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Vinhos de esperança

Para celebrar quando o pesadelo passar

Os vinhos que sugiro hoje têm duas características que merecem explicação. São todos da mesma empresa – Sogrape – e são todos caros, mesmo muito caros. A curiosidade adicional advém de terem origem em três regiões diferentes. Estão aqui reunidos porque num curto espaço de tempo esta empresa pôs à disposição do público alguns dos seus vinhos que mais história têm para contar. E enquanto vamos esperando pelo lançamento do novíssimo Barca Velha 2011, uma novidade ainda sem data de apresentação marcada, vamos falando destes que poderão alegrar os nossos dias quando for o momento de celebrar o fim da crise. O Legado é um tinto de luxo, com origem numa vinha centenária que produz, nos melhores anos, 1000 quilos por hectare, ou seja, economicamente inviável, já que temos muitas a produzir 10 000 kg/ha. Mantê-la foi opção de Fernando Guedes, decisão que hoje a empresa aplaude. Esta é uma das muitas vinhas centenárias que há no Douro mas o drama coloca-se aos produtores que não podem (conseguem) vender os vinhos que fazem com uvas das vinhas velhas aos preços que permitiriam justificar conservá-las. A Sogrape pode e isso traz-lhe um acréscimo de responsabilidade. Manter, conservar, replicar e assegurar o património único é a missão que tem. O branco dos Carvalhais é um caso de sucesso, entretanto replicado por outros produtores. Conseguir que o consumidor se interesse por vinhos com evolução, onde as notas das resinas e vegetais se sobrepõem à fruta e onde sobra em complexidade o que falta em juventude é uma vitória de que a Sogrape se pode orgulhar. Longe de modas e manias, herdeiros dos velhos brancos do Dão que estagiavam longamente em tonéis (quem não se lembra do Dão Pipas?) estes brancos são reis e senhores à mesa e resistem muito bem à cave porque, como nos lembrou o enólogo que criou o modelo, “a partir de um certo grau de oxidação controlada o vinho torna-se inoxidável”, ou seja, já não oxida mais na garrafa. É nesse estado que então podemos dizer que tem longa vida assegurada em cave. O outro branco é uma curiosidade bairradina, repescada de uma vinha – Pedralvites – que em tempos originou vinhos muito apreciados (um varietal de Maria Gomes e um Reserva, ambos brancos) mas que a Sogrape descontinuou. Surge agora uma Série que pode no futuro trazer outras novidades. A casta Sercialinho já tinha sido usada com sucesso por outros produtores, como Luis Pato, e é mais um daqueles pequenos segredos que podemos encontrar em quase todas as regiões. É muito bom ver que o país tem mais do que Touriga Nacional e Alvarinho. A casta ainda não é conhecida? O mercado pode não estar receptivo? O nome é difícil de pronunciar? O preço pode ser desfasado do que se pratica no mercado? Tudo isso são desafios. E nos próximos tempos desafios não nos vão faltar. É que voltar a pôr isto a rolar sobre esferas vai ser uma trabalheira que vai tocar a todos.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores de mercado)

Quinta dos Carvalhais Branco Especial s/ data
Região: Dão
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: Encruzado e Gouveio (maioritárias) e outras
Enologia: Beatriz Cabral de Almeida
PVP: €33
5175 garrafas. Lote de 3 colheitas – 2013, 14 e 15, engarrafado em 2019. Este branco continua a herança deixada por Manuel Vieira que imaginou um vinho loteando várias colheitas. Fora do baralho? Pois claro!
Dica: muito polivalente à mesa, acompanhando perfeitamente desde um cabrito assado até uma sopa de peixe muito picante. A beber com atenção.

Legado tinto 2015
Região: Douro
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: castas misturadas em vinhas velhas
Enologia: equipa dirigida por Luís Sottomayor
PVP: €250
4666 garrafas. Tem origem numa vinha velha da quinta do Caedo (Cima Corgo), cujas videiras têm actualmente mais de 100 anos e onde existem para cima de 20 castas diferentes. Produção mínima de um cacho por cepa, em média.
Dica: tinto muito elegante mas muito complexo, muito rico e que nos conta a história de uma vinha centenária. Esta é a oitava edição deste tinto.

Série Ímpar branco 2017
Região: Bairrada
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: Sercialinho
Enologia: António Braga
PVP: €60
2030 garrafas. Fermentou e estagiou em barricas de 500 litros. A casta existe na região, tendo sido criada nos anos 50 do século passado por cruzamento das castas Vital (Estremadura) e Uva Cão (Dão).
Dica: aroma complexo e uma acidez brilhante, ambiente de recorte mineral, um belíssimo branco que ajudará ao renascimento da casta.

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