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O regresso ao tema da época

Vamos alimentar uma discussão eterna?

Estamos a entrar no momento alto do ano para os apreciadores de lampreia. Por cá gostamos tanto dela que a chegamos a importar quando as capturas nos nossos rios não satisfazem a procura. Em França, sobretudo na zona de Bordéus, também é apreciada mas aí sem o tradicional arroz que por cá usamos. Já no Canadá a bicha não vai ao gosto local e por isso é muito provável que cá cheguem após a travessia do Atlântico. Sabores fortes e difíceis são sempre muito desafiantes para quem quer fazer a ligação com o vinho. Não há muita volta a dar e é preciso encontrar uma boa ligação e vinhos que não sejam esmagados pelo “peso” do molho de sangue que tão característico é na receita. Creio que há duas ligações que resultam. Uma delas o espumante tinto que é mesmo uma solução-surpresa, até porque é um tipo de vinho que nem sempre encontra a melhor ligação com a comida. Aqui pode funcionar muito bem. Há vários no mercado, alguns na região dos Vinhos Verdes, há também em Távora-Varosa e na Bairrada. É o gosto pessoal que vai determinar a escolha. A outra opção, mais tradicional, é o vinho tinto feito com a casta Sousão, a mesma que no Minho toma o nome de Vinhão. É uma casta tintureira, ou seja, origina vinhos muito carregados de cor (há consumidores que ainda acham que este é um sinal da qualidade dos vinhos…) e o tinto pode ser feito de várias maneiras: com pisa a pé e engaço o Vinhão resulta taninoso, áspero e difícil de beber; em cuba e sem engaço fica mais fácil. Para alguns, este lado bruto e selvagem é a melhor ligação com a lampreia. Gostos. Depois, no Douro, fazem-se alguns varietais de Sousão, como o que hoje sugerimos, sempre carregados na cor e algo rústicos mas bem mais acessíveis no perfil. Há já uma mão cheia de marcas na região mas nomes como Vallado, Dona Berta, Dona Graça, 100 Hectares e H. O. Horta Osório são alguns dos que se conseguem encontrar com relativa facilidade. Também existem fora do Douro mas são raros. Mesmo na região duriense a Sousão é hoje amplamente usada quer para fazer DOC Douro como “tempero” num lote, e muito apreciada como casta para entrar em Vinhos do Porto Vintage, uma vez que são vinhos em que a cor é factor importante. Três condições extra contribuem para a qualidade do prato: resulta melhor em termos de sabor se forem lampreias fêmeas, algo que já recentemente comprovei quando os machos não deram tão boa conta de si; em segundo lugar a qualidade do arroz carolino que se usa: há muito no mercado mas alguns melhores que outros. Por mim sempre uso o Bom Sucesso, com muito sucesso. Em terceiro lugar, a qualidade do vinagre uma vez que é imprescindível no prato. Por experiências anteriores bem infelizes sei que um mau vinagre destrói um petisco onde era suposto ser elemento importante; Moura Alves, quinta das Bágeiras, João Portugal Ramos são boas opções. Não são baratos mas a própria bicha não é nada em conta e, por isso, temos de a tratar bem.

Sugestões da semana:
(Os preços indicados são da Garrafeira de Campo de Ourique, em Lisboa)

Vale da Raposa Sousão tinto 2015
Região: Douro
Produtor: Domingos Alves de Sousa
Casta: Sousão
PVP: €24,75
Apesar de muito plantada, a Sousão tem poucos exemplares como monovarietal no Douro. Há por isso um lado didáctico que é interessante.
Dica: rústico, vegetal algo químico. Bom volume de boca, macio e gordo.

Campolargo Pinot Noir tinto 2016
Região: Bairrada
Produtor: Manuel dos Santos Campolargo Herd.
Casta: Pinot Noir
PVP: €15,75
A casta dá-se muito bem com a frescura da Bairrada e Campolargo tem sido uma referência no tema. Elegância e complexidade aqui de mãos dadas.
Dica: feito em lagar com engaço, resulta fino e bem expressivo à casta, fiel aos aromas do Pinot, está agora no seu melhor momento.

Talha Pezgada tinto 2018
Região: Alentejo (Granja-Amareleja)
Produtor: Ana F. M. Pereira
Castas: Moreto e Aragonez
PVP: €17,50
Foram produzidas 3000 garrafas. Fermenta em talha com as películas e só após o São Martinho (11 Novembro) pode ser passado a limpo. Essa é a exigência legal para ostentar o designativo Vinho de Talha.
Dica: aberto na cor, aromas de barro molhado, ervas secas, resinas. Resulta bem na boca, macio e a deixar boa impressão final.

 

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