Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
E do frio renasce a vida
As fogueiras nas vinhas são disso prova
Janeiro, frio, chuva, nevoeiro, vento, lama. De tudo é possível encontrar neste mês onde se passam coisas muito sérias nas vinhas. É a partir de agora que se fazem as podas, que se prepara a planta para a próxima vindima e para a seguinte. O assunto é sério, muito sério mesmo. Antes de mais porque olhando para uma vide nesta época só vemos hastes e varas emaranhadas, uma espécie de puzzle que só poucos sabem decifrar. É ali que é preciso decidir o que se corta, o que se deixa e como se deixa. Poda curta, poda longa, para cima, para baixo, adaptada ou não à vindima mecânica, são tudo opções que irão condicionar a quantidade que se vai obter, a exposição dos cachos ao sol e consequente perfil aromático dos vinhos. Se um dia se conseguir ter uma conversa ou ouvir uma palestra de um especialista de viticultura, percebemos rapidamente que o tratamento da vinha é uma ciência. Temos entre nós grandes viticólogos, gente que vive a vinha com paixão. Falar com Rogério de Castro, um académico que terá formado toda a nova geração de enólogos e viticólogos, com Nuno Magalhães, professor em Vila Real ou com António Magalhães que é o responsável de viticultura da Fladgate Partnership (grupo Taylor’s/Fonseca/Croft) é no mínimo fascinante. É então que se percebe, ou se esclarece quem acha que a vinha se faz por si, que as opções possíveis são infindáveis, que a escolha do porta-enxerto é determinante, que a selecção clonal da casta pode levar a resultados muito diferentes, que uma casta que funciona bem em altitude pode ter dificuldades nas zonas baixas, que a forma como se conduz a planta vai ter uma relação directa com o perfil do vinho que se vai obter. É agora a partir de Janeiro que a nova vida recomeça na vinha. As velhas varas podem ter utilidade – desde lenha para fornos ou serem usadas para novas plantas – mas a maioria é queimada na própria vinha. Por isso é tão habitual vermos fogueiras nas vinhas que transmitem para o ar o bom cheiro da lenha a queimar. Queimar é também obrigatório para as cepas que apresentam a doença que mais tem alarmado os produtores. Dá pelo nome de esca, é uma doença do lenho e (imagine-se) é muitas vezes transmitida pela tesoura de poda usada neste período. Uma dor de cabeça. Para o produtor não resta alternativa: arrancar e queimar a planta. A doença está espalhada por todo o país e também noutros países europeus. É apenas uma das moléstias com que a actividade se depara; tem tratamento mas não só é complicadíssimo como é também muito caro. O problema é que não é 100% seguro que as plantas compradas em viveiristas estejam isentas de vírus ou de esca. A vinha está sujeita a inúmeros contratempos e exige atenção “em cima”. Assim se entende melhor que produtores digam que não podem receber visitas porque estão todo o dia na vinha. A verdade toda é que ela exige essa presença, para prevenir, para evitar excessos, para equilibrar. E quando alguém disser que tem intervenção mínima na vinha ou é burro ou inculto. Ela exige atenção, muita atenção.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores do mercado)
Quinta do Monte d’Oiro Vindima de 13 de Outubro branco 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: José Bento dos Santos
Casta: Viognier
Enologia: Graça Gonçalves
PVP: €40
Apenas foram feitas 700 garrafas. A graduação é de 16,5% o que faz dele um branco muito especial, na sequência de outro em tempos editado por este produtor.
Dica: se procura um branco desafiante para ligação com a comida este é o vinho. Pense em peixe, carne ou queijos e vai encontrar uma ligação surpreendente. A beber “a dedal” que a graduação é elevada.
Quinta do Côtto Vinha do Dote tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Montez Champalimaud
Casta: mais de 30 castas nas vinhas velhas
Enologia: Lourenço Charters Monteiro
PVP: €20
As vinhas deste produtor estão situadas entre o Peso da Régua e Mesão Frio. As parcelas mais velhas têm cerca de 90 anos. O vinho, após fermentação em inox, estagiou 12 meses em barrica.
Dica: um bom balanço entre vigor e fruta generosa, tudo equilibrado e a dar boa prova. Beneficia com decantação.
Esporão Reserva tinto 2017
Região: Alentejo
Produtor: Esporão
Castas: Alicante Bouschet, Aragonez, Trincadeira e Cabernet Sauvignon
Enologia: Sandra Alves/David Baverstock
PVP: €19
A primeira edição foi lançada em 1985. Teve 12 meses de estágio em barrica. Deste Reserva fizeram-se 613 000 garrafas.
Dica: um tinto fiável e do qual esperamos sempre notas de fruta madura, num ambiente quente mas muito harmonioso. Absolutamente consensual.
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