Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Até onde chegarão os tintos portugueses?
Onde se fala de preços e de nuestros hermanos
Uma visita a uma garrafeira que tenha grande oferta de tintos portugueses – e existem algumas em várias cidades do país – permite perceber que muitos dos nossos tintos estão em patamares de preços nunca vistos. Alguns deles já ultrapassaram os €200 por garrafa e o icónico Barca Velha já custa, à data da escrita deste texto (4 dias…) a bonita quantia de €599. Digo à data porque a diferença entre a procura (sobretudo de brasileiros e angolanos) e a oferta (escassa, que a mais recente colheita já é de 2008), faz com que os preços se alterem de um momento para o outro. Este é verdadeiramente um tema complicado porque, se por lado não há qualquer razão técnica que justifique um preço tão elevado, por outro, é o mercado a funcionar no binómio oferta/procura. Há depois aqui uma grande injustiça em relação a outros vinhos, nomeadamente o Vinho do Porto. Repare-se: um tawny 40 anos (idade média do vinho mas que por norma incorpora vinhos mais velhos) pode custar entre 120 e 180€, o mesmo preço que se pagará por um Pêra-Manca, um Qta. do Crasto Vinha Maria Teresa ou um Reserva Especial Ferreirinha, vinhos que têm 3 ou 4 anos (9 no caso do RE Ferreirinha). O que parece certo é que há muito mais consumidores a darem por bem empregues os euros naqueles tintos em vez do Porto. Repito: injustiça e das grandes! Sempre defendi que o país (e o Douro em particular) só serão uma referência internacional se os seus melhores vinhos forem caros, cobiçados e disputados. É isso que acontece com os grandes Bordéus e Borgonha, os grandes italianos e espanhóis. Em relação aos nossos vizinhos aconselho uma pequena visita ao site de venda on-line da Vila Viniteca, sediada em Barcelona, garrafeira que é uma referência absoluta dos grandes vinhos lá da terra. Pois o que verificamos é que estão disponíveis tintos espanhóis a preços quase inacreditáveis. Repare-se: são 286 referências entre 55 e 100 euros, 84 entre 110 e 165 euros, 65 entre 165 e 220 euros e 18 entre 220 e 275 euros. Acima daquele valor estão sobretudo os grandes formatos – em alguns casos até garrafas de 27 litros (!) – mas também algumas em formato normal, com algumas das mais icónicas a custarem mais de €1000. Em prova recente de mais de 60 vinhos tintos do Douro (e em que não estavam alguns dos mais caros) encontrei 40 que tinham um preço igual ou superior a €30. Este painel de prova, se comparado com um idêntico há 10 anos (aqui cito de memória), muito provavelmente encontraríamos apenas 10 ou 15 vinhos acima dos €30. A ver pelo que se passa nas regiões muito famosas, como a Borgonha, pode acontecer o desfecho mais triste e desagradável, até para o produtor: os vinhos deixam de ser comprados para serem consumidos mas apenas como fonte de investimento, compra agora a 30 e vende a 50, compra a 100 e vende a 300. Por cá talvez se passe ainda e só com os tais mais caros acima de €200 mas é um risco que se corre. A par disto (notícia com um mês) o vinho a granel e Bordéus (considerando um tonel de 900 litros) está a ser transaccionado (com dificuldade) a €800, ou seja, a menos de um euro o litro. Estranho mundo este…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Reserva rosé 2018
Região: Douro
Produtor: Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo
Castas: Tinta Roriz e Tinta Francisca
Enologia: Jorge Alves
PVP: €19,40
Tem origem em vinhas com mais de 35 anos. Estagia na cuba de fermentação durante 4 meses e depois em barricas já usadas.
Dica: inspirado nos rosés da Provence, um vinho delicado e fino. Um dos melhores rosés do país.
Casa d’Arrochella Reserva tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Casa d’Arrochella
Castas: lote de castas das vinhas velhas
Enologia: Luis Soares Duarte
PVP: €14
As vinhas estão no Douro Superior, são várias quintas que perfazem 78 ha. O vinho estagiou 12 meses em barrica.
Dica: guloso e muito aromático, temos vinho para prazeres imediatos, rico, polido e de atracção imediata.
Dona Maria Amantis Reserva tinto 2014
Região: Alentejo
Produtor: Júlio Bastos
Castas: Cabernet Sauvignon, Syrah, Petit Verdot e Touriga Nacional
Enologia: Sandra Gonçalves
PVP: €15
Vinhas na zona de Estremoz. A marca Dona Maria inclui a maioria dos vinhos aqui produzidos, muito deles feitos com pisa a pé em lagares de mármore.
Dica: curioso o diálogo entre as várias castas, resultando complexo mas elegante e muito gastronómico. Muito bem na relação preço/prazer.
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