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Calor sim, calor não

Pede-se moderação mas nem sempre se consegue

Com o verão vêm os dias quentes e o calor é, no assunto vinho, um elemento importante no amadurecimento das uvas. É através do sol e do calor que os cachos vão ganhando cor, açúcar e os diversos compostos que identificam os aromas e sabores do produto final. É por ser necessário calor que a vinha se distribui, nos dois hemisférios, nas zonas de clima temperado. Não encontramos vinha nos climas equatoriais nem nos climas frios dos países nórdicos. Pouco sol e pouco calor geram vinhos com pouco teor de álcool. Ainda assim é possível fazer vinhos nessas condições como veremos na crónica da próxima semana. As alterações climáticas têm “puxado” para norte as regiões onde se pode fazer vinho; até há umas décadas, Champagne era considerada a região-limite onde o clima, apesar de difícil, permitia fazer vinho. Depois, com as alterações do clima, começou-se a falar de brancos da Bélgica e já vamos nos espumantes do sul de Inglaterra. Não é bem seguro onde iremos parar mas é provável que este fenómeno corresponda, por outro lado, à desertificação das regiões do sul da Europa onde se conhecerão temperaturas extremas que irão inviabilizar, ou complicar muito, o cultivo da vinha. Há que ter isso em mente, nomeadamente nas novas plantações. Que casta vou escolher? Será que resiste ao escaldão? Será que perde totalmente a acidez ou ainda a conserva? Nesta busca da melhor adaptação das castas ao clima é provável que se assista ao renovado interesse por variedades que estavam no limbo e que podem voltar à ribalta. De qualquer forma o calor é fundamental e daqui até à vindima iremos ter muito que contar; para já, no Douro, por exemplo, há quem veja neste ano de 2020 uma grande semelhança com o 2011, a mesma chuva, os momentos idênticos de desenvolvimento da planta, as mesmas temperaturas. Vamos esperar para ver. Uma coisa é certa: ninguém se vai preocupar muito se a colheita for pequena porque as adegas estão cheias de vinho para vender. O maldito Covid veio baralhar o negócio e não se espera que as ajudas prometidas, nomeadamente à destilação de crise, sejam suficientes para equilibrar as contas. Uma consequência positiva (ainda que perversa) desta situação é a disponibilidade de mão de obra para as vindimas. Algo que há dois anos era visto como um problema absolutamente dramático, sobretudo nas regiões onde a vindima mecânica não é ainda possível, é agora encarado como um problema a menos. O mesmo aconteceu no rescaldo da crise de 2010/11 quando não faltou quem quisesse trabalhar no campo. Bom mesmo era termos um estio de calor moderado e sem escaldões. Esse é o “verão de sonho” para as uvas brancas, as que mais gostam de moderação. Os apreciadores de brancos anseiam por um novo 2008, o ano que, à conta do clima, gerou brancos memoráveis. Sonhar não custa e por isso vamos aguardar. Entretanto esteja atento aos rosés de 2019 que já estão no mercado e que são óptimos companheiros para os dias quentes. A eles também voltaremos numa das próximas crónicas.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)

Morgado de Sta. Catherina branco 2017
Região: Bucelas
Produtor: Sogrape Vinhos
Casta: Arinto
Enologia: António Braga
PVP: €12,99
Produzido na quinta da Romeira. Parcialmente fermentado em barrica e todo o lote tem um posterior estágio de 8 meses em madeira.
Dica: ligação perfeita entre fruta, acidez e madeira, resulta intensamente gastronómico e cheio de carácter.

Monte Meão Casa das Máquinas tinto 2017
Região: Douro
Produtor: F. Olazabal & Filhos
Castas: Touriga Franca e Tinta Barroca
Enologia: Francisco Olazabal
PVP: €30
A Casa das Máquinas é uma das parcelas da quinta, toda ela implantada em solo de xisto. O lote inclui a quase esquecida T. Barroca.
Dica: nervoso, fresco, taninos evidentes e grande aroma de fruta e madeira. Tudo a pedir tempo em cave. Prove mas reserve algumas garrafas.

Quinta da Romaneira Porto Vintage 2018
Região: Douro
Produtor: Quinta da Romaneira
Castas: Touriga Nacional (65%) e Touriga Francesa
Enologia: Carlos Agrellos
PVP: €50
Uvas pisadas a pé nos lagares da quinta. O actual proprietário é brasileiro mas a viticultura e enologia estão a cargo da equipa da quinta do Noval.
Dica: excelente cor e concentração, sedutor na fruta e nos aromas florais. Concentrado e rico, coloca-nos perante o dilema de beber ou guardar…

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