E, se recuarmos muito, só paramos na Bíblia Acontece com frequência. Temos tendência a pensar…
Eles têm um segredo
E porque será que não queremos aprender?
Não há pessoa com quem fale sobre o serviço e preços de vinhos na restauração em Espanha que não fique irritada com o tema. E não é para menos. O assunto põe-se muito facilmente em cima da mesa: num restaurante espanhol, independentemente da categoria do mesmo, verificamos que o preço dos vinhos é muito mais convidativo do que na esmagadora maioria dos restaurantes portugueses. O preço francamente mais baixo estende-se também ao vinho a copo que, por lá, apresenta valores de pechincha. Para fechar o ciclo da incompreensão, o serviço de copos melhorou francamente e hoje já se encontra com muita frequência copos de muito bom nível em qualquer casa, por modesta que seja. Desçamos à terra: encontrei recentemente numa pequena visita à Galiza vários restaurantes com vinhos de Denominação de Origem Ribera del Duero, Bierzo, Ribeira Sacra e Rioja a €2 o copo e num restaurante que se diria candidato à estela Michelin (que ainda não tem) – Eirado de Leña, em Pontevedra – vinhos destas regiões a €3 o copo, servidos à temperatura correcta e copos de muito boa qualidade; a carta de vinhos, muito bem recheada de vinhos espanhóis onde pontificavam as marcas que qualquer enófilo conhece, apresentava a maioria dos preços entre os 30 e 40 euros. Optei por 4 vinhos a copo (para duas pessoas) a acompanhar um menu de 10 momentos e paguei, pelo vinho, a exorbitância de €12!!! Esta situação tende a repetir-se em qualquer local onde se vá e, por isso, a irritação é constante. Ficam imensas perguntas no ar, algumas respondidas, outras não. É verdade que os espanhóis bebem muito mais cerveja que vinho e por isso, na escala do consumo per capita, a Espanha está para lá do 10º lugar e, assim, servir vinho a preço mais conveniente pode ser uma estratégia para atrair novos consumidores. Mas isso não chega. Se perguntarmos a alguém da nossa restauração porque é que não serve vinho a copo a dois euros ouvimos um rol de razões, quase todas sem sentido. E se a conversa se estender ao preço das garrafas então entramos no domínio da quase pornografia vínica, com vinhos a verem o preço de custo multiplicados por sete ou oito. Um exemplo é o tal vinho que se compra nas grandes superfícies a €3 e que encontramos nas cartas de vinhos a €20 ou mais. As razões são as mais variadas, desde “se não ganharmos no vinho não é no bife que vamos facturar” até um empurrar de culpas para terceiros: ou são os distribuidores os culpados, ou são os produtores, enfim, culpados não faltam…excepto o restaurador, naturalmente. Ficamos assim na dúvida como conseguem eles aquilo que cá ninguém consegue. Tem de haver um segredo, há no vinho espanhol um qualquer mistério que nos está a escapar. Será que todos os nossos restauradores andam enganados e eles descobriram a razão? Não será mesmo verdade que com preços baixos se roda muito mais o vinho? Ele há mistérios e se calhar bruxedos também. Até no vinho…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Quinta dos Murças Reserva tinto 2015
Região: Douro
Produtor: Esporão
Castas: seis castas da região
Enologia: José Luis Moreira da Silva/David Baverstock
PVP: €25
Vinha com orientação oeste e cerca de 40 anos de idade. Pisa a pé em lagares de granito e estágio de 12 meses em barricas usadas.
Dica: um tinto de grande personalidade, firme na fruta e nos taninos mas generoso no corpo e na textura. Sedução imediata.
Casa Américo branco 2018
Região: Dão
Produtor: Casa Américo
Castas: Bical, Cerceal-branco e Encruzado
Enologia: Lúcia Freitas
PVP: €5,50
Esta empresa, relativamente recente no mercado, tem já um conjunto de vinhos de grande nível, usando também a marca CAV.
Dica: este é um branco consensual, muito bem proporcionado e de que todos irão gostar. Claro, com acidez perfeita, o que é normal na região.
QM rosé 2018
Região: Vinho Verde
Produtor: Quintas de Melgaço
Castas: Alvarinho e Vinhão
Enologia: Élio Barreiros
PVP: €9,98
A empresa reúne 530 pequenos produtores. O rosé fermenta em inox com posterior estágio de três meses nas cubas com removimento de borras. Excelente apresentação.
Dica: um bom motivo para festejar o Verão e o começo das vindimas.
This Post Has 0 Comments