial é a forma como evolui em garrafa, adquirindo notas apetroladas que até a tornam fácil de adivinhar em prova cega, conservando uma elevada acidez. Na versão original e mais radical (Mosela), a acidez pode vir a ser mais do dobro de um branco normal, o que compensa amplamente a doçura que possa apresentar. Nas regiões onde se produz na versão “seco” (ou quase), a Riesling é uma casta sempre muito aromática e elegante, duas características que a tornam especialmente atractiva. Com ela é também possível fazer um Late Harvest e o seu carácter ainda fica reforçado, sobretudo nas versões que se conseguem fazer com podridão nobre. É essa necessidade absoluta de tempo para se mostrar que leva a que estejam agora achegar ao mercado vinhos com 4 e 5 anos. Caso tivessem sido colocados à venda no ano seguinte à vindima muitos consumidores iriam (e bem…) dizer que a variedade não tinha qualquer interesse, era uma coisa em jeito de assim. É o tempo que lhe dá carácter e essa lição bem que podia ser aprendida por muito produtores portugueses que tentam vender os vinhos à pressa. Castas com a Encruzado ou a Loureiro, por exemplo, só têm a ganhar com anos de garrafa e, caso o produtor tenha folga para isso, não pode deixar-se levar na conversa do distribuidor que quer à força vender a nova colheita. Vamos deixar o vinho falar e ele dirá quando quer ser consumido.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)

Casa Cadaval branco 2016
Região: Reg. Tejo
Produtor: Casa Cadaval
Casta: Riesling
Enologia: David Ferreira (à data)
PVP: €17
As uvas têm origem numa vinha com 2 ha e já com 35 anos de idade. Fermentação em inox e estágio sobre borras finas. Tem 12% de álcool e 8 gramas de açúcar residual. Inspirado nos brancos do Reno.
Dica: em grande forma e ganhou imenso em só ser colocado agora à venda. Belas notas apetroladas, muito macio na boca. Um prazer.

Casal Sta. Maria branco 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Adraga Expl. Vitivin.
Casta: Riesling
Enologia: Jorge Rosa Santos/António Figueiredo
PVP: €11
As vinhas situam-se nas faldas da serra de Sintra, bem perto do mar. O portefólio inclui também vinhos de Colares, em branco e tinto.
Dica: muito bom exemplar da casta, ainda em fase ascendente, pleno de fruta citrina e com belíssima acidez. Uma pena estar em extinção como varietal.

Adega Mãe Late Release branco 2015
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Adega Mãe
Casta: Riesling
Enologia: Diogo Lopes/Anselmo Mendes
PVP: €15
É um dos varietais das múltiplas experiências que a Adega Mãe tem colocado no mercado. A comercialização tardia é intencional.
Dica: austero e com notas de pólvora no aroma, bons apetrolados. Fruta citrina madura e grande acidez equilibram o conjunto. Um belo branco, a conhecer.

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