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Assunto não terminado

O protagonismo da Touriga Nacional dá que falar

Estamos a imaginar um vinho do Porto vintage feito de uma só casta? Talvez como experiência, tal como João Nicolau de Almeida fez, creio, em 1983 mas, na verdade, é tema que não colhe muitos adeptos. O Vinho do Porto é tradicionalmente um vinho de lote mas as castas que o compõem têm variado, às vezes mais do que se pensa. Repare-se neste exemplo: até aos anos 80 a Touriga Nacional era completamente residual nos vinhedos do Douro. Dizia-se que era boa (desde o séc. XIX) mas estava mal estudada, produzia pouco, era muito atreita a doenças. Depois foi recuperada e virou a estrela da companhia. Hoje está (e bem) muito presente nos grandes vinhos do Porto. Mas fica uma questão por esclarecer: se antigamente quase não havia e hoje há muita, será que os vinhos continuam a expressar o terroir do Douro, será que temos vintages tão bons como dantes? Sabemos que antigamente havia muito mais Tinta Roriz do que hoje, havia muito mais Tinta Barroca, não havia tanto interesse no Sousão. Estamos assim a baralhar os dados, sobretudo nas (relativamente) novas vinhas plantadas nos anos 90, já por talhão e por casta e que se afastam do modelo das vinhas velhas onde tudo se misturava. É verdade que muitos vintages de hoje continuam a ser produzidos a partir de uvas de vinhas velhas e esse é um assunto à parte; à medida que as vinhas velhas vão morrendo ou se tornam economicamente inviáveis, os produtores têm optado por plantar as parcelas por casta. Aí vai acontecer o que acima enunciei: muito mais Touriga Nacional, muito menos Barroca, esperando-se que o produto final continue fiel ao que era. Sobre o tema não tenho muitas dúvidas: estamos agora a produzir os melhores vintages de sempre, nunca se soube tanto de viticultura e enologia, nunca houve tanta higiene nas adegas, nunca a aguardente foi tão boa. E mesmo as empresas que continuam a ter contratos com lavradores têm um muito maior controlo sobre as uvas que depois chegam à adega. É que antes, digamos até aos anos 80, o normal era o produtor ir a Gaia, em Janeiro, levar uma amostra do vinho que tinha feito, esperando que os exportadores o comprassem. Esse mundo acabou quando as empresas perceberam que tinham de ser elas a vinificar e, por via disso, controlar todo o ciclo vegetativo e a vindima. Por isso, gente que sabe do que fala – viticultores e enólogos – tornaram-se elementos preciosos até para os tais agricultores que, eles próprios, produzem agora melhores uvas. Nada disto altera a verdade mais absoluta no que respeita às castas do Douro: ali é o reino da Touriga Franca, rainha absoluta, a que mais adaptada está a todas as desgraças climáticas que possam acontecer. O casamento entre as duas tourigas tem-se revelado de grande valia e está para durar. E casamentos para durar é coisa cada vez mais difícil. No Douro o terroir deixa a sua marca e, com mais ou menos Touriga Nacional, é sempre o Douro que nos chega ao copo.

Sugestões da semana:
(Os preços dizem respeito à Garrafeira Empor, em Lisboa)

Quinta dos Roques Cerceal-Branco branco 2017
Região: Dão
Produtor: Quinta dos Roques
Casta: Cerceal-Branco
Enologia: Rui Reguinga
PVP: €33,50
A casta está na região mas é menos conhecida do consumidor, sendo usada mais em lote do que para vinho varietal. É casta muito completa de aroma e sabor.
Dica: grande harmonia, já no seu melhor momento, acidez perfeita, tudo a mostrar grande aptidão gastronómica.

Tyto Alba Vinhas Protegidas tinto 2015
Região: DOC do Tejo
Produtor: Companhia das Lezírias
Casta: Merlot
Enologia: Bernardo Cabral
PVP: €9,90
O nome identifica a coruja das torres que por ali ajuda ao equilíbrio ecológico e preservação ambiental.
Dica: médio corpo, boas notas apimentadas, um tinto absolutamente consensual. Todos gostam.

Giz Vinhas Velhas tinto 2016
Região: Bairrada
Produtor: Luis Gomes
Casta: Baga
Enologia: Luis Gomes
PVP: €23,55
Feito em lagar, estágio de 20 meses em barrica. Produzidas 3200 garrafas. Um Bairrada de tipo novo, com pouca maceração e pouca cor.
Dica: tinto elegante, aberto, fiel à casta, sem taninos complicados, tudo muito acessível para prova desde já. De clássico não tem nada mas está muito bem.

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