Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
O fim do sono
A hora da viticultura
Está a chegar ao fim a dormência da vinha, situação em que se encontra desde a vindima do ano passado, ou seja, desde Outubro. Dormência não significa que a vinha se tenha “apagado”, uma vez que, mesmo no fim da vindima, a vinha ainda apresenta folhas verdes que continuam a trabalhar e a fornecer elementos para que a planta se mantenha viva. Entretanto (quem teve essa possibilidade) fez entrar na vinha as ovelhas para fazerem a pré-poda, tirando as folhas ainda verdes que as podem alimentar e deixando estrume que será incorporado na terra. Outros produtores levam também as suas galinhas para esgravatar a terra e, diz-se, os resíduos que deixam no solo são elementos importantes para a adubação do mesmo. Estão também agora a terminar as podas. O assunto é muito sério e tem de ser feito por quem sabe já que esta acção vai condicionar a produção deste e do próximo ano. O que aproveitar e o que cortar, quantos olhos vamos deixar, tudo isso nos vai dizer se vamos permitir que a cepa produza muito ou pouco. O assunto “poda” dá, no mínimo, tese de doutoramento, uma vez que existem muitos modelos e cada um deles tem a sua razão de ser em função do clima, das doenças da vinha, da mecanização e do estilo de vinho que se quer. É também por isso que a profissão de viticólogo tem vindo a ganhar cada vez mais importância, repartindo com o enólogo a responsabilidade de fazer um grande vinho. Resulta por isso algo injusto referirmo-nos apenas ao nome do enólogo como responsável do vinho quando a viticultura tem tanta ou mais importância do que a enologia na qualidade/originalidade do produto final. Diz-se à boca cheia que o vinho se faz na vinha salientando-se, assim, a importância da forma como se tratam as uvas para a qualidade do produto final mas depois, e essa é que é a verdade, são muito poucos os contra-rótulos que indicam o nome do técnico de viticultura. Este é mais um ramo do conhecimento que tem tido enormes desenvolvimentos nas últimas décadas e por isso é cada vez mais verdade que sem boa viticultura dificilmente há bom vinho. É verdade que a enologia actual tem meios para colmatar os problemas de uvas de menor qualidade que possam entrar na adega mas o caminho certo não é esse. Ter de recorrer à “caixinha da saúde” para tornar bebíveis os vinhos que estavam condenados por terem origem em más uvas não é coisa que se deseje. Ao invés, com boas uvas o enólogo pode mesmo ter apenas uma intervenção minimalista, apenas conduzindo, analisando e amparando todo o processo para que dê origem a um bom vinho. Que não restem dúvidas: só com muito boas uvas se pode pensar em fazer vinhos de qualidade. Os vinhos de sonho, os que se tornam míticos e que povoam os nossos sonhos vínicos, esses, não só são raros como são verdadeiras dádivas da Natureza que calharam em sorte a alguns produtores.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores do mercado)
Ilha do Pico Terroir Vulcânico Verdelho branco 2018
Região: Pico (Açores)
Produtor: Coop. Vitivin. da Ilha do Pico
Casta: Verdelho
Enologia: Bernardo Cabral
PVP: €23
Produção de 6806 garrafas. A produção tem vindo a crescer nos últimos anos e a área de vinha no Pico mais que duplicou em 10 anos.
Dica: muito fresco e de perfil salino, é um branco elegante e que dá boa prova desde já. Perfeito para peixes delicados.
Tapada de Coelheiros branco 2017
Região: Alentejo
Produtor: Herdade de Coelheiros
Castas: Arinto e Roupeiro
Enologia: Luis Patrão
PVP: €30
Fermentou em barrica mas o resultado entre as notas da madeira e da fruta está muito bem conseguido.
Dica: o tempo que leva de vida só lhe fez bem, agora está complexo e rico. Não sirva demasiado frio.
Assobio tinto 2018
Região: Douro
Produtor: Murças/Esporão
Casta: Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz
Enologia: José Luis Moreira da Silva/David Baverstock
PVP: €7,50
A quinta dos Murças fica entre a Régua e o Pinhão com grande frente de rio. Tem vinhas com diferentes localizações e idades que chegam aos 70 anos.
Dica: este é o tipo de vinho fácil e gastronómico que é perfeito companheiro para culinária variada. Macio, elegante, directo.
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