Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
O que o 2018 nos ensina
A propósito do Porto vintage, a vinha fala connosco
É irritante, é uma frase estafada mas é verdade: não há duas vindimas iguais! Em cada ano é possível descobrir algo de novo que não sabíamos, ver comportamentos da vinha que desconhecíamos e perceber que o que temos à nossa frente é uma obra de arte, um monumento (a cepa) cuja história de perde há muitos milhares de anos e o seu conhecimento ainda é um work in progress. Vem isto a propósito do ano de 2018, esquisito como poucos mas que acabou por dar – especialmente no caso do Douro e do Vinho do Porto – vinhos de grande qualidade. Repare-se: o ano começou mal com o prolongamento de uma seca que na prática já durava há dois anos. Sabem as gentes locais que a planta não consegue resistir a 3 anos de secura; estávamos por isso no limite dos limites. De repente, nos finais de Fevereiro, abriram-se as comportas do céu e choveu “que Deus a dava”, repondo lençóis subterrâneos mas também provocando enxurradas que não agradam a ninguém. “O que nós gostamos é daquela chuvinha irritante e miudinha”, diz-se por lá, a tal chuva que se impregna na terra e gera boa humidade nos solos. Mas o 18 ainda estava no começo. Houve de tudo: geadas, ataques de míldio e oídio, granizos fortíssimos, nomeadamente no vale do rio Pinhão, tudo a provocar quebras na produção e, depois, para completar o quadro, calores em Agosto que chegaram aos 46º. As vindimas correram bem mas com sinais desconhecidos dos lavradores: bagos com muito boa cor, bons taninos mas…com pouco açúcar, algo nunca visto. Deste quadro dramático seria de esperar um desastre vínico, uma vindima para esquecer mas…eis que a vinha se encarregou de mostrar que está cá há mais de 10 000 anos e não é por acaso, está preparada para tudo. O resultado foram vinhos de muita qualidade que se traduziram assim em muitas declarações de Porto vintage. Ora, se tivermos em atenção que só são aprovados como vintage lotes que se apresentem com uma qualidade considerada excepcional – cor, aroma, volume e estrutura de boca, acidez e taninos, tudo em nível excelso, é caso para perguntar como foi possível, depois de tanto acidente. A região tem isso de maravilhoso e intrigante: são tantas as localizações, as altitudes, as orientações solares, a estrutura dos solos e as castas usadas que é sempre possível encontrar parcelas e mesmo vinhas inteiras onde o granizo não chegou, o míldio foi combatido com profissionalismo e a seca extrema foi amenizada ou por sistema de rega ou pela enorme capacidade da cepa de ir buscar a humidade que precisa bem lá no fundo, onde não se sentem os 46º. Se a folhagem a protege, a cepa não deixa de produzir boas uvas. Podem ser poucas mas a qualidade é boa e isso e um dos pequenos mistérios que nem sempre compreendemos. E há mais mas a vinha não quer mostrar o jogo todo de uma vez. Por isso faz tanto sentido continuar a estudar. Aprender, aprender sempre. Também é uma frase estafada mas neste caso continua a fazer sentido. E já vamos com cinco vindimas muito boas na região. Cepas e homens, todos de parabéns.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)
Esporão Reserva tinto 2017
Região: Alentejo
Produtor: Esporão
Castas: Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet
Enologia: Sandra Alves/David Baverstock
PVP: €19
A marca surgiu no longínquo ano de 1985. As vinhas que estão na origem este vinho têm cerca de 20 anos. O Esporão trabalha agora em modo de produção biológico. Produzidas 613 000 garrafas deste tinto.
Dica: atendendo à quantidade este tinto tem uma qualidade notável, grande no equilíbrio entre corpo, tanino e acidez, voluptuoso nos aromas. Um clássico.
Quinta de S. Sebastião Reserva tinto 2015
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Multiwines
Castas: Merlot, Touriga Nacional e Syrah
Enologia: Filipe Sevinate Pinto
PVP: €17,50
Vinhedos na zona de Arruda dos Vinhos. Feito em lagar mecânico e com posterior estágio de 12 meses em carvalho.
Dica: maduro, cheio mas com elegância, muito redondo e afinado, é um bom companheiro para pratos de carne, de tacho e forno.
Caminhos Cruzados Alfrocheiro tinto 2016
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Casta: Alfrocheiro
Enologia: Carlos Magalhães/Manuel Vieira
PVP: €20
Esta é uma das castas-rainha da região, um dos grandes segredos em castas tintas que temos guardado no cofre. Também presente no Alentejo.
Dica: um tinto de grande equilíbrio, muito bem proporcionado, a revelar bom trabalho de adega. À mesa é tiro e queda: sucesso garantido!
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