Devagar que tenho pressa Quando assistimos ao arranque de um novo projecto de vinhos, sobretudo…
Castas e regiões em observação
Não esquecer o que o país tem de bom
Os consumidores portugueses têm sido muito fiéis na escolha das regiões de eleição: o Alentejo continua a recolher as preferências e o Douro, que tanta notoriedade adquiriu nos seus vinhos tranquilos sobretudo à custa da fama do Porto e da projecção internacional que aquele generoso tem, queda-se num lugar secundário. Não vamos falar hoje do Alentejo mas vamos falar de Trás-os-Montes que é região meio esquecida e que está longe das preferências de quem compra vinhos. O facto de estar “encostada” ao Douro acabou por remeter a região para uma espécie de limbo. O facto de usar também as mesmas castas não ajudou propriamente a que ganhasse protagonismo. No entanto, ficando-nos para já na questão das castas, a região transmontana sempre privilegiou a Tinta Amarela (no sul conhecida por Trincadeira) dando-lhe muito mais destaque do que no Douro, onde aparece sobretudo no Baixo Corgo e frequentemente em lote com outras variedades. A casta é hoje o porta-estandarte da região e é também por aqui que o futuro se pode desenhar, que de Touriga Nacional está o país cheio e Touriga Franca tem o Douro já em quantidade e qualidade. Mas não há só a Tinta Amarela, atrás dos montes encontramos também a casta Bastardo, outrora desprezada porque não tinha cor e hoje vocacionada para mais altos voos, agora que os vinhos com menos cor ganharam estatuto de estrelas. São as voltas da moda e as variações do consumo. A região transmontana tem ainda para oferecer uma muito boa relação preço/prazer nos vinhos que produz. O facto de haver por ali muita vinha velha pode também servir de atracção para investidores de fora que queiram usufruir das boas características da zona que levou um enólogo a afirmar, há já uns bom anos, que era “terra abençoada” que do vinho ao azeite, dos legumes à fruta, tudo o que por lá se produzia era bom. O nosso tinto desta semana vem de Macedo de Cavaleiros, de um produtor que já nos anos 40 do século passado tinha vinhos engarrafados e rotulados no mercado. Um verdadeiro clássico.
Já o vinho branco que escolhi – Quinta do Ameal – tem duas características muito interessantes: vem do vale do Lima onde pontifica a casta Loureiro – a quinta pertence à restrita elite dos bons produtores daquela casta – e tem o trabalho hercúleo de “combater” a primazia que actualmente, quando se fala de brancos minhotos, tem a casta Alvarinho. A variedade Loureiro que também existe, embora residualmente, nas Rias Baixas, é uma casta e tanto. Menos plástica do que a Alvarinho, não viaja tão bem mas na zona do vale do Lima é insuperável, com acidez vibrante e uma frescura marítima. Não é o caso da minha escolha de hoje mas há excelentes Loureiros a menos de €8 e mesmo alguns a menos de €5. Não é prestigiante para a região mas é vantajoso para o consumidor. Não vamos esquecer: a casta Loureiro é uma das grandes castas nacionais, das que merecem mais atenção dos consumidores.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)
Quinta do Ameal Escolha branco 2017
Região: Reg. Minho
Produtor: Quinta do Ameal
Casta: Loureiro
Enologia: José Luís Moreira da Silva
PVP: €25
Quinta emblemática do vale do rio Lima onde a casta Loureiro é rainha. A propriedade foi recentemente adquirida pelo Esporão e o enólogo é também o responsável da quinta dos Murças, no Douro.
Dica: vinificado em barrica usada este é um branco exemplar, com uma finura e elegância que são notáveis.
Valle Pradinhos Reserva tinto 2017
Região: Reg. Transmontano
Produtor: Maria Antónia Pinto Azevedo
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Tinta Amarela e Tinta Roriz
Enologia: Rui Cunha
PVP: €11
Referência histórica da zona transmontana, este tinto tem muitas dezenas de anos de história, recuando até aos anos 40. O Cabernet foi plantado ainda nos anos 70.
Dica: A combinação destas castas resulta num tinto fresco, vivo, floral com imensa capacidade para ser parceiro à mesa. A ver por colheitas anteriores é o tipo de vinho que aguenta muito bem a vida em cave.
Monsaraz Gold Edition tinto 2017
Região: Alentejo
Produtor: CARMIM
Castas: Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Syrah
Enologia: Rui Veladas/Tiago Garcia
PVP: €17,80
A Cooperativa de Reguengos é um dos gigantes do Alentejo. A maioria das vinhas dos sócios está instalada em terrenos de sequeiro com castas antigas. Também existem castas novas que originam vinhos como este.
Dica: é um tinto muito aprimorado, moderno no estilo, todo ele assente na fruta vermelha, com vivacidade e boa textura. Muito gastronómico.
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