Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…
Estamos na época das facturas
Das opções tomadas chega a hora do pagamento
Quando estamos em vindima, quando os carros entram na adega com as uvas, quando elas são espalhadas nos tapetes de escolha, quando se vê o que se vindimou percebe-se que se está a colher o que se semeou. Expliquemo-nos: todos sabemos que a cultura da vinha, como outras culturas frutícolas, é uma empresa a céu aberto, sujeita a todo o tipo de contrariedades climáticas. Não convém exagerar quanto às perturbações que agora assistimos porque, dessas, sempre houve. O que é alarmante nos tempos que correm é a frequência com que os azares batem à porta do lavrador, como se fosse cada vez mais difícil ter um ano “normal”, conceito que, não falta muito, ninguém saberá definir. Mas voltemos ao tapete de escolha. Este ano correu até com bastante normalidade, sem ataques significativos de granizadas ou doenças da vinha e, até agora pelo menos, sem chuva na vindima que estrague as uvas. A falta da chuva, que foi dramática neste ano vitícola, está a reflectir-se no tapete de escolha, uma vez que a quantidade entrada é muito pequena. Esta é a primeira factura: quem tem rega pôde socorrer a planta na aflição da falta de água no solo e assegurar uma produção boa; quem tem vinhas de sequeiro ou não rega por opção verá a sua produção baixar, nalguns casos que já nos informaram, com quebras que chegam aos 50%. Não sendo possível para a maioria dos produtores aumentar significativamente o preço final do vinho em virtude da pouca quantidade (o que teria alguma lógica), fica a questão por responder: não regar porquê, se o consumidor não valoriza esse esforço extra? Compensará ter quebras de 50% porque “sou contra a rega” ou “a vinha tem de sofrer para dar bons vinhos”, quando no final não sobra dinheiro para pagar as contas? Em anos como este, em que alguns se queixam desta baixa de produção, percebe-se também que a vinha não pode ser deixada sem amparo; nos terrenos muito pobres, sem matéria orgânica capaz, sem humidade no solo e com calor estival, o que é que se poderá esperar? Uvas raquíticas, alguma passa à mistura que irá fazer disparar a graduação e, provavelmente, mostos desequilibrados. Nada de muito entusiasmante. Mas no tapete aparecerão também as uvas que corresponderão às opções do produtor; uns trarão para ali uvas maduras que são escolhidas meticulosamente, outros ali colocarão uvas que ainda não estão totalmente maduras para assegurar que o produto final tenha apenas 11º de álcool, indo assim ao encontro da moda actual do “sem álcool é que se faz bom vinho”, uma tendência sem grande sentido que se espera que dure o mesmo tempo de anteriores modas. É que (óbvio, não?) com uvas imaturas não se faz vinho que expresse o local de onde vêm as uvas – o Graal de qualquer produtor – e acabamos por fazer vinhos que são iguais do Minho ao Algarve. É isso mesmo, no tapete vai pagar-se a factura do que de bom e mau se andou a fazer às uvas. Coitada da vinha…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Volte-Face Private Selection branco 2018
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Wines of Change
Casta: Antão Vaz
Enologia: Teresa Dias
PVP: €10
Branco varietal de Antão Vaz, a mostrar uma grande consistência de qualidade ano após ano. Boas garantias para o consumidor.
Dica: o branco tem volume e estrutura mas uma belíssima acidez que dá vida ao conjunto. À mesa será um sucesso, com peixes nobres ao sal, por exemplo.
Phenomena rosé 2018
Região: Reg. Duriense
Produtor: Quanta Terra
Casta: Pinot Noir
Enologia: Celso Pereira e Jorge Alves
PVP: €25
Origem na zona de Alijó. Cerca de 2/3 com estágio em barricas novas e usadas. Graduação moderada (11,5%) e produção de 2000 garrafas.
Dica: um belíssimo rosé, com muita complexidade e que ligará com tártaro de atum ou ostras ao natural. Seco, elegante, delicado.
Espumante Raposeira Peerless Super Reserva Bruto branco 2013
Região: s/ D.O.
Produtor: Raposeira
Castas: Viosinho (75%) e Pinot Blanc
Enologia: Orlando Lourenço/Marta Lourenço
PVP: €7
A casta francesa (bem conhecida na Alsácia) entra também em outros espumantes, nomeadamente da Murganheira.
Dica: grande equilíbrio de conjunto, muito pouco açúcar residual, perfeito para peixes delicados.
This Post Has 0 Comments