Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…
As virtudes do frio
O inverno pode ser um descanso
Com as temperaturas a descer, começamos a mudar os nossos hábitos vínicos. Aproveitamos para escoar os restos de rosés estivais que serão agora consumidos com as castanhas, forma “moderna” de substituir a antiga água-pé que era – apesar da carga familiar, do ambiente de conforto e de lareira que sugeria – uma bebida menor, apenas consumida nesta época do ano. Os brancos estivais que nos sobraram vamos arrumá-los na garrafeira e deixá-los descansar. O mais provável é no próximo verão estarem em muito boa forma, diferentes mas não para pior. Iremo-nos assim juntar ao coro dos que entendem que a ideia peregrina de ter de beber os brancos (nomeadamente os Verdes) no ano imediato à vindima não passa disso mesmo, uma ideia peregrina que actualmente não faz qualquer sentido. Vamos então chamar à primeira linha os brancos com mais volume e estrutura que temos na cave ou, na sequência do que se disse, brancos que sobraram do ano passado e que podem mesmo ter vários anos. Por experiência tenho confirmado que, nomeadamente nos alvarinhos de Monção e Melgaço, o tempo corre por eles bem devagar e, não raramente, provo vinhos com 10 anos que estão cheios de saúde. No caso dos tintos estamos mesmo numa das melhores épocas do ano porque, finalmente, se pode beber tinto à temperatura ambiente. Nas casas mais aquecidas recorre-se ao método infalível de deixar a garrafa algum tempo no parapeito da janela ou na varanda em contacto com a temperatura exterior. Nas zonas costeiras do país onde o frio é moderado é uma prática que resulta muito bem para todos os vinhos, incluindo os tintos. Estamos assim na “saison” em que os tintos mais vigorosos, com mais álcool e com mais anos de vida têm a sua época de glória. Serão perfeitos companheiros para os pratos de inverno, muitos deles baseados em carnes longamente cozinhadas, de molho muito apurado e que, por isso, pedem vinhos encorpados e afinados já pelo tempo. A modalidade do “arrefece na varanda” é também muito usada para os vinhos generosos. Alguns serão mais apreciados se forem servidos mais frios que outros (é o caso o moscatel ou do Porto branco) mas os Madeira, os Porto tawny, os LBV e os Vintages devem sempre ser servidos a uma temperatura mais fresca do que a que temos dentro de casa. Só uma nota que funciona como um lembrete: os vintages devem ser deixados um dia em descanso na posição vertical para que o depósito se concentre no fundo da garrafa. Depois deve ser decantado com cuidado e servido num decantador. Se quiser servir na própria garrafa, recolha o depósito à parte para temperos de carnes estufadas (com perdizes é um verdadeiro achado…), lave bem a garrafa e volte a enchê-la com o vintage. Assim ninguém se esquece do que está a beber. Todos os vinhos previamente provados que o “cheiro a rolha” anda por aí endiabrado.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, correspondem a valores do mercado)
Tiago Cabaço Vinhas Velhas branco 2018
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Tiago Cabaço
Castas: tradicionais da região
Enologia: Tiago Cabaço
PVP: €12
Vinhedos da zona de Estremoz. O portefólio contempla outros vinhos. A produção de vinho tem tradição familiar.
Dica: ambiente de vinho jovem, citrino, elegante e com leve toque de barrica. Poderá ligar bem com peixes nobres ou marisco apenas cozido.
Qta. dos Lagares Vinhas VV 44 tinto 2014
Região: Douro (vale Mendiz)
Produtor: Vitavitis
Castas: vinhas velhas plantadas em 1944, mais de 30 castas diferentes.
Enologia: Luis Leocádio
PVP: €35
Projecto familiar desde 1920. Pisa a pé em lagares. Estágio de 18 meses em carvalho. Apenas é editado em anos especiais. A quinta também produz azeite e Vinho do Porto.
Dica: combinação perfeita entre potência (com fruta madura) e elegância, a mostrar-nos um Douro polido mas com garra.
Quinta da Gandara Touriga Nacional Reserva 2013
Região: Dão
Produtor: Soc. Agr. de Mortágua
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Joana Cunha
PVP: €19,20
A quinta pertence às Caves da Montanha. A casta é emblemática na região, funcionando muito bem quer a solo quer em lote com outras variedades.
Dica: é no Dão que a Touriga ganha a sua maior personalidade, elegante, floral, tenso, cheio de caracter. Fica-se a perceber porque é a casta mais procurada em todo o país.
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