skip to Main Content

Verdades e novidades

É só mais um mistério da Natureza

Uma das sugestões desta semana, o tinto Vinhas Improváveis, tem na ficha técnica, não disponibilizada ao consumidor, uma informação curiosa. Ali conta-se que a vinha tem agora 10 anos e que a primeira edição tinha sido em 2014, ou seja, quando as cepas tinham apenas 4 anos. A seguir tecem-se considerações sobre o enorme potencial que as vinhas têm com aquela idade, dando dois exemplos emblemáticos. A esses já lá vamos, agora é bom que se explique um pouco melhor a ideia. Tal explicação é necessária porque todos os consumidores já leram ou ouviram dizer que é das vinhas velhas que vêm os melhores vinhos e provavelmente já ouviram a história incrível que as meninas do enoturismo contam, em Bordéus, aos visitantes no Château Latour. Segundo elas, só quando as cepas da propriedade atingem os 45 anos de idade é que as respectivas uvas entram para a primeira marca, precisamente Château Latour. Até lá integram a segunda marca, Les Forts de Latour que, apesar de ser segunda marca, custa o 2010 cerca de €200 a garrafa. Parece então haver aqui uma contradição mas esse é o mistério que referimos no título: é verdade que das vinhas velhas vêm os melhores vinhos e é novidade que as vinhas ao 4º ano estejam na plenitude da pujança juvenil. Quando a vinha cresce em idade muitos produtores optam por uma monda de cachos para diminuir a produção mas aos 4 anos tal não é necessário, a vinha ainda não produz muito, até porque ao 2º e 3º anos a vinha precisa de ser formada (e orientada) e aí há lugar a uma “poda de formação”, digamos assim. Energia, fulgor, robustez para aguentar a carga e carácter são tudo características que a vinha tem naquela jovem idade. Por isso é possível, contrariando o senso comum, produzir um vinho extraordinário. Na tal ficha técnica fala-se de dois deles, emblemáticos: o vinho Le Pin (Pomerol) que à primeira edição, ainda nos anos 70, exactamente com a jovem idade que falamos, originou um vinho que custa hoje milhares de euros e o 82 não custará menos de €10 000 a garrafa. O Quinta do Noval Vintage Nacional 1931 corresponde também a este modelo, uma vez que a vinha foi replantada em finais dos anos 20 e foi “só” considerado um dos melhores vinhos do século XX. Mas, atenção, não se espere que de qualquer vinha com 4 anos saia um vinho grandioso. Para o desgosto de todo o produtor, a velha máxima continua válida: é a localização da vinha a principal responsável pelo que de lá se vai colher. Ora isso não depende do investimento, da qualidade da adega ou das barricas ou do que se paga ao enólogo. É, em última instância, um milagre da Natureza ou, como qualquer francês gostaria de dizer, “é o terroir, estúpido!” Ficamos então a saber que a maioria dos grandes vinhos do mundo vêm de vinhas velhas mas que às vezes os milagres acontecem também nas que são muito novas. Quando ler que um vinho vem de vinhas novas não fique, por isso, de pé atrás. Quem sabe a localização é a certa e tem em mãos uma pérola vínica…

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)

Desalmado tinto 2013
Região: DOC do Tejo
Produtor: Adega Coop. do Cartaxo
Castas: seis variedades
Enologia: Pedro Gil
PVP: €28
6600 garrafas. Esta é das pouquíssimas adegas cooperativas que mantém uma actividade dinâmica e inovadora ano após ano.
Dica: tem concentração mas também tem frescura com grande equilíbrio entre fruta, acidez, corpo e madeira. Muito bem feito o trabalho de vinha e adega.

Vinhas Improváveis Reserva tinto 2017
Região: Douro
Engarrafador e Distribuidor: Direct Wine
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz
Enologia: Raul Riba d’Ave
PVP: €16,50
Segunda edição deste tinto, sucedendo ao 2014. A vinha tinha em 2017, sete anos de idade. Álcool excessivo (15%) assunto a rever em próximas edições.
Dica: muito bom o perfume duriense, denso, cheio de fruta negra e com um toque de madeira. Um belo tinto a preço bem convidativo.

Tons de Duorum tinto 2017
Região: Douro
Produtor: Duorum Vinhos
Castas: Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz
Enologia: José Maria Soares Franco
PVP: €4,99
A colecção Tons abrange também o branco e, agora, o rosé. Funciona como gama de entrada da marca Duorum. Tem a vantagem de ter grande disponibilidade no mercado.
Dica: um grande companheiro do quotidiano, descontraído e muito polivalente à mesa. Deste é mesmo caso para dizer: todos gostam!

This Post Has 0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Back To Top
Search