E, se recuarmos muito, só paramos na Bíblia Acontece com frequência. Temos tendência a pensar…
Crescer e aparecer?
Sem sofrimento, de preferência…
Costuma dizer-se que o crescimento provoca dores. Isso é visível na adolescência quando se cresce a olhos vistos. Nos vinhos os crescimentos não se querem assim tão rápidos porque podem ser perigosos. Já assistimos em Portugal a arranques e crescimentos que sugeriam grande fôlego mas que depois se revelaram gigantes de pés de barro como foi o caso da Companhia das Quintas que, depois de muitas aquisições, acabou a vender muitos dos anéis e a perder fôlego como parceiro no sector. Há, no entanto, situações e histórias no mundo dos vinhos que nos ensinam que se pode ser grande sendo pequeno. Expliquemo-nos: quando conheci alguns produtores da Alsácia fiquei perplexo com a pequena dimensão dos domaines em termos de área de vinha e a proliferação de vinhos, o que tornava o portefólio gigante mas…sem o ser. Isto aconteceu com o Domaine Paul Blanck, actualmente com “apenas” 35 ha de vinhas mas com 22 tipos diferentes de vinho. As diferenças derivam da localização das parcelas, das castas usadas e dos diferentes tipos de solo onde estão implantadas. Provei todos e foi fácil perceber porque era tão grande o número de referências. É confuso? É, mas parece funcionar. Este modelo é também seguido por muitos outros produtores daquela famosa região. Por cá temos uma ideia diferente: portefólio enxuto, apenas dois ou três patamares de marca – entrada, gama média e topo de gama – com um pouco de sal e pimenta aqui e ali, um varietal, um de ânfora, outro para vegans e por aí fora. Reclamamos (e a crítica também tem culpa nisso…) que um portefólio demasiado alargado não ajuda o consumidor mas a Casa Santos Lima, que é o maior produtor da região de Lisboa com vinhos certificados, contradiz esta tese já que tem mais de 100 marcas diferentes. São rótulos distintos para cada distribuidor e cada país e os vinhos por vezes têm diferenças mínimas entre si mas a verdade e que é um modelo vencedor. Regra, por isso, não há mas o caminho precisa de ser trilhado com muito juízo porque o consumidor é potencialmente muito infiel e se hoje o vinho desiludiu é provável que nunca mais volte a comprar. É também para que haja o mínimo de desilusões na gama de vinhos que são de grande rotação – digamos até €4 por garrafa – que cada vez mais produtores optam (e bem) pela cápsula de rosca em vez da rolha de cortiça. É comumente aceite que, para vinhos de guarda, a rolha é insubstituível mas para os vinhos do quotidiano não traz qualquer vantagem, a não ser a vontade de ajudar o país onde mais rolhas se produzem. E quando se tem um portefólio alargado na tal “gama de entrada” essa é a zona perigosa e algo movediça onde não é suposto perder clientela, onde se pede que cada garrafa seja, de certeza, igual à anterior, onde o consumidor não tenha qualquer dúvida sobre a qualidade do que vai beber. Pode não ser patriótico mas…desde quando é que os negócios são tributários do nacionalismo?
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores do mercado)
Quinta da Extrema branco 2016
Região: Douro
Produtor: Colinas do Douro
Castas: Rabigato e Encruzado
Enologia: Jorge Rosa Santos/Rui Lopes
PVP: €28
A casta rainha do Douro Superior aqui em diálogo com o Encruzado do Dão. Cerca de 50% do vinho fermentou e estagiou em barricas novas de 500 litros, o restante em madeira usada.
Dica: sério, mais vegetal que frutado, elegante e complexo, um belo exemplar duriense.
Vallado Sousão tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Quinta do Vallado
Casta: Sousão
Enologia: Francisco Olazabal/Francisco Ferreira
PVP: €21
A casta também existe nos Verdes com o nome de Vinhão. Gera muita cor nos vinhos e é mais usada em lote com outras variedades. É por isso uma curiosidade.
Dica: bom exemplar para se conhecer a casta. Com a época da lampreia a começar é uma ligação a ter em conta.
Quinta da Falorca Garrafeira tinto 2015
Região: Dão
Produtor: QVE
Castas: castas misturadas em vinhas velhas
Enologia: Carlos Silva/Pedro Figueiredo
PVP: €55
O conceito de Garrafeira voltou, após interregno, a renascer no Dão e são vários os produtores que agora o têm no portefólio. Vinhos clássicos e polidos, de grande classe.
Dica: requer pratos de carne de tempero não muito forte, como borrego ou cabrito no forno.
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