E, se recuarmos muito, só paramos na Bíblia Acontece com frequência. Temos tendência a pensar…
Trabalhos em várias frentes
Mesmo em altura de vindima…
Com a vindima a correr à força toda e com boas perspectivas quanto aos resultados da mesma, poder-se-ia pensar que os produtores e enólogos teriam de fazer da vindima a actividade quotidiana principal, de tal forma é preciso ir tomando decisões quase ao minuto, assegurando que tudo corre sem sobressaltos. No entanto, por estranho que possa parecer, mesmo em altura tão complicada somos convocados para apresentações de novos vinhos. Estes eventos têm vindo a ganhar cada vez maior dimensão e frequência. Lembro-me que tudo começou nos anos 90 e creio não estar enganado se disser que foi Luis Pato o primeiro produtor a convocar a imprensa para apresentar os seus vinhos, uma prática então vulgar em Londres mas desconhecida entre nós. Dezembro era a altura escolhida e lá íamos ao Porto de Santa Maria ou ao Chester para conhecer as novidades. Era um acontecimento. Como wine writers eram poucos, Luis convidava jornalistas da rádio e da TV para ter quorum e para divulgar os seus vinhos em várias frentes. A moda pegou e, em vez de um, começámos a ter vários eventos em Dezembro. Depois, como o ano tem mais meses, passaram a ser quase semanais as apresentações, todo o ano e agora até na vindima. Foi o caso recente da apresentação das novas edições da Madeira Wine Company, da Quinta do Vesúvio e do Esporão. Na Madeira provámos também um vinho desenhado para comemorar os 600 anos da descoberta da ilha, raro e moderadamente caro; além dele estiveram em prova as novas edições de alguns Madeira Colheita (com indicação da casta no rótulo) e também de alguns frasqueira, vinhos que têm de cumprir pelo menos 20 anos de estágio em casco e mais 2 anos em garrafa antes de serem comercializados. São a essência dos Madeira, vinhos forçosamente (e justificadamente) caros. Da herdade do Esporão vieram as novas edições do Private Selection em branco e tinto, vinhos muito aprimorados e que representam o topo da pirâmide da casa. A empresa tem todas as propriedades em modo de agricultura biológica e um portefólio muito alargado onde já cabem também os vinhos de talha. O Vesúvio é uma quinta, no Douro Superior, que pertenceu aos herdeiros de Dona Antónia Ferreira e que em 1989 foi adquirida pela família Symington, num processo alucinante que exigiu a assinatura, no acto da venda, de todos os 50 herdeiros. De então para cá foram feitos melhoramentos na casa e nas vinhas, agora muito alargadas a algumas castas, na altura residuais. Como nos informaram, em 1989 havia pouco mais de mil pés de Touriga Nacional e agora já lá estão mais de 100 000. Há castas a sair e outras a entrar, num trabalho notável de recuperação da vinha. É a única quinta da empresa onde todo o vinho é feito a lagar com pisa a pé. Mudanças na adega desde o tempo de Dona Antónia? Só a electricidade! Mesmo com o “peso” da vindima houve tempo para mostrar as novidades. E a saga vai continuar…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Esporão Private Selection branco 2017
Região: Alentejo
Produtor: Esporão
Casta: Sémillon
Enologia: Sandra Alves/David Baverstock
PVP: €20
Tem origem em vinha com 20 anos de agricultura biológica. A casta é francesa. A fermentação decorre em barricas novas de 550 litros.
Dica: um branco cheio e com muita personalidade, a beber e provar com atenção. Clássico branco de meia estação.
Quinta do Vesúvio tinto 2017
Região: Douro
Produtor: Symington Family Estates
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela
Enologia: Pedro Correia, Charles Symington
PVP: €50
Em cada colheita este tinto tem vindo a adquirir mas finura e grande equilíbrio entre fruta e madeira. A nova edição é notável.
Dica: perigosamente apetecível desde já, um tinto que não virará a cara à cave.
Blandy’s Malmsey Frasqueira 1981
Região: Madeira
Produtor: Madeira Wine Company
Castas: Malvasia (Malmsey)
Enologia: Francisco Albuquerque
PVP: €315
Teve 37 anos de casco; os frasqueira representam a perfeição do Madeira, um vinho eterno, para beber lentamente e durante muito tempo. Por isso não é caro.
Dica: tem tudo o que é suposto, iodo, salinidade, ranço, frutos secos, melaço, tudo com uma acidez fantástica a sustentar o conjunto. Daqueles que não se esquecem.
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